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Nos últimos dois anos, a valorização do dólar encareceu 30% as dívidas contraídas no exterior | Carlos Severo/ Fotos Públicas
Nos últimos dois anos, a valorização do dólar encareceu 30% as dívidas contraídas no exterior| Foto: Carlos Severo/ Fotos Públicas

Brasileiros ignoram dólar alto e gastam mais em viagens

O novo patamar do dólar também impacta a vida do consumidor, com elevação de preços que atinge diferentes classes. O caso mais evidente é o de quem planeja comprar produtos importados ou viajar ao exterior e precisa enfrentar o chamado "dólar turismo", que tem cotação pelo menos R$ 0,10 mais alta que o comercial.

mas mesmo com a cotação em alta, principalmente no segundo semestre de 2014, o brasileiro não abriu mão de viajar ao exterior e ajudou a economia a bater um novo recorde. Os dados do Banco Central divulgados ontem mostram que os brasileiros gastaram US$ 25,6 bilhões fora do país no ano passado – acima dos US$ 24,9 bilhões de 2013. "Se você tem tempo para viajar, pode comprar a moeda aos poucos, mitigando o prejuízo ou o lucro que teria com uma variação do dólar", orienta Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.

A valorização do dólar implica, ainda, aumento de preços no mercado interno, pois há produtos nacionais que se valem de insumos estrangeiros e também porque o câmbio pressiona as commodities, como os grãos, que podem chegar mais caros ao consumidor final.

Exportadoras têm "proteção natural"

Empresas exportadoras conseguem diluir possíveis perdas com o reajuste dos empréstimos por meio do aumento de lucro advindo do novo câmbio, já que recebem em dólar e convertem os pagamentos para real – essa condição é considerada um "hedge natural", que oferece blindagem em situações assim.

Também ficam menos expostas as companhias que se lançam com cuidado à captação externa. "Empresas que têm boa gestão financeira já previam a possibilidade de o mercado de câmbio apresentar esse comportamento. Muitas vezes, captam projetando um câmbio mais alto", diz o professor Jairo Ferracioli, especialista em Comércio Exterior e Logística da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

Outro fator que reduz riscos é o perfil atual da dívida externa privada: 77,9% do passivo é de longo prazo, o que permite que as companhias se adequem para arcar com a elevação de custos. Entre a dívida de curto prazo, quase a totalidade, 97%, está concentrada no sistema bancário, que tem lastro para enfrentar esse tipo de situação.

Ficam ameaçadas, nesse cenário, as empresas menores, que nem sempre usam mecanismos de proteção, como prefixação do câmbio, nas captações externas. "Uma subida mais intensa do dólar pode destroçar o capital de giro das empresas de pequeno e médio porte", diz o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo.

A expectativa de intensificação da alta do dólar ao longo do ano prejudica as empresas brasileiras que têm dívidas a ser pagas na moeda americana e ocorre justamente no momento em que o nível do endividamento externo privado atinge o maior patamar da série histórica – US$ 208 bilhões no terceiro trimestre de 2014, conforme o dado mais recente. Em um intervalo de cinco anos, desde o terceiro trimestre de 2009, a dívida cresceu 86%.

O crescimento do endividamento foi provocado nos últimos anos por uma combinação entre bom momento da economia nacional, oferta de crédito no pós-crise e relativa estabilidade do câmbio – entre 2012 e 2013, a moeda ficou cerca de um ano com volatilidade reduzida, cotada a aproximadamente R$ 2,05. Essa combinação de fatores motivou muitas empresas a contrair empréstimos no exterior, em busca de taxas de juros mais baixas que as nacionais e com convicção de que o câmbio seguiria em equilíbrio.

O problema é que o patamar do dólar subiu, variando hoje entre R$ 2,60 e R$ 2,70, e cria dificuldades para que a captação feita anteriormente seja honrada, já que encarece o valor do financiamento. "Em dois anos, uma dívida contraída no exterior ficou 30% mais cara. É uma elevação violentíssima", diz Bruno de Conti, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O efeito imediato desse novo cenário deve ser um freio no endividamento externo. "Os agentes do mercado estão inseguros sobre o que está por vir. Então, a tendência é de que evitem o risco cambial ou que façam captações de forma protegida", afirma de Conti.

Para os economistas, o novo nível do dólar não é capaz de provocar risco sistêmico. O cenário, por exemplo, é diferente do de 2008, quando companhias como a Aracruz tiveram grandes prejuízos com a depreciação do real. O gatilho para que as dificuldades se agravem seria a ascensão da moeda para R$ 3,00, o que é pouco provável – o mercado espera que, no fim deste ano, o dólar esteja cotado a R$ 2,80, conforme informações do relatório Focus, do Banco Central.

Para Gilberto Nobre, professor de finanças da BBS Business School, a degradação das contas do governo também ameaça às captações externas. "Se o Brasil perder a nota de grau de investimento, teremos um risco grande. Como grandes fundos só podem investir em países que têm essa nota, a captação seria muito prejudicada", diz.

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