Mais baladeiro
Perfil do curitibano mudou
O perfil do típico curitibano mudou nos últimos anos. O público que antes ficava em casa com a família agora aproveita a variedade de locais para curtir a noite. A prova disso é o aumento da clientela nos bares e restaurantes da capital paranaense, refletido de forma direta no crescimento desse tipo de comércio.
Para Gustavo Haas, a cidade não é a mesma de dez anos atrás. Diante das novas opções que surgiram, o consumidor é estimulado a sair de casa. "No Taco só trabalhávamos eu e minha esposa. Hoje, contando todas as minhas participações, tenho até 300 funcionários", conta.
O estímulo para que o consumidor é tanto que até os dias de maior movimento nos bares estão diversificados. De acordo com Giocondo Artigas, os empreendimentos do seu conglomerado atraem clientes todos os dias da semana. "Antigamente a maior movimentação era de quinta a domingo. Agora é possível encher uma casa de segunda a domingo. É só saber atrair o público", afirma. Exemplos são o Taj, que atinge sua maior lotação em plena segunda-feira, enquanto terça-feira é o dia mais movimentado no Santa Marta.
Em relação ao novo perfil do curitibano, Délio Canabrava diz que a principal causa foi a influência de moradores de outras cidades, principalmente os cariocas, paulista e mineiros. "Eles saem mais, não são tão caseiros e acabam influenciando os amigos curitibanos. Se dependesse somente dos moradores daqui, acredito que não teríamos tantas diferenças nos últimos anos", analisa.
O empresário destaca também o aumento dos encontros de negócios como um fator do aquecimento do mercado. "Eu recebo muita gente fazendo negócios. Vão lá, conversam e na saída pedem a nota fiscal para a empresa", afirma.
Mapear os bares e casas noturnas de Curitiba não é tarefa difícil. Grande parte dos estabelecimentos de sucesso da cidade, e que atrai parcela significativa do público, está concentrada em regiões específicas. São duas principais áreas: a tradicional avenida do Batel, no bairro de mesmo nome, e as cercanias da rua Itupava, no Alto da XV. De acordo com dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a região do Batel teve crescimento de 20% no número de bares e restaurantes no ano passado, enquanto o aumento no bairro Alto da XV foi de 36%.
Para o presidente da entidade, Luciano Bartolomeu, o desenvolvimento é consequência direta da mudança de perfil dos curitibanos, que, graças ao aumento do poder aquisitivo, estão saindo e consumindo mais (leia mais nesta página).
Pionerismo
Outra característica que chama atenção no universo de bares e casas noturnas da cidade é o fato de boa parte deles estar nas mãos de poucos empresários. O pioneiro é Gustavo Haas. Há 17 anos, junto com a esposa, abriu o mexicano Taco El Pancho ? à época, uma novidade no mercado curitibano por ser ao ar livre. ?O nosso negócio foi crescendo passo a passo. Investimos aos poucos no Taco e fomos aperfeiçoando os serviços, até que observamos a chance de crescer naquele espaço?, afirma o empresário.
Ao longo dos anos, Haas comprou os espaços ao lado e foi inaugurando outros bares com diferentes temáticas: Soviet, com vertente russa, Sheridans, com ambiente irlandês, e o Peggy Sue, com atmosfera inspirada no rock?n roll norte-americano ? junto com o Taco El Pancho, o grupo é conhecido como o ?Quarteto Fantástico?. Além desses, o empresário é sócio em outros dois estabelecimentos da cidade: o Bar Curityba e o espanhol Gonçalez e Garcia.
O conglomerado de bares sob o comando de poucos empresários ficou ainda mais evidente quando Haas firmou parceria, no ano passado, com Giocondo Artigas Neto e Gustavo Andrade, inaugurando o Comenda Bar, no centro da capital. A dupla é proprietária de outro polo de bares na região do Batel: Santa Marta, Es Vedrà e Taj Bar, esse com filial em Balneário Camboriú, Santa Catarina, e que iniciou o avanço do grupo para fora do Paraná.
O início da empreitada dos amigos de infância e que alimentavam o sonho de abrir um bar começou há seis anos, quando perceberam que havia poucas opções em Curitiba. Primeiro abriram o Taj, em novembro de 2004, na época com a metade da capacidade atual. Um ano depois, ampliaram a sociedade e agregaram ao negócio o Santa Marta.
?A nossa estratégia foi de abrir vários bares na mesma quadra, mas que contemplassem públicos variados. O Santa Marta já era um bar mais tranquilo, com música ao vivo e um forte apelo para a gastronomia?, cita Neto. Em busca da fidelidade do público que gosta de frequentar baladas e dançar, lançaram o Es Vedrà, em 2008.
Desbravando a Itupava
Do outro lado da cidade, o pioneirismo de Délio Canabrava conseguiu colocar o Alto da XV no cenário boêmio da capital paranaense. O empresário identificou o potencial da região que, segundo ele, tinha ?demanda reprimida?. ?A maioria do comércio de bares e restaurantes está localizado no Batel e vi que o bairro, em especial a rua Itupava, tinha potencial para abrigar um outro núcleo. Foi uma jogada pensada e que deu certo?, afirma o empresário, pós-graduado em Marketing na Inglaterra.
A história dele e da região são recentes se comparadas com a de Gustavo Haas. Há quatro anos, Canabrava comprou um tradicional restaurante e inaugurou a Cantina do Délio, seu primeiro empreendimento. Após algum tempo trabalhando na região, ele viu que a Itupava ainda tinha espaço para atender o público e resolveu aumentar o investimento, dando origem à confeitaria Bella Banoffi.
Após consolidado, Délio tinha certeza de que o núcleo administrativo do grupo já estava montado e ficaria mais fácil avançar. O passo seguinte foi abrir as portas do CanaBenta e, recentemente, o Estofaria. Em cada um dos quatro projetos, o empresário investiu aproximadamente R$ 300 mil. ?Como o mercado está bem apertado, tem de investir pensando no diferencial do local e no conforto que vai proporcionar ao seu cliente?, diz.
Diferencial
Para o presidente da Abrasel, Luciano Bartolomeu, para conquistar o público curitibano é preciso criatividade. ?Todo projeto que for lançado com um tema original, que tenha novidades e seja atraente, consegue se firmar no mercado. É exatamente esse o perfil que o cliente procura?, afirma, não deixando de criticar alguns empresários que insistem na ideia de que não existe mais espaço para novos comércios no mercado curitibano.
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