RIO - Embora o impacto não seja imediato, o mercado de trabalho também deve sentir os efeitos da perda do grau de investimento. Para economistas, a taxa de desemprego, que começou a subir mais rapidamente com o agravamento da crise neste ano, deve subir com ainda mais intensidade. Seria o reflexo da maior dificuldade das empresas para captar recursos e, consequentemente, investir, explica José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio.

CARREGANDO :)

— Se já estávamos em uma situação difícil com o grau de investimento, agora tudo piorou. O desemprego provavelmente vai subir mais rápido — diz.

Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), concorda.

Publicidade

— A saída de investimentos pode afetar a geração de empregos. Os números que não estão nada bons não vão ser ajudados pela perda de grau de investimento — destaca.

De acordo com os dados mais recentes da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, a taxa de desemprego do país chegou a 7,5% em julho, nas seis maiores regiões metropolitanas do país. O rendimento caiu 2,4% frente ao mesmo mês do ano passado.

JURO ALTO AFETA EMPRESA

A mesma alta de juros que onera o bolso do consumidor também afeta as empresas. Com as recentes elevações da taxa básica, a Selic — hoje em 14,25% ao ano —, sobem também as taxas cobradas de empresários. Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostra que os juros para empresas estão, em média, 61,22% ao ano.

— Para o pequeno varejista, significa que tomar dinheiro emprestado para fazer capital de giro vai ficar mais caro. Além disso, as expectativas em relação à Selic podem subir, contaminadas pelo dólar mais alto. Se a Selic sobe, puxa com ela as taxas reais — diz Bentes.

Publicidade

Mercado de trabalho em crise significa menos dinheiro circulando no mercado. E menos gente consumindo é prejuízo para o taxista Luiz Cláudio Vasconcelos. Com 51 anos, ele já passou por algumas crises econômicas, mas não esperava ver mais uma. Vasconcelos conta que estava vivendo bem até novembro do ano passado, quando notou que o número de passageiros começou a cair. Desde então, aumentou suas horas de trabalho e passou a economizar energia elétrica para tentar conter a perda do poder aquisitivo.

Como última saída, está pensando em deixar a capital para trabalhar com comércio no interior do estado.

— O comércio está fechando as portas e nós, como taxistas, dependemos do comércio para trabalhar — desabafa.

POR CONTA PRÓPRIA

As coisas também não estão fáceis para a prestadora de serviços Rachel Braga, que sustenta sozinha a filha, Ana Clara, de 17 anos. Para complementar a renda, as duas fazem, nas horas vagas, serviços de depilação e design de sobrancelhas em casa. Para Ana Clara, que nasceu depois do Plano Real, o efeito da crise é a dificuldade em conseguir o primeiro emprego. Ela conta ter se candidatado a diversas vagas como jovem aprendiz na área administrativa, sem sucesso.

Publicidade

— Está difícil. Já procurei muito, deixei currículo em vários lugares, mas acabei desistindo para fazer um curso — conta a adolescente que pretende buscar uma formação como cabeleireira e maquiadora.

A mãe apoia a atitude da filha, pois enxerga oportunidades na área de estética e beleza. Rachel acredita que , mesmo com a crise, as mulheres continuam investindo no visual. E já vê o ramo como uma alternativa de trabalho, pois está com medo de perder o seu emprego fixo.

— Vai ter uma crise, mas acho que vai ter uma melhora sim. Tem que ter esperança, né? Brasileiro tem esperança sempre — finaliza, com um sorriso.