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Com a demanda gerada pelo aquecimento econômico, está difícil encontrar aparelhos de tevê de LCD nas lojas: para algumas marcas, a fila de espera é de 25 dias | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Com a demanda gerada pelo aquecimento econômico, está difícil encontrar aparelhos de tevê de LCD nas lojas: para algumas marcas, a fila de espera é de 25 dias| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Freios

Investimentos e dólar seguram aumentos

Câmbio, juros e investimentos devem diminuir a pressão por alta de preços na indústria nos próximos meses. As importações têm crescido bastante, o que ajuda a complementar parte da demanda doméstica. O dólar também auxilia setores que importam componentes, que conseguiram reduzir custos nos último ano em função do câmbio favorável. Quanto menor a pressão sobre o potencial de produção, menor a chance de reajuste de preços. Outro fator que deve atenuar o quadro é a retirada do benefício da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) pelo governo federal para alguns segmentos. O setor de automóveis por, exemplo, superou 90% de utilização da capacidade, em função principalmente de antecipação de compras por parte do consumidor para aproveitar o imposto reduzido, lembra Maurílio Schmitt, coordenador do departamento econômico da Fiep. O aumento da taxa de juros também deve desacelerar a demanda no segundo semestre.

Dominó

Varejo começa a sentir repasse dos preços

A pressão nas fábricas começa a chegar na mesa de negociação com os representantes do comércio. Algumas indústrias já vêm indicando, nos últimos 60 dias, a possibilidade de reajuste de preços ao varejo, segundo Emílio Glinski, diretor comercial da MM Mercado Móveis, rede que tem 140 lojas no Paraná e Santa Catarina. As fabricantes de móveis, por exemplo, já aumentaram seus preços entre 4% e 6% em função do aumento dos custos das chapas de madeira.

O setor de papel e papelão – um dos termômetros da atividade econômica – registra alta de preços por conta da forte procura. A Klabin, maior fabricante de papéis de embalagens do país, reajustou em 4,5% os preços de caixas de papelão ondulado e a partir desse mês deve aplicar um aumento de 12% no segmento de cartões.

  • Veja: indústria paranaense retoma ritmo de produção

O aquecimento da economia e o forte ritmo da demanda estão elevando o nível de utilização das fábricas do Paraná, que se aproximam do ritmo de produção de antes da crise. Algumas empresas trabalham muito próximas do limite da capacidade, o que começa a gerar pressões inflacionárias nos preços da cadeia de suprimentos, com reajuste e prazos mais longos nas entregas de matérias-primas. Setores beneficiados pela Copa do Mundo, como o de televisores, já têm dificuldade para repor estoques no varejo.No primeiro trimestre, a média de utilização da capacidade na indústria do Paraná ficou em 80%, seis pontos porcentuais acima do mesmo período do ano passado e apenas dois pontos abaixo de outubro de 2008, pico de vendas da série histórica, segundo dados da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). "Em alguns meses devemos igualar o resultado de 2008", projeta Maurílio Schmitt, chefe do departamento econômico da Fiep.Seis setores estão com índices acima de 85%: edição e impressão (97,42%), veículos automotores (95,24%), petróleo e álcool (90,99%), minerais não metálicos (90,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (87,9%) e celulose e papel (87,68%). "Quando o nível de utilização da capacidade atinge 85% começa a haver pressões de preços. As empresas terão de acelerar investimentos para não perder a a capacidade de atender as encomendas e perder mercado para concorrentes", diz Schmitt.

As vendas industriais do Paraná subiram em março 22% em relação a fevereiro – o segundo maior avanço da série histórica. A previsão é de que o resultado anual supere o de 2008, o melhor da história.

Seleção

A Companhia Providência, fabricante de não tecidos (material usado em fraldas descartáveis e máscaras cirúrgicas) com sede em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, está utilizando 100% da capacidade até que a nova fábrica nos Estados Unidos fique pronta, terá de selecionar os pedidos que serão atendidos, lembra o diretor financeiro, Eduardo Feldmann. A nova unidade, que deve entrar em funcionamento no primeiro semestre de 2011, passa a atender o mercado dos EUA, principal destino de exportações da companhia. "Com isso, desafogamos a produção nacional. Mas mesmo assim já estamos pensando em instalar uma nova máquina no Brasil", disse. Segundo ele, há pressões de preços de matérias-primas. O polipropileno, principal insumo da empresa, subiu 18,5% nos últimos meses.

