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Construção civil tem índices altos de rotatividade, diz Dieese | Antônio Mora / Gazeta do Povo
Construção civil tem índices altos de rotatividade, diz Dieese| Foto: Antônio Mora / Gazeta do Povo

Fenômeno independe de qualificação

O desligamento espontâneo aumentou entre trabalhadores de todos os níveis de qualificação, de acordo com Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O aumento da oferta de trabalho fez os profissionais qualificados serem disputados por empresas que sofrem com a falta de mão de obra qualificada para expandir os seus negócios, enquanto os profissionais com pouca formação mudam de emprego em busca de aumento salarial, pois também são beneficiados pela demanda crescente por seus serviços.

"Se o trabalhador estiver ganhando R$ 800 por mês, mas encontrar perto da casa dele um emprego que pague R$ 1 mil, ele não pensa duas vezes em trocar", diz o técnico do Dieese. "Como há muita demanda, ele vai arriscar e procurar uma nova oportunidade", explica. Entre os setores com maior rotatividade atualmente, Lúcio cita a construção civil.

Na avaliação do técnico do Dieese, o mercado de trabalho está atravessando um período único no país, já que antes eram as empresas que colocavam uma série de exigências na hora da contratação. "No passado, quem tinha mais de 40 anos era descartável, enquanto os jovens não conseguiam emprego pela falta de experiência", diz.

A expansão da economia deu mais poder ao trabalhador. Em busca de melhores vagas em um mercado aquecido, a quantidade de brasileiros que se demite das empresas é recorde. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que 30,5% dos desligamentos no primeiro bimestre ocorreram por decisão do trabalhador. O país teve quase 3,2 milhões de desligamentos até fevereiro, sendo 969 mil por iniciativa do empregado.

No primeiro bimestre de 2003, ano do início da pesquisa, a situação era bem diferente: as saídas voluntárias somavam 17,7%. Os dados anualizados confirmam a tendência de aumento do desligamento espontâneo. Na média do ano passado, 28,3% das demissões foram por iniciativa do funcionário – em 2003, a proporção foi de 16,8%. "Numa situação de desemprego mais baixo e com perspectiva de crescimento, a viabilidade de obter um emprego melhor e uma ocupação mais favorável tende a ganhar mais força", diz Claudio Dedecca, professor da Unicamp.

Desemprego

É possível notar uma relação entre o desempenho dos desligamentos espontâneos com a variação da taxa de desemprego média anual medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De 2008 para 2009, por causa da crise econômica, o desemprego médio anual cresceu de 7,9% para 8,1%; no período, os desligamentos voluntários caíram de 23,8% para 21,7%. "Assim que o desemprego cai de novo, em 2010, começa a aumentar o pedido de demissão voluntária", diz a professora Regina Madalozzo, da escola de negócios Insper. Na avaliação dela, haveria ainda mais desligamentos voluntários se a legislação trabalhista do país fosse menos rígida.

Com o crescimento dos pedidos de demissão, a influência das empresas no total de desligamento perdeu participação. No ano passado, os desligamentos por decisão das empresas corresponderam a 55,7% do total, o porcentual mais baixo da série histórica

As demissões por iniciativa do trabalhador cresceram em todos os estados, mas o índice ainda é bastante desigual entre as regiões. No Norte e do Nordeste, por exemplo, o fim do contrato de trabalho é definido majoritariamente pelas empresas. "É importante ressaltar que o crescimento [dos desligamentos espontâneos] se compara às demissões sem justa causa, por iniciativa do empregador. O grosso das demissões em alguns setores e regiões ainda é em um volume muito maior por iniciativa da empresa", diz Claudio Dedecca, da Unicamp.

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