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Mantega diz que não há cotação de referência para “disparar” compras do FSB | Nacho Doce/Reuters
Mantega diz que não há cotação de referência para “disparar” compras do FSB| Foto: Nacho Doce/Reuters

Mercado cambial

Fundo está "prontinho" para comprar, diz Mantega

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o Fundo Soberano do Brasil (FSB) está "prontinho" para comprar dólares, mas não quis antecipar quando a operação será iniciada. "O Fundo Soberano está habilitado a entrar em leilões de compra de dólares, se for necessário. Ele está pronto, temos que avaliar as condições, mas ele não começou a atuar ainda. Está prontinho para atuar", disse Mantega. O ministro disse que não há referência de cotação da moeda para a operação. "Não há referência nenhuma. O dólar é flutuante e depende da valorização, desvalorização, de uma série de fatores." Desde sexta-feira, o FSB está liberado para comprar dólares no mercado à vista, por intermédio do Banco do Brasil (BB). Segundo técnicos do ministério da Fazenda, a opção de usar o Fundo Soberano no mercado de câmbio dará ao governo mais poder de fogo para segurar o dólar, porque, ao contrário das intervenções do Banco Central, o Fundo atuará de maneira menos previsível – ele simplesmente dará uma ordem ao BB para que vá ao mercado, a qualquer hora do dia.

Despesa de viagem também é recorde

Os gastos de turistas brasileiros no exterior já superam US$ 1 bilhão no acumulado do mês de setembro, segundo dados do Banco Central. Faltam US$ 130 milhões para superar o recorde para meses de setembro desde 1947. Como os gastos de turistas estrangeiros no Brasil são bem menores que os dos brasileiros lá fora, o déficit do país com viagens já soma US$ 719 milhões neste mês. Faltando mais de uma semana para que ele acabe, o saldo negativo das viagens já é maior que o verificado em todos outros meses de setembro da série iniciada em 1947.

No mês passado, o gasto dos brasileiros em outros países somou US$ 1,3 bilhão, recorde para meses de agosto, o que, descontando-se as despesas de estrangeiros aqui, gerou um déficit de US$ 813 milhões, também recorde. Em termos de gastos no exterior, o maior resultado da série histórica continua sendo o de julho deste ano, quando essas despesas somaram US$ 1,5 bilhão.

Impacto

Os gastos com turismo estão entre as principais causas do aumento no déficit das transações do Brasil com o exterior, que deve bater recorde neste e no próximo ano. Isso porque os gastos de turistas estrangeiros no Brasil continuam estáveis.

Nos oito primeiros meses do ano, os brasileiros gastaram lá fora US$ 6 bilhões a mais do que os estrangeiros trouxeram para o país, o maior déficit desde 1947. O número é a diferença entre gastos de US$ 9,9 bilhões e uma receita com turistas estrangeiros de US$ 3,9 bilhões. O resultado levou o BC a aumentar a previsão desse déficit de US$ 8 bilhões para US$ 10 bilhões neste ano. Para 2011, é esperado novo recorde, com um resultado negativo de US$ 11,5 bilhões.

Câmbio pode ser pressionado em 2011

O alargamento do déficit em conta corrente no próximo ano pode pressionar a moeda brasileira. Os riscos ao financiamento das contas externas são a supervalorização do real e a elevação do risco-país em reação à ampliação do déficit em conta corrente.

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  • Veja como está o rombo brasileiro em suas transações com o exterior em 2010

O déficit nas transações do Brasil com o exterior bateu novo recorde em valores nominais e alcançou o maior patamar na comparação do Produto Interno Bruto (PIB) desde o fim do governo FHC. De acordo com o Banco Central, no mês passado o resultado das chamadas "transações correntes" – contabilidade do dinheiro que entra e sai do país em forma de mercadorias e serviços – ficou negativo em US$ 2,86 bilhões, o maior valor para meses de agosto da série iniciada em 1947. No acumulado em 12 meses, o saldo negativo atingiu a marca de 2,32% do PIB, pior nível desde setembro de 2002 (2,57%).

