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Edgar Carpes, mestre de obras: ofertas de trabalho todas as semanas, no Paraná e em estados vizinhos | Priscila Forone/ Gazeta do Povo
Edgar Carpes, mestre de obras: ofertas de trabalho todas as semanas, no Paraná e em estados vizinhos| Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo

Engenheiros

Até os "estrangeiros" estão voltando

Com a construção em alta no mercado brasileiro, muitos profissionais que foram trabalhar no exterior estão retornando. O engenheiro Eduardo Fernandes Polak, de 38 anos, trabalhou dois anos em Angola e resolveu voltar para o Brasil para aproveitar o bom momento do setor. Não levou nem um mês para conseguir uma colocação. "Foi mais rápido que eu esperava", diz ele. Embora ainda ganhe menos do que o que recebia em Angola, ele se diz satisfeito. "O setor está muito aquecido e deve continuar assim por pelo menos sete anos. Teremos Copa do Mundo, Olimpíada e um mercado de habitação com muitos lançamentos. Nos próximos cinco anos dificilmente vou sair do Brasil", afirma ele, formado há 16 anos.

Polak se diz surpreso com o assédio das construtoras. "Chegam a me ligar no próprio trabalho para fazer propostas de emprego", afirma.

Com a crise econômica, quem trabalhava nos Estados Unidos e no Japão – países afetados pelo estouro da bolha imobiliária – já começam a fazer as malas. "Conheço pelo menos seis colegas que estão voltando", afirma ele.

Mão de obra pressiona custo das construtoras

Segundo as empresas do setor, a inflação da mão de obra vem pressionando os custos, principalmente para aquelas que atuam nas faixas de menor renda, como as do programa Minha Casa, Minha Vida. "O custo de mão de obra chega a representar 40%, 45% do total para imóveis com preços de R$ 45 mil", afirma Waldemar Trotta, da Trocon Engenharia.

Nos 12 meses até abril, o custo da mão de obra subiu 9,71%, segundo o Índice Nacional do Custo da Construção-10 (INCC-10). É a maior alta nessa base de comparação desde julho de 2004. " A tendência é que essa pressão seja transferida também para o preço do produto final", afirma Roberto Braz Thá, diretor de engenharia da Thá. O bom momento do setor também deve influenciar as negociações da data-base da categoria, em junho. "Ainda não fechamos um índice, mas queremos ganhos reais", diz Domingos Oliveira Davide, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção (Sintracon). A primeira reunião está marcada para 10 de maio. No ano passado, os empregados da construção já haviam conquistado um aumento de 8,5% mais o reajuste de o vale alimentação de R$ 105 para R$ 140.

  • Eduardo Polak: concorrentes ligam no escritório para fazer propostas

O forte aquecimento do setor da construção e a escassez de mão de obra qualificada estão inflacionando os salários do setor. Construtoras de Curitiba já estão pagando, em alguns casos, até R$ 5,5 mil para mestre de obras – mais do que recebe um professor da rede municipal de ensino, por exemplo – e até R$ 2,5 mil para carpinteiros e pedreiros. Engenheiros com experiência são disputados com ofertas de salários de R$ 12 mil.A alta dos salários obedece à velha lei de mercado: de um lado, as construtoras querem aproveitar o bom momento do setor e aceleram o ritmo de lançamentos. De outro, falta pessoal, principalmente com experiência, para tanto emprego. Estima-se que existam 2 mil vagas em Curitiba e região para canteiros de obras, mas que não são preenchidas por falta de mão de obra, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção (Sintracon). O setor emprega hoje cerca de 35 mil pessoas na região de Curitiba. A remuneração de mercado da construção em Curitiba hoje supera bastante os pisos salariais, que vão de R$ 793,40 a R$ 1.482 para o pessoal que trabalha nos canteiros e de R$ 4,6 mil para os engenheiros recém-formados. "O salário atual é do tamanho da dor de cabeça de ter seu funcionário contratado pela concorrência", diz um empresário do setor.

Para Roberto Braz Thá, diretor de engenharia da construtora Thá, esse fenômeno vem se fortalecendo nos últimos dois anos, graças ao aumento do volume de obras. "Hoje há mestre de obra ganhando R$ 6 mil e engenheiros que recebem R$ 10 mil", diz.

