• Carregando...
Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Resistência gigante traz avanços à nanotecnologia

Os efeitos relatados pelos cientistas Albert Fert e Peter Grünberg, ganhadores do Nobel de Física na última terça-feira, tiveram na indústria de HDs sua maior, mas não única, repercussão. Exemplo de outras práticas atuais que se valem da resistência gigante está no campo da nanotecnologia aplicada à computação.

De acordo com especialistas, a verdadeira revolução das descobertas ainda está por vir. Essa tese é sustentada pelo fato de que as propriedades da resistência gigante são um dos "efeitos quânticos" – que surgem quando os átomos são confinados em espaços muito pequenos. Os pesquisadores já começaram a dominar maneiras de manipular e medir tais efeitos, o que pode resultar em equipamentos menores e mais sofisticadas para o armazenamento de dados.

O fenômeno também é o berço da spintrônica, tecnologia que explora a propriedade de rotação dos elétrons (spin significa "giro" em inglês). A partir desse campo, acreditam os cientistas, será possível usar não apenas as cargas, mas também o estado dos elétrons para aumentar a capacidade de memória dos aparelhos eletrônicos e para criar memórias que não percam dados na ausência total de energia.

Memória flash

Vale ressaltar que, nos últimos 4 anos, os principais avanços no armazenamento de informações em pouco espaço estão mais ligados aos chips de memória flash do que à resistência gigante. As placas flash integram pen drives, cartões de memória, celulares, PDAs e MP3 players mais simples. A limitação desses drives sólidos (denominados assim porque não giram como os HDs) ainda está no preço e no tamanho. O iPod Nano, por exemplo, embarca memória flash e tem capacidade máxima de 8 GB – 20 vezes menos que o top de linha equipado com disco rígido.

O efeito descoberto pelos dois ganhadores do Prêmio Nobel de Física deste ano é chamado de "magnetorresistência gigante", mas ele possibilitou exatamente o oposto do que seu nome faz supor: a miniaturização de aparelhos eletrônicos em uma escala nunca antes vista. Em última análise, os artigos do francês Albert Fert e do alemão Peter Grünberg, que relataram o fenômeno em 1988, possibilitaram o surgimento do iPod, do tocador portátil de vídeo e de notebooks cada vez mais poderosos.

Por tabela, os cientistas deram um forte impulso à indústria da informática e à era da informação. "Não consigo lembrar de outra teoria que tenha tido um impacto tão grande entre os fabricantes de discos magnéticos", disse o físico Phil Schewe, porta-voz do Instituto Americano de Física, logo após o anúncio da Real Academia Sueca, instituição responsável pelo Prêmio Nobel. "Praticamente todos nós temos em casa três ou quatro aparelhos que dependem do armazenamento de bilhões de bits em algo do tamanho de uma moeda", completou.

Essa diminuição no tamanho dos equipamentos foi possível, em grande parte, graças a propriedades físicas – e não aos constantes avanços da ciência da computação. Dentro do HD, um disco metálico gira em altíssima velocidade enquanto um braço mecânico passa sobre ele constantemente, em um sistema que guarda muitas semelhanças com os antigos tocadores de vinil (veja infográfico ao lado). Só que, em vez de uma agulha, a ponta do braço de um HD tem um sensor eletromagnético que nunca encosta no disco – sob o risco de riscá-lo. É essa cabeça que lê as informações gravadas magneticamente no HD.

Funciona assim: no disco metálico, cada bit dos programas e arquivos assume sua forma física – pequenas áreas com determinada orientação magnética. Na hora da leitura de uma informação, essa carga magnética é registrada pelo sensor e enviada, já traduzida em zeros e uns, para os circuitos do computador. Por outro lado, o sensor também é capaz de registrar novos dados ao alterar a orientação magnética das partículas existentes na superfície do disco.

Antes do estudo de Fert e Grünberg, a única maneira de aumentar a capacidade dos HDs era diminuindo o tamanho das partículas magnéticas para que mais informações coubessem em um mesmo espaço físico. O efeito colateral da redução é que, quanto menor o registro, menor o sinal magnético emitido por ele. Conseqüentemente, mais difícil ficava para os sensores tradicionais captarem sua orientação.

Trabalhando separadamente, os cientistas perceberam que camadas alternadas e muito finas de diferentes metais poderiam interpretar mudanças magnéticas extremamente sutis – e transformá-las em alterações elétricas "gigantes". Em outras palavras: a área ocupada no disco pelo bit pôde diminuir drasticamente e, mesmo assim, continuava produzindo os sinais elétricos que são entendidos pelo computador como código binário.

Nove anos após a publicação das descobertas, a IBM lançou comercialmente o primeiro produto baseado na teoria da magnetorresistência gigante: um disco rígido de 16 GB. Em 1997, portanto, a "Big Blue" foi a empresa pioneira, que transformou os estudos científicos de Fert e Grünberg economicamente viáveis para o mercado. Logo, toda a indústria se abraçou aos achados e a densidade dos HDs começou a dobrar anualmente. Antes disso, a relação de número de bits por área ocupada crescia num ritmo bem mais lento (60% ao ano, em média).

Ao fim e ao cabo, é toda essa história que explica a existência de um iPod de 160 GB de capacidade e mísero 1,3 centímetro de espessura.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]