Em que sonhos de consumo gasta quem tem muito, muito dinheiro? É difícil obter uma resposta direta (a grande maioria dos milionários prefere não falar) para esta questão, mas na base da observação é possível ter uma noção da realidade desta parcela mínima da população. Eles gostam de espaço, conforto e mimos e não se importam de gastar para ter isso.
Uma loja freqüentada pelo público de alto poder aquisitivo não tem roupas "espremidas" nos cabides, nem clientes se acotovelando para ser atendido, como acontece com a classe média nas lojas mais movimentadas. Poucas peças de coleções renomadas, amplo espaço para caminhar, beleza, ambiente "perfumadinho": tudo de bom que o dinheiro pode pagar. Para ter isso, há quem pague R$ 1,5 mil em uma calça jeans ou R$ 200 num corte de cabelo.
"O produto de alto padrão tem melhor acabamento, o tecido é mais macio, as cores da roupa não desbotam. O cliente exigente quer qualidade e conforto, mesmo que pague caro para isso", explica uma das sócias da loja Bazaar Fashion, Márcia Cardoso de Almeida. A loja é considerada a Daslu curitibana, numa referência ao templo do consumo paulistano. Uma casa de 800 metros quadrados de área, com manobristas, seguranças, serviço gratuito de café e lanchonete e roupas das mais conceituadas marcas brasileiras.
Grifes importadas são vendidas esporadicamente, em eventos promovidos pela loja. Lá, dá para comprar de uma simples camiseta lisa de R$ 55 a um vestido de festa de mais de R$ 8 mil. As calças jeans custam em torno de R$ 300.
Mais que o produto, acredita Márcia, o que mantém o cliente fiel é o atendimento "vip" sigla em inglês para a expressão "very important person". "Aqui elas (a loja é feminina) se sentem a vontade, são tratadas pelo nome e muitas vezes vêm para encontrar as amigas, não necessariamente para comprar. Há quem venha todos os dias", diz a proprietária. Não é exagero. Uma cliente que não quis ser identificada confirmou que passa praticamente a tarde toda na loja, quatro vezes por semana. "Almoço e venho para cá. Tomo um vinho, um chá, encontro as amigas e sempre acabo saindo com uma sacolinha de compras", afirma.
Exigência alta
Apesar de ter dinheiro para gastar em praticamente tudo que quiser, o milionário é avesso a gastos desnecessários e quer saber em que exatamente está investindo seu dinheiro, diz o diretor comercial da Partilha Empreendimentos em Curitiba, Antônio Carlos Marques Júnior. "Ele valoriza o dinheiro dele. É muito exigente e tem um nível de atenção maior do que a média", afirma. O empresário Percy Tiemann confirma. Proprietário de uma empresa de ar condicionado e de uma construtora, ele não só tem um alto poder de compra, como trabalha para pessoas na mesma situação. "Não me importo em gastar, desde que ache que aquilo que estou comprando vale o preço que custa. Posso até comprar uma bolsa de R$ 5 mil para minha mulher, se achar o preço justo. Mas não tenho por que tomar um vinho deste preço, se um de R$ 70 também é muito bom", exemplifica. (PK)
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