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Um dia depois de o Brasil ter a nota de crédito rebaixada de BBB para BBB- pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, o dólar comercial abriu a sessão em alta, mas inverteu o sinal. Às 9h41m, a moeda americana se desvalorizava 0,04% cotada a R$ 2,319 na compra e R$ 2,321 na venda. Na mínima do dia, a moeda caiu a R$ 2,318 e na máxima foi negociada a R$ 2,332. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o principal índice do mercado de ações (Ibovespa) abriu em alta e às 10h07m se valorizava 48.162 pontos.

No mercado futuro, o contrato da moeda americana com vencimento em abril avançava 0,17%, para R$ 2,333.

A Standard & Poor's rebaixou também rebaixou os ratings de crédito em moeda estrangeira das estatais Petrobras e Eletrobras de 'BBB' para 'BBB-', o que pode ter reflexo nas ações dessas empresas na Bolsa de Valores de São Paulo.

"Em razão de nossa expectativa de ajuda do governo, esperamos que os ratings da Petrobras e da Eletrobras continuem se movimentando junto do rating soberano", afirmou a S&P.

Também foi rebaixado o rating da Samarco Mineração, empresa de capital fechado controlada pela Vale e pela BHP Billiton. A nota passou de 'BBB' para 'BBB-', refletindo a avaliação de que a empresa é uma subsidiária "estrategicamente importante" para a Vale.

"O rebaixamento já era esperado por todo o mercado, mas a surpresa ficou por conta do prazo. Após o anúncio do governo de meta de superávit primário de 1,9% do PIB e o contingenciamento do Orçamento em R$ 44 bilhões, esperava-se o rebaixamento para o período eleitoral ou início do próximo ano", diz em nota divulgada nesta manhã o analista William Castro Alves, da XP Investimentos.

O professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, esperava que o rebaixamento do rating de longo prazo do Brasil acontecesse apenas no segundo trimestre do ano. Para ele, entretanto, a situação da economia brasileira já apresentava os sintomas de que isso aconteceria de qualquer forma.

"A questão fiscal do país era um dos pontos que mais preocupava. O governo anunciou um superávit primário de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), que dificilmente será cumprido com um crescimento econômico de apenas 1%, como prevê o mercado. Nos bancos estatais, a concessão de crédito vem crescendo a uma taxa mais forte do que nos bancos privados. Isso pode se tornar um problema no futuro. O governo segura os preços administrados e cria uma inflação reprimida. Na questão da energia, por exemplo, há muita incerteza e não se sabe exatamente como o governo vai repassar recursos às distribuidoras para compensar as perdas. A conta de luz só vai subir em 2015. Com a Petrobras é a mesma coisa, já que o preço dos combustíveis não é reajustado para se igualar ao mercado internacional", diz Camargo.

Ele lembra ainda que o déficit da Previdência Social é subestimado, o que poderá causar mais impacto no caixa do governo.

Para ele, o fato de a S&P ter mantido a perspectiva do Brasil estável foi 'menos pior' do que se esperava.

"Ou seja, antes de perder o grau de investimento, a S&P deu um sinal para que o governo reaja", afirma Camargo.

O ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, avalia que os efeitos negativos do rebaixamento sejam mitigados pelo fato de a S&P ter mantido a perspectiva do Brasil em estável. Na prática, a notícia já era bastanta esperada pelo mercado. Para ele, mesmo com o governo fazendo esforços para recuperar sua imagem de austeridade, anunciando um corte de R$ 44 bilhões no orçamento e um superávit primário de 1,9% do PIB, não houve êxito.

"O governo não conseguiu reconstruir sua política fiscal. Os bancos públicos são uma fonte de preocupação. As contas externas estão ruins com o modelo de crescimento que favorece o consumo adotado por Brasília nos últimos anos. Há falta de capacidade de oferta e dificuldades de competitividade. Foi isso que abriu o buraco nas contas externas", afirma Loyla.

Para ele, a S&P manteve a perspectiva estável do rating de longo prazo do país e vai avaliar o que acontecerá com a economia neste ano, em que as eleições dificultam ajustes.

"Será um ano em que o Brasil ficará com a faca na cabeça. Num ano eleitoral é difícil fazer ajustes. Também temos uma mudança da política monetária nos Estados Unidos, com redução de liquidez, que já cria um amabiente menos favorável ao Brasil. Se perdemos o grau de investimento, aí sim a situação se complica", diz Loyola.

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