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Elton John participou do Viajazz Music Festival, em Madri, no início de julho | Sergio Perez-Reuters/Gazeta do Povo
Elton John participou do Viajazz Music Festival, em Madri, no início de julho| Foto: Sergio Perez-Reuters/Gazeta do Povo

Exploração mineral deixou passivo ambiental na região

Um riacho tingido de vermelho deságua no rio Tibagi, em Telêmaco Borba. A alguns passos dali, há uma lagoa azul turquesa e um arroio amarelo. O colorido é indicativo de perigo: a água é ácida, contaminada por metais pesados, como chumbo e cádmio, além de enxofre. O cenário é o que restou de quatro décadas de exploração de carvão mineral no local.

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Dona da área investiu R$ 600 mil em recuperação

A área em questão pertence à fabricante de papel e celulose Klabin, que explorava o carvão para abastecer as caldeiras da fábrica que mantém em Telêmaco Borba. As minas foram desativadas em 1993. A Klabin informou, através da assessoria de imprensa, que apresentou projeto de recuperação da área ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em 1998 e ao IAP em 2002.

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Telêmaco Borba – A descoberta de uma montanha de resíduos de carvão mineral às margens do rio Tibagi impõe mais um empecilho ambiental à construção da usina hidrelétrica de Mauá, nos Campos Gerais. "É um complicador", reconhece o secretário estadual do Meio Ambiente, Rasca Rodrigues, que foi de helicóptero vistoriar a área ontem, juntamente com o presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Vitor Hugo Burko. Ambos disseram que a situação vai exigir um levantamento completo do processo de contaminação da área e dos impactos numa eventual barragem. Esse estudo soma-se aos 71 condicionantes ambientais já estabelecidos pelo governo estadual para conceder a licença de instalação da usina.

A inspeção inesperada ocorreu na mesma semana em que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou que vai financiar até R$ 700 milhões dos R$ 950 milhões que devem ser gastos na obra. Também nesta semana, o governador Roberto Requião, direto de Nova Iorque, destacou a importância da usina no plano energético nacional. A Copel é sócia majoritária no empreendimento, com participação de 51%, e a Eletrosul tem 49%.

Rodrigues se disse perplexo com o que viu, mas defende a posição do governo estadual. Ele lembra que foram descartadas três outras usinas solicitadas pelo Ministério de Minas e Energias e que o licenciamento de pequenas centrais hidrelétricas foi suspenso – embora elas tenham menor impacto ambiental que uma usina do porte de Mauá.

Já o presidente do IAP assegura que nenhuma decisão será tomada até que todas as condições impostas sejam cumpridas. "O que pode levar muito tempo", acrescenta. O trabalho deve se concentrar em duas frentes agora. Uma vai analisar qual é o impacto atual da poluição na mina desativada e a outra se debruçará sobre as potenciais conseqüências da autorização para uma represa no local.

Para o secretário, a falta de cuidado em relação à existência de uma mina de carvão na região da hidrelétrica é uma deficiência do estudo de impacto ambiental. "Não é para alarmismo, mas é um passivo ambiental significativo", admite Rodrigues.

Pós-doutor em Geoquímica, o professor André Bittencourt foi responsável pela parte do levantamento técnico que trata da qualidade da água. Ele se defende, afirmando que não explorou a parte sobre as minas e rejeitos de carvão por uma razão química. Os rejeitos só são poluentes em contato com o oxigênio e, se ficassem imersos, não causariam danos. "Essas minas dão muito mais problema como estão do que embaixo d’água", assegura. Ele também acredita que, tanto no rio como na eventual represa, a quantidade de produtos tóxicos produzida pela mina desativada se dilui com facilidade na água.

A usina de Mauá, que deve ser construída entre as cidades de Ortigueira e Telêmaco Borba, terá potência máxima de 362 megawatts (MW), o suficiente para abastecer uma cidade de 1,1 milhão de habitantes. A Copel pretendia iniciar as obras em outubro. A construtora J. Malucelli já fechou contrato para executar o projeto. A previsão inicial era de que os investimentos para a construção da hidrelétrica somassem R$ 883 milhões, mas já se aproximam de R$ 1 bilhão por conta dos custos ambientais do projeto.

Quase 100 quilômetros quadrados devem ser inundados, afetando a preservação de cinco comunidades indígenas, de sítios arqueológicos com mais de 12 mil anos e de uma área considerada de megabiodiversidade, com cerca de 2 mil espécies vegetais e 747 espécies de animais.

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