Remessa de lucros e dividendos e gastos com viagens estão entre os motivos que influenciaram a saída de dólares do país| Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo

Insatisfação

Déficit na indústria é motivado por burocracia, afirma pesquisa

O excesso de burocracia é um dos fatores que contribuíram para o déficit comercial da indústria brasileira em 2013, de US$ 105 bilhões. Em pesquisa inédita realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 83% dos empresários disseram ter problemas para exportar e 79% afirmaram que não conseguem melhorar as vendas devido a entraves burocráticos tributários, alfandegários e de movimentação de cargas. Além dos custos elevados e da demora na liberação da mercadoria para o exterior, são exigidos até 26 tipos de documentos no processo exportador por mar e 15 por via terrestre. O saldo da balança comercial no ano passado foi o menor em 13 anos.

A pesquisa mostra ainda que o percentual de insatisfeitos com a burocracia aumenta de acordo com a participação das exportações no faturamento, alcançando 88,7% no caso das empresas cujas vendas no exterior respondem por mais de 50% das receitas totais. Nos setores de informática e de couros e artefatos, todas as firmas afirmaram que algum processo alfandegário/aduaneiro afeta negativamente as exportações.

Conforme a CNI, no Brasil, os gastos com burocracia chegam a US$ 2.200 por contêiner. A média nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) — formada, em sua maior parte, por países desenvolvidos — é de US$ 1 mil. Os exportadores se queixam, principalmente, dos chamados órgãos anuentes e das taxas aduaneiras e alfandegárias, que encarecem os custos de exportação

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As contas externas brasileiras tiveram um rombo recorde de US$ 81,4 bilhões em 2013. De acordo com os dados do Banco Central (BC), divulgados ontem, o déficit de todas as trocas de serviços e do comércio do Brasil com o mundo cresceu 50% apenas no ano passado. Além disso, extrapolou a projeção do BC que era encerrar o ano no vermelho em US$ 79 bilhões. Para 2014, é projetado um déficit de US$ 78 bilhões em transações correntes, equivalente a 3,53% do Produto Interno Bruto (PIB).

Na comparação com o tamanho da economia, o rombo das contas externas passou de 2,41% do PIB, em 2012, para 3,66% no ano passado. Dentre os principais motivos que influenciam a saída de dólares do país estão a remessa de lucros e dividendos e gastos com viagens. Essa despesa também bateu recorde: mesmo com a desvalorização média de 10,5% do real frente ao dólar, os brasileiros levaram para outros países US$ 25,3 bilhões em 2013, contra US$ 22,2 bilhões gastos em 2012. Na outra ponta, as despesas de turistas estrangeiros no Brasil permaneceram praticamente estáveis. Em 2012, eles deixaram aqui US$ 6,64 bilhões e, no ano seguinte, US$ 6,71 bilhões.

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Os recursos que entram no Brasil para aumentar a capacidade de produção das fábricas ficaram pouco acima da projeção do BC e fecharam o ano em US$ 64 bilhões. Isso representa redução de 1,9% comparativamente ao resultado do ano anterior. Já o mercado financeiro recebeu US$ 34,7 bilhões em 2013 em investimentos estrangeiros em carteira. No ano anterior, foram US$ 16,5 bilhões.

"O déficit foi causado fundamentalmente pelo menor superávit comercial no ano. Para 2014, deve ocorrer uma redução do déficit, num cenário de maior crescimento da economia mundial e com câmbio mais depreciado, o que deve contribuir para aumentar a demanda externa e o crescimento da economia", justificou Fernando Rocha, chefe-adjunto do Departamento Econômico.

Questionado se a situação da Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, não seria um complicador para o desempenho comercial este ano, Rocha admitiu que pode haver impacto. "A Argentina é importante destino das nossas exportações. O BC acompanha com atenção os desdobramentos na Argentina", disse.