Para dar conta do crescimento, as empresas vêm colocando o pé no acelerador dos investimentos. A Cimentos Itambé, com fábrica em Balsa Nova, também na região metropolitana de Curitiba, deve chegar ao fim de 2010 com 90% da capacidade ocupada. A empresa está investindo R$ 400 milhões na construção de um moinho e um forno novos, que juntos vão aumentar a capacidade de produção, hoje em 1,5 milhão de toneladas, para 2,5 milhões de toneladas. É o primeiro grande investimento em 15 anos, de acordo com Paulo Procopiak de Aguiar, diretor-superintendente da empresa. "O mercado da construção andou de lado por dez anos. Estamos nos preparando para o crescimento. Pre­ferimos ter capacidade ociosa do que não ter produto para entregar", diz ele, que prevê que o mercado deve atingir o pico de vendas entre outubro e novembro.

Há pressões de aumentos de insumos, como aço, derivados de petróleo, cobre e ferro. De acordo com o executivo da Itambé, a alta dos preços do coque de petróleo, da energia e dos custos com mão de obra resultaram em um reajuste médio de 3% nos preços do cimento.

Cobre caro

O cobre, principal insumo da fabricante de componentes para telecomunicações Furukawa, com fábrica em Curitiba, chegou a subir 40% nos últimos meses – graças ao aumento da demanda e dos problemas provocados pelo terremoto no Chile, principal produtor mundial do metal. "A cotação continua oscilando muito e não temos uma previsão de como os preços vão se comportar. Além disso, o ciclo de entrega de matérias-primas aumentou de 30 para 60 dias", afirma Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa. Por causa do ritmo de encomendas, a empresa, que ocupava 50% da capacidade no ano passado, hoje utiliza 70%.

A fabricante de caminhões e ônibus Volvo já detecta atrasos no fornecimento de alguns componentes, principalmente na Europa. "Muitos fabricantes europeus baixaram tanto a produção para não quebrar que agora têm mais dificuldade em ampliar o ritmo para atender a demanda", afirma Per Gabell, presidente da Volvo Bus.

Sondagem realizada com cerca de mil indústrias em todo o Brasil pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que 9% delas registraram prazos maiores para entrega de componentes e insumos por parte dos seus fornecedores em março. Em janeiro, esse índice era de apenas 5%.No varejo, faltam modelos de televisor

Os fabricantes de televisores estão com dificuldade para atender a demanda, que aumentou muito por causa da Copa do Mundo, e já não é fácil encontrar alguns modelos no varejo. O Walmart informou que o problema vem ocorrendo com algumas marcas, que estão demorando mais para repor os estoques. A rede de lojas MM Mercado Móveis revela que há atrasos de até 20 dias na reposição em especial das tevês com monitor de cristal líquido (LCD, na sigla em inglês) de 32 polegadas, as mais procuradas, de acordo com o diretor comercial, Emílio Glinski.

No Ponto Frio, alguns modelos da Sony e da LG só podem ser comprados com prazo de entrega de 25 dias, e ainda com possibilidade de atrasos, segundo informou um vendedor que preferiu não ser identificado. "Quem está à procura de televisores acima de 42 polegadas só com entrega depois do início da Copa", revelou.

As empresas do setor estão tendo de driblar atrasos na importação de peças, por causa da forte demanda. Para piorar, alguns voos com cargas de componentes da Europa e da Ásia também foram adiados quando as cinzas gerada pelo vulcão da Islândia causaram o caos aéreo no mês passado.

A previsão do setor é de um aumento entre 20% s 30% nas vendas de televisores em 2010, para 11 milhões de aparelhos – desse total 6 milhões serão de LCD. "Em geral, 40% das vendas desse tipo produto são feitas no primeiro semestre e 60% no segundo. Em ano de Copa, essa proporção se inverte", diz Glinski.

De acordo com o superintendente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), Valmor Rovaris, grandes redes se anteciparam ao evento e contrataram volumes até 120% maiores do que no passado. O problema é que a procura surpreendeu. "Nesse caso, é natural que a indústria priorize quem contratou primeiro. Quem não o fez, terá que esperar mais", afirma. (CR)

Colaborou de Adriano Cesar Gomes

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