A projeção do BC para setembro é de um déficit ainda maior, de aproximadamente US$ 3,8 bi­­lhões. Mas, em entrevista coletiva, o chefe do Departamento Econô­mico da instituição, Altamir Lopes, disse que o crescimento do déficit em conta corrente é "gradual" e não tem trajetória explosiva. Segundo ele, esse movimento está relacionado, principalmente, à expansão da economia brasileira em um ritmo mais acelerado do que o de outros países.

Esse descompasso no crescimento tem reflexos claros, por exemplo, na balança comercial. Com o consumo em alta no Brasil, as importações disparam; com a demanda reprimida lá fora, as exportações do país crescem em ritmo mais lento.

Em linha com a avaliação do BC, o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, afirmou que, por uma conjunção de fatores domésticos e externos, o incremento do déficit da conta corrente não preocupa. Ele lembrou que o Brasil possui grau de investimento e conquistou uma boa reputação de gestão macroeconômica e estabilidade política, o que estimula o ingresso de várias modalidades de recursos para "financiar" esse déficit.

Mais vermelho

Até o fim de 2007, os elevados superávits da balança comercial brasileira garantiam ao país um saldo positivo nas transações correntes (veja quadro nesta página). Entretanto, o constante aumento das importações, das remessas de lucros e dividendos e dos gastos com serviços – transportes, aluguel de equipamentos, turismo no exterior e outros – levou o resultado para o lado negativo a partir de 2008.

E os números tendem a ficar ainda mais "vermelhos" nos próximos tempos. Segundo projeção do BC, o país deve fechar o ano com déficit de US$ 49 bilhões, o equivalente a 2,49% do PIB, mais que o dobro do verificado em 2009 (US$ 24,3 bilhões, ou 1,54% do PIB). Em 2011, o buraco deve ser ainda maior, de US$ 60 bilhões, ou 2,78% do PIB, segundo a primeira previsão da instituição para o próximo ano, divulgada ontem.

Financiamento

Saldos negativos nas contas correntes precisam ser "cobertos" de alguma forma. Geralmente, são compensados pela entrada de dólares em investimento estrangeiro direto (IED) – aportes em estruturas pro­­dutivas e na aquisição de participações em empresas – ou pelo ingresso de dólares no mercado financeiro. Estes últimos são mais "voláteis", ou seja, têm perfil de curto prazo e podem deixar o país rapidamente em caso de crise.

A boa notícia das projeções divulgadas ontem pelo BC está justamente na questão dos investimentos diretos. Em 2010 eles devem somar US$ 30 bilhões e cobrir apenas 61% do déficit em conta corrente, mas, no ano que vem, tal proporção tende a subir a 75%, com investimentos de US$ 45 bilhões, segundo o BC. Isso significa que uma parte maior do déficit brasileiro será financiada por investimentos com perfil de longo prazo, menos voláteis.

Investimentos

A expectativa de investimentos diretos no Brasil em 2010 já foi melhor. Até ontem, a expectativa do BC era que eles atingissem US$ 38 bilhões; agora, a instituição espera US$ 8 bilhões a menos. Lopes atribui a queda à decisão de algumas empresas estrangeiras de postergar investimentos no Brasil. "Embora nós tivéssemos anúncios importantes de investimentos, alguns foram postergados porque dependem da dinâmica da economia mundial, que apresenta crescimento inferior ao previsto inicialmente", explicou.

Metalurgia, automotivo e petróleo e gás estão entre os setores que mais postergaram os investimentos produtivos no Brasil, disse Lopes. Segundo ele, a recuperação da economia mundial e grandes eventos no Brasil como a exploração do pré-sal, Copa do Mundo e Olimpíada deverão acelerar em breve o ingresso de IED ao Brasil.

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