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Para Giannetti, sociedade brasileira não é atenta à formação intelectual. | Fabio Muniz/Divulgação
Para Giannetti, sociedade brasileira não é atenta à formação intelectual.| Foto: Fabio Muniz/Divulgação

Nestes tempos de otimismo em alta, quando tudo parece estar dando certo para o país, o Brasil deveria encontrar um caminho próprio de desenvolvimento, de preferência criando um modelo em que a felicidade dos seus habitantes seja pautada pelas relações interpessoais e pela alegria de viver – e não por aspectos econômicos. Essas podem parecer dicas saídas de uma nova espécie de auto-ajuda, mirada na nação e não no indivíduo, mas elas compõem a opinião do economista Eduardo Giannetti da Fonseca, que esteve em Curitiba na manhã de ontem para apresentar aos alunos da Universidade Positivo seu mais novo trabalho: O Livro das Citações – Um Breviário de Idéias Replicantes. Doutor (PhD) em Economia pela Universidade de Cambridge na Inglaterra, Giannetti é hoje um dos grandes intelectuais do país. Na passagem pela capital paranaense, ele falou à Gazeta do Povo:

Pesquisa divulgada na última terça-feira pela FGV aponta que o brasileiro é o povo mais otimista e mais esperançoso em relação ao futuro nos próximos cinco anos. Este é um reflexo do atual momento econômico que o país vive?

A imaginação brasileira é muito volátil e fica eufórica com a mesma facilidade com que ela fica deprimida. Na minha vida, que não é tão longa assim, eu já vi isso acontecer várias vezes. De fato, nós estamos passando por um período de razoável otimismo no Brasil, mas é preciso ter cautela.

Este bom momento pode ser permanente?

O Brasil está vivendo um momento realmente favorável na sua economia, mas as nossas condições de crescimento sustentado ainda não são excepcionais. Nós poupamos pouco, investimos pouco, temos um setor público superdimensionado e temos uma grave deficiência de capital humano. Então, as nossas perspectivas são muito questionáveis. Nosso grande desafio é formar capital humano – que é o que torna um país realmente desenvolvido, próspero e valioso –, e neste sentido ainda temos muito chão pela frente.

Então discutir a destinação dos recursos do petróleo do pré-sal para a educação é válido?

É extremamente prematuro. Na melhor das hipóteses, nós vamos começar a explorar esse petróleo e ter o resultado efetivo disso tudo por volta de 2014 ou 2015. Nós não sabemos ainda o custo que isso vai ter, se a tecnologia a ser desenvolvida realmente será adequada. É impressionante ver a disputa entre estados e a União, cada um querendo gastar os recursos de uma maneira: um querendo fazer um fundo soberano, outro querendo destinar para a educação. Há uma festividade em torno disso que é realmente injustificada.

O que gera o fator capaz de mobilizar uma sociedade a pensar em educação?

Quanto mais se estuda esse assunto, mais fica clara a evidência da importância da família no desempenho escolar. E aí nós temos outro problema muito sério: a sociedade brasileira não é atenta e não valoriza como deveria a formação de recursos humanos, a educação e o aprimoramento intelectual.

Mas a participação da família no processo de educação pressupõe um nivelamento no acesso ao emprego, renda mínima e ao atendimento de suas necessidades básicas...

Vou citar um exemplo que desmente essa teoria: os imigrantes orientais que vieram ao Brasil, vieram em condições de pobreza. Hoje, no estado de São Paulo, os descendentes de orientais são 3% da população e conquistam 12% das vagas na Fuvest, que é o mais vestibular mais competitivo do país. O que eles trouxeram? Uma grande valorização da oportunidade de se educar para melhorar de vida.

Em termos de sistema político-econômico, quais são os caminhos?

Há duas coisas que o século 20 indicou com clareza: 1) a economia de mercado é melhor que a economia estatal; e 2) a democracia é melhor que o autoritarismo. Estes são os marcos institucionais fundamentais. Dentro disso nós devemos encontrar a nossa originalidade, respeitando o mercado e a democracia como arcabouço para o nosso florecimento. Eu acho que uma outra questão que diferencia o Brasil é o nosso patrimônio ambiental e de biodiversidade. Eu temo que o afã de crescer e acumular riquezas a qualquer preço, acabe destruindo um patrimônio que é irreparável.

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