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Variável indica qualidade

Os analistas costumam acompanhar o resultado do déficit em transações correntes para avaliar se as contas externas de um país são sustentáveis. Nesse item entram o saldo da balança comercial e da conta de serviços. Se um país importa muito e paga por serviços no exterior – como passagens aéreas, transporte marítimo e serviços de tecnologia – cria um déficit que precisa ser coberto por outra fonte de dólares para que o balanço de pagamentos não fique no vermelho.

Normalmente, economias com bom desempenho, como o Brasil neste ano, cobrem esse déficit com recursos de investidores que apostam no seu crescimento. Parte das aplicações vai para a compra e construção de fábricas (direto) e outra parte para formação de carteiras (ações, títulos). No longo prazo, déficits cobertos pela segunda fonte são menos sustentáveis, porque o capital pode sair com rapidez.

Da Redação

Como bem lembrado pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), a comparação do déficit nas contas de transações correntes deve ser feita como proporção do PIB. Nessa ótica, tivemos situações piores, como em 1982 e 1999, ambos períodos de crises cambiais.Seguindo o economista do BC, o déficit reflete o elevado desempenho da economia brasileira com impactos significativos no nível de importações. No entanto, de acordo com essa linha de raciocínio, deveríamos ter apresentado um significativo superávit nas contas externas no primeiro trimestre de 2009, e não um déficit de US$ 4,93 bilhões, pois aquele foi um período em que a economia apresentou um crescimento negativo.

Adicionalmente, não há menção de que na história recente da economia brasileira o país tenha apresentado um bom desempenho econômico com superávit em conta corrente. Em outras palavras, não há, necessariamente, uma relação entre crescimento econômico e déficit em conta corrente. Outro ponto relevante é que, inegavelmente, os dados mostram que o país entrou novamente em uma rota de crescimento com poupança externa – mas a principal variável que nos levou a essa rota é a apreciação cambial, e não o crescimento da economia.

A ideia por traz da importância da taxa de câmbio e do déficit em transações correntes sobre o desempenho econômico é relativamente simples: quanto maior a apreciação da taxa de câmbio, menor é o valor das exportações e maior o das importações. Isso significa uma elevação no déficit em transações correntes, com conseqüente elevação da dívida externa. O aumento da dívida externa, após um determinado nível, leva a crises cambiais, prejudicando o crescimento econômico.

Não podemos insistir no mesmo erro do passado recente, de crescimento com poupança externa, pois essa estratégia já se mostrou insuficiente para levar à rota do crescimento sustentável. Muito pelo contrário, o destino já é bem conhecido: crises cambiais com fraco desempenho econômico. Adicionalmente, a depreciação da taxa de câmbio é fundamental para reverter esse processo.

* Doutor em economia, professor adjunto do Departamento de Economia da UFPR e pesquisador do CNPQ.

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