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Financiamento

Alta inadimplência contribui para taxas astronômicas

O diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, lembra que linhas como o cartão de crédito e o cheque especial são justamente as que mais deviam ser evitadas pelos consumidores. No entanto, são em geral as primeiras a serem acionadas em caso de problemas para pagar as contas.

Na última pesquisa da entidade, referente a maio, as taxas do cartão não subiram, mas permaneceram como as mais altas do mercado – em 232,12% ao ano. Em segundo lugar vem o cheque especial, com 158,04%, e em terceiro o empréstimo pessoal em financeiras, com 132,65%.

A inadimplência nos cartões de crédito é hoje a maior entre os financiamentos para pessoa física, o que ajuda a explicar, em parte, as altas taxas de juros aplicadas na modalidade. "Mas tecnicamente não há porque as taxas serem tão altas", diz Oliveira. Para o economista Marcelo Curado, da UFPR, há o fator de risco, embutido na inadimplência alta, mas elas se explicam também pelo alto lucro dos bancos.

Sinal de alerta

Dobra parcela de consumidores que se dizem muito endividados

Os consumidores do Paraná estão mais endividados. Em junho, o porcentual de famílias que disseram ter alguma dívida chegou a 88,7%, contra 84,5% em maio. No mesmo período do ano passado, esse indicador estava em 87,8%. Mas o porcentual das famílias que dizem que estão muito endividadas dobrou no período de 12 meses – de 10,5% para 23,3%. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em parceria com a Fecomércio.

O levantamento, que ouviu 500 famílias, apontou que 27,6% delas tinham contas em atraso em junho, contra 18,7% no mesmo período do ano passado. Segundo Priscila Andrade Takata, coordenadora da pesquisa no Paraná, tradicionalmente o nível de endividamento no estado fica acima da média nacional – em junho, ele estava em 62,5% – porque o índice de bancarização também é maior. Para ela, o aumento no número de muito endividados tem reflexo direto nas intenções de consumo. "O consumidor está menos disposto a comprar e um dos motivos é certamente porque está mais endividado."

Os brasileiros estão usando mais o cartão de crédito. A dívida com parcelamento de compras com juros e no rotativo – modalidade na qual o cliente paga um valor mínimo da fatura – atingiu R$ 39 bilhões. Foi o tipo de dívida que mais cresceu nesse ano, com acréscimo de cerca de 10% no acumulado até maio, segundo dados do Banco Central. O cartão de crédito é a modalidade de financiamento mais cara do mercado atualmente, com uma taxa de juros de 232% ao ano.

INFOGRÁFICO: Confira a evolução da dívida no cartão de crédito

A carteira de compras parceladas com juros no cartão de crédito somou R$ 11,9 bilhões até maio desse ano, alta de 11,5%, segundo o BC. A do rotativo acumulou R$ 28,2 bilhões, avanço de 10,5% na mesma base de comparação. As operações de pagamento à vista, sem incidência de juros, tiveram queda de 4,5%.

O desempenho das operações com juros no cartão de crédito também está bem acima da média das demais modalidades de empréstimos para pessoa física. No total, o saldo dos financiamentos com recursos livres – que incluem o crédito direto ao consumidor, aquisição de veículos, crédito consignado, dentre outros – teve avanço bem mais tímido, de 1,5% na mesma base de comparação, para R$ 756,3 bilhões.

Inadimplência

No Paraná, 64,4% das famílias têm dívidas no cartão de crédito, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio). A modalidade é líder disparada, à frente do financiamento do carro, com 13,6%, e da casa própria, com 10,6%.

"O cartão de crédito cresce porque é uma modalidade de financiamento que está disponível, já é pré-aprovada e é de fácil acesso", diz Priscila Andrade Takata, coordenadora da pesquisa da Fecomércio.

O crescimento desse tipo de financiamento ocorre em um momento em que a inadimplência, que se mantinha estável, voltou a subir. O calote acima de 90 dias no crédito livre para pessoas físicas ficou em 6,7% em maio, superior aos 6,5% em abril. É a maior taxa desde dezembro. No cartão de crédito, o porcentual de atrasos subiu de 22,9% para 23,9%.

Peso no orçamento

O novo ciclo de alta de juros e a inflação alta vêm apertando o orçamento das famílias. Por isso, o crescimento desse tipo de financiamento no cartão de crédito é preocupante, na avaliação do economista Marcelo Curado, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "O acesso ao cartão de crédito não está sendo motivado pelo aumento do consumo, que está desacelerando, mas sim pela rolagem de dívidas anteriores", afirma. Segundo ele, o consumidor sabe que se trata de uma forma de financiamento cara, mas acaba usando o rotativo do cartão por falta de opções.

Para Priscila, muitas pessoas acabam confundindo a renda com o limite de compras do cartão. Além disso, completa Curado, as famílias estão tentando manter o mesmo padrão de consumo em um cenário de inflação corroendo salários, ritmo menor de aumento da renda e juros elevados. "A situação mudou e manter o mesmo comportamento de consumo fatalmente gerará distorções".

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