Obra de reforma do estádio do Maracanã, que esteve sob responsabilidade da Delta| Foto: Christophe Simon / AFP

"Em razão de notícias desta natureza que estão sendo veiculadas, várias administrações públicas estão deixando de honrar os pagamentos de obras já executadas."

Trecho de comunicado da Delta Construção, informando sobre o processo de recuperação judicial.

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Problemas

Empreiteira perdeu 30% da receita em um mês

Sob ameaça de ser declarada inidônea, a Delta Construções tem tido problemas de caixa. A informação é de técnicos da J&F Holding, grupo que, após assumir o controle da empreiteira, desistiu na última semana de adquiri-la. No último mês, houve queda de mais de 30% no fluxo de faturamento da empresa, o que tem dificultado o pagamento a funcionários e a compra de insumos. No período, a Delta Construções deixou os consórcios para reforma do Estádio do Maracanã e construção do corredor de transporte Transcarioca, além de ter dispensado 800 funcionários após a Petrobras ter rescindido contrato em obras de parte do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). As prefeituras de Duque de Caxias e São Gonçalo, ambas no Rio de Janeiro, são apontadas como devedoras da empreiteira. As assessorias de imprensa dos municípios não foram encontradas para comentar a questão. A perspectiva de prejuízo nos negócios futuros da construtora, sobretudo em virtude da perda de credibilidade, pesou na decisão da J&F Holding de não comprar a empreiteira.

A Delta Construções ingres­­sou na Justiça do Rio de Ja­­neiro com pedido de recupe­­ração judicial. Segundo a empresa, a medida é parte de "esforços para garantir sucesso na execução e entrega das obras em andamento que são de interesse público e garantir a sustentabilidade da empresa em longo prazo". De acordo com comunicado emitido pela companhia, o pedido à Justiça se dá após a saída do negócio, na sexta-feira, da holding J&F. A empresa, dona do frigorífico Friboi, assumiu a gestão da Delta há um mês.

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"A situação financeira da Delta tornou-se insustentável, não restando outra alternativa senão a busca pela recuperação judicial", afirma a nota da companhia. Ainda segundo a Delta, o envolvimento de alguns de seus executivos em supostos atos ilícitos, que estão sendo investigados judicialmente, tem levado a empresa a sofrer uma espécie de "bullying empresarial". "Em razão de notícias desta natureza que estão sendo veiculadas, várias administrações públicas estão deixando de honrar os pagamentos de obras já executadas", diz o comunicado à imprensa. A empreiteira é investigada por parlamentares e pela Polícia Federal por envolvimento com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de corrupção e de comandar um esquema de jogo ilegal.

No processo de recuperação judicial, a empresa submete aos credores uma proposta para quitação de suas dívidas, com desconto de valores e prazos mais alongados. A proposta tem de ser aprovada por uma assembleia de credores. Do contrário, a empresa pode entrar em falência.

Para representá-la, a Delta contratou a consultoria internacional de reestruturação Alvarez & Marsal, responsável pela recuperação judicial de empresas como a Varig e a varejista carioca Casa & Vídeo. No cenário internacional, a consultoria trabalhou no caso do banco Lehman Brothers.

"A administração da Delta está informando à Justiça que todas as empresas do grupo são viáveis economicamente e possuem ativos relevantes e que estão aptas a efetuar as obras e serviços públicos e privados para os quais foram contratadas. Afirma ainda que pretende honrar suas dívidas de forma integral, mas que necessita do amparo judicial para recuperar seu fôlego financeiro", diz o comunicado da Delta.

O comunicado informa ainda que a empresa é responsável, direta ou indiretamente, pelo sustento de cerca de 80 mil famílias. A empresa solicita pedido de recuperação judicial sem possuir dívidas trabalhistas, previdenciárias e tributárias. Os ativos patrimoniais e a receber são muito superiores à dívida atual com fornecedores e bancos.

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Desistência

Na semana passada, o comando da holding J&F anunciou oficialmente a decisão de não consumar a compra da Delta, da qual é gestora. O grupo fez uma opção de compra, mas decidiu não a exercer. A intenção do grupo era criar uma empreiteira também chamada J&F. Pesou para decisão a quebra do sigilo fiscal da construtora, feita pela CPI de Cachoeira.