Déficit

O apagão de mão de obra qualificada é a principal preocupação das empresas do setor em um momento de forte aquecimento da produção imobiliária e da retomada dos investimentos em infraestrutura. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que em todo o Brasil a construção deve sofrer bastante com a escassez de mão de obra em 2010 e fechar o ano sem conseguir preencher 38 mil vagas.

Além do setor de habitação, obras como a da ampliação da Petrobras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, as previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as voltadas para a Copa do Mundo devem mobilizar o setor no mínimo pelos próximos quatro anos.

Somente as obras de ampliação da Repar estão empregando 16,6 mil pessoas, volume que deve se manter até meados de 2011. Outras 5,7 mil devem ser contratadas para a parada técnica da refinaria em julho, segundo João Adolfo Oderich, gerente geral da Repar. As empresas que trabalham no projeto estão tendo que buscar mão de obra em outros estados, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Atrasos

No setor imobiliário, várias construtoras estão com vagas abertas. A Trocon Engenharia, especializada em habitação para baixa renda e obras de infraestrutura urbana, tem 50 vagas e deve abrir mais 250 nas próximas obras, mas não há pessoal qualificado, segundo Waldemar Trotta, presidente da empresa. A construtora Dória tem três vagas abertas para engenheiros e em função da escassez de mão de obra contratou até presidiários para trabalhar nos canteiros. "Nesse caso, além de reduzir o problema de mão de obra, a ação tem também o interesse social", diz Ramon Dória, presidente da empresa.

Para Euclesio Finatti, vice- presidente da área técnica e responsável pela área de política e relações trabalhistas do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), será preciso encontrar e preparar mão de obra para que não haja um colapso dos projetos nos próximos anos. "A tendência do setor é crescer mais que o PIB brasileiro e precisamos sustentar esse crescimento", afirma. Em 2010, a economia ligada à construção de deve crescer 9%. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção (Sintracon), Do­mingos Oliveira Davide, diz que a falta de pessoal já começa a provocar alguns atrasos em obras, problema que pode se tornar crônico nos próximos anos."Conheço empresas que estão com dificuldades para cumprir prazos por falta de pessoal", afirma.

Além de pedreiros, carpinteiros e eletricistas, as construtoras estão à procura de engenheiros. Muitas estão recrutando estudantes do último ano da faculdade, algo que há tempos não se via na construção civil. Em média, um engenheiro recém-formado demorava um, dois anos para conseguir uma colocação. Hoje ele já sai da faculdade com o emprego garantido. Mas também aqui são os engenheiros experientes que estão em falta. Muitos inclusive mudaram de área em função das poucas oportunidades no setor nas últimas décadas. De cada 3,5 engenheiros formados no Brasil, apenas um está formalmente empregado na área. "O mercado ficou muito tempo estagnado, principalmente entre 2000 e 2005 e hoje temos que correr para preparar novos profissionais. Quem saiu não volta", diz Normando Baú, sócio gerente da construtora Baú.

Empresas paulistas inflacionaram o mercado

O mestre de obras Edgar Becker Carpes, de 56 anos, recebe praticamente toda semana uma proposta de em­­prego. "Tanto de empresas da­­qui quanto construtoras de São Paulo que querem que eu vá trabalhar no estado vizinho", afirma ele, que tem 38 anos de experiência e participação em obras de grande porte, como Itaipu. Com salário e benefícios, ele recebe hoje cerca de R$ 5,5 mil por mês. "Há empresas que oferecem até R$ 8 mil", acrescenta. Algo inimaginável há dois anos, quando um mestre de obras recebia, no máximo, R$ 2,5 mil no mercado curitibano.

Segundo ele, que trabalha na construtora Dória, a forte valorização dos salários do setor guarda relação com o fato de a mão de obra da construção ter envelhecido. Muita gente que trabalhava no setor saiu ou se aposentou nos anos difíceis, principalmente entre o fim da década de 90 e meados dos anos 2000. "O setor não estava preparado para um retorno tão forte e rápido", diz ele, que nas horas vagas também dá treinamento para iniciantes na construção. Mas o trabalho exige vocação, segundo ele. "De cada 600 funcionários, apenas um se torna mestre de obras", afirma.

Para o presidente da Dória, Ramon Dória, o mercado está premiando a "competência".

Carpes atribui essa mudança no mercado também à chegada das empresas paulistas. Acostumadas com salários mais altos em São Paulo, elas não economizam para contratar profissionais que entendam das condições do solo e da topografia de Curitiba. "Com a escassez dos mestres de obras é natural que salários subam bastante", afirma.

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