• Carregando...
Estudante trabalha num terminal financeiro, na Universidade George Washington: cada vez mais as universidades estão trazendo a estrutura de Wall Street para a sala de aula, permitindo que alunos tomem decisões de compra e venda em tempo real | Mac William Bishop/The New York Times
Estudante trabalha num terminal financeiro, na Universidade George Washington: cada vez mais as universidades estão trazendo a estrutura de Wall Street para a sala de aula, permitindo que alunos tomem decisões de compra e venda em tempo real| Foto: Mac William Bishop/The New York Times

Investimento

Estrutura custa até US$ 5 milhões

Um núcleo de operações financeiras bem equipado e com propósito educativo custa caro. Mesmo uma sala de negociações com apenas uns poucos computadores e tevês de tela plana não sai por menos de US$ 100 mil. Para montar uma estrutura como a da Baruch College ou da Sala Wellde de Mercado de Capitais, da Universidade George Washington, são necessários US$ 1 milhão. No recém-reformado centro de negócios da Bentley University foram investidos US$ 5 milhões.

As grandes instituições financeiras dos EUA e seus altos executivos muitas vezes pagam a conta. O Goldman Sachs doou US$ 300 mil para que a Universidade de Indiana montasse uma sala de operações em 2001. O Merrill Lynch repassou à Baruch cerca de US$ 100 mil. Companhias do setor energético que atuam nesse mercado, como Dynergy, El Paso e Conoco Phillips, também assinaram cheques para a construção desses centros.

A sala da Universidade George Washington recebeu o nome do ex-aluno e doador George Wellde Jr., um executivo que atuou durante 28 anos no Goldman Sachs, aposentado desde 2008 e atual integrante do conselho do fundo de investimentos Fortress. "Sempre concordei com a ideia da retribuição", diz Wellde.

Nova York - Terminais financeiros da Bloomberg ligados, preços de ações percorrendo painéis eletrônicos e o barulho das notícias do canal CNBC como som ambiente. A parafernália é típica dos centros de operação de bancos como Goldman Sachs, JPMorgan Chase e Morgan Stanley. Mas o local em questão fica a quase 50 quilômetros de Wall Street, no câmpus da Adelphi University, em Garden City, Nova York.

Nesta sala, batizada com o nome de James Riley Jr., sócio aposentado do Goldman Sachs, os alunos da escola de negócios da Adelphi colocam em prática a teoria ensinada pelos livros. Como operadores de Wall Street, eles conferem cotações, comparam taxas de câmbio e analisam os fundamentos das empresas. Uma das turmas inclusive toma decisões de compra e venda em uma carteira de investimentos de US$ 200 mil.

Ali, os estudantes "aprendem a linguagem do mercado financeiro", segundo Riley, que doou US$ 100 mil para a montagem da sala de operações da Adelphi, instituição onde sua mãe havia estudado. "Em um ambiente como este, a primeira coisa que você aprende é se ele lhe empolga ou não."

A Adelphi University é o exemplo mais recente de instituição de ensino que trouxe um centro de operações financeiras para a sala de aula, com o suporte e a orientação de banqueiros e empresas de Wall Street. Em 1997, apenas três escolas de negócios dos Estados Unidos mantinham esse tipo de estrutura, de acordo com a Rise Display, empresa que instala painéis eletrônicos, monitores de vídeo e softwares de compra e venda de ações em universidades e bancos. Hoje, mais de 200 instituições acadêmicas norte-americanas – de universidades renomadas até pequenas faculdades de artes – abrigam salas de negociação financeira. "A dúvida não é mais sobre se é necessário ou não montar um centro desse tipo, mas sobre que tamanho ele deve ter", conta Ryan Cahoy, diretor administrativo da Rise Display.

Dois propósitos

As salas de operação servem a um duplo propósito: oferecer aos alunos uma experiência do mundo real e dar às universidades algo para captar doações e conquistar novos professores. "Hoje, esses centros são um fator de orgulho para muitas escolas. Eles funcionam como atrativos – e é ótimo poder literalmente iluminar o nome de um doador", diz Richard Holowczack, que administra a sala da Baruch College, inaugurada em 2000, em Nova York.

O centro de negociações fi­­nan­­ceiras da Bentley University, pioneiro em 1997, ficava originalmente escondido numa pe­­quena sala de aula. Agora, a universidade dedica a ele um espaço de 280 metros quadrados, equipado com 57 estações de trabalho informatizadas, cinco terminais da Bloomberg e quatro painéis eletrônicos que exibem dados de mercado em tempo real. Na Escola de Negócios Stephen M. Ross, da Uni­­ver­si­­da­de de Mi­­chigan, cerca de mil alunos passam pela sala envidraçada todas as semanas. Na Baruch, o Centro de Operações Bert W. e Sandra Wasserman – batizado em ho­­me­­nagem ao ex-diretor financeiro da Time Warner e sua esposa – conta com 50 computadores equipados com sistemas da Bloomberg e da Reuters. Mais de 20 operadores de Wall Street aproveitaram essa estrutura de­­pois dos ataques do 11 de Se­­tem­­bro, que os deixaram temporariamente sem local de trabalho.

Estudantes arriscam dinheiro de verdade

O dinheiro que os estudantes arriscam nessas operações não é do Banco Imobiliário. Muitas universidades criaram dotações e clubes de investimento reais para serem administrados pelas turmas. Na Universidade George Washington, alunos do MBA que participam da aula de gestão aplicada de carteiras começaram com um montante de US$ 1 milhão em 2005. No início do semestre, cada integrante da turma escolhe uma ação para comprar e outra para vender. Eles devem defender sua estratégia diante da classe, dos professores e dos mantenedores da instituição. Desde o seu surgimento, o fundo acadêmico superou o índice de ações Standard & Poor’s 500, da Bolsa de Nova York, em três pontos porcentuais ao ano. Na Bentley University, os alunos começaram com US$ 250 mil em 1997. A carteira valorizou-se 116% em 13 anos – mais que o dobro do S&P 500.

As habilidades práticas conquistadas nesses ambientes podem servir de vantagem na hora de buscar emprego. "Para o candidato, é quase como ter uma segunda língua", diz Thomas di Galoma, ex-aluno da George Washington e atual diretor administrativo da Guggenheim Securities. Nos 18 meses em que atua na instituição financeira nova-iorquina, Galoma já contratou dois estudantes da George Washington.

Robert Berns passou mais de cem horas na sala de operações financeiras durante o seu último ano de universidade – uma experiência que o destacou na entrevista de emprego que fez na Wells Fargo Securities. Ele foi contratado pela empresa para ser um administrador de investimentos na cidade de Charlotte, Carolina do Norte, logo após sua formatura, em maio passado. "Há um fator surpresa quando se diz que você passou por esse aprendizado. Foi algo que me deu credibilidade instantânea", conta Berns.

Tradução: João Paulo Pimentel

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]