• Carregando...
Quando as coisas voltarem a andar: quais os setores mais e menos afetados na economia
| Foto: Bigstock

No mundo varrido pela pandemia do novo coronavírus e diante do cenário de incertezas, poucos se arriscam em fazer previsões econômicas. Alguns insights vêm de exemplos que já podem ser observados no Brasil e sobretudo na China, país que já passou pela fase do pico da epidemia e aos poucos está retomando as atividades econômicas.

Com a indústria e o comércio praticamente parados, há poucas dúvidas de que o Brasil entrará em recessão neste ano. O único setor que deve passar imune ou pelo menos com poucos estragos é o agronegócio, que representa 25% do Produto Interno Bruto. No setor de serviços, algumas empresas, sobretudo da área da tecnologia, devem sair fortalecidas.

As companhias que oferecem serviços à distância como teletrabalho, telemedicina e educação já estão mostrando sua força. A tendência veio para ficar, de acordo com estudo da consultora Bain & Company, que analisou o comportamento da economia chinesa nas últimas semanas. A publicação aponta os setores mais e menos afetados pela crise.

"Essa crise está trazendo aprendizado para as empresas. Elas têm que reduzir fortemente seus custos fixos e se utilizar mais da tecnologia para o trabalho em home office. Se antes, por exemplo, uma empresa trabalhava com 50 pessoas, agora trabalha com 30. Depois da crise, muitos desses custos não vão voltar ", avalia Carlos Peres, sócio da PwC Brasil e líder da Região Sul.

Entretenimento (cinema, teatro e eventos), alimentação fora do lar e turismo (hotéis e viagens) são os segmentos que mais sofrem no momento e também os que devem ter a recuperação mais lenta. Ainda mais se o perigo da disseminação do vírus permanecer até que se encontre uma vacina, período que a comunidade científica calcula em 12 a 18 meses.

Entre os dois opostos estão setores que apresentam queda importante, mas podem viver um pico no pós-pandemia. É o caso dos eletrodomésticos, produtos de beleza e varejo, como roupas, calçados e acessórios. Outras áreas como serviços de internet, produtos de limpeza e sanitários (álcool em gel, máscaras e proteções individuais por exemplo) estão passando agora por um pico, mas devem se estabilizar após a emergência.

Com o motor da economia no mínimo – apenas os serviços essenciais funcionam na maioria dos países -, governos e bancos centrais ao redor do mundo buscam evitar o colapso do por meio de algumas medidas: injetar liquidez no sistema financeiro para facilitar o acesso ao crédito, adiar a cobrança dos impostos para as empresas e oferecer ajuda financeira a famílias e trabalhadores.

"O mundo pós-pandemia vai ser de dívida alta e juros baixos. Essa liquidez alta pode ser indutor para o consumo de bens duráveis e eventualmente para o setor imobiliário", avalia Marcos Ross, economista sênior da XP Investimentos. Ele alerta que se a crise perdurar, o perigo é que o contágio se transfira da economia real para o sistema financeiro. "O setor está entre a cruz e a espada: há a pressão vindo do setor real para dar liquidez ao sistema, ao mesmo tempo que os bancos tentam manter caixa para sobreviver", explica.

Comércio e serviços

A experiência chinesa ensina que, após o afrouxamento das restrições, o comércio não decola rapidamente porque as pessoas são céticas ou têm medo de retornar à rua. O exemplo mais evidente é a queda no movimento de bares e restaurantes e, no geral, de ambientes fechados. Estádios, baladas, shows, cinemas e teatros devem ficar fechados por longo tempo.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) mostra que em março os segmentos do comércio mais impactados são em parte ligados a revendedores de bens duráveis e semiduráveis, como veículos, motos e peças (46,4%), material para construção (39,9%) e tecidos, calçados e vestuário (37,2%).

Apenas 18% das empresas de hiper e supermercados reportaram problemas em março, o que sugere algum efeito do isolamento, considerando que as pessoas precisavam se abastecer para que pudessem ficar em casa por longos períodos.

"O cenário para os próximos meses causa preocupação para empresas e consumidores. O impacto econômico mundial já está anunciado e os efeitos sociais e no bem-estar das pessoas serão grandes. Observa-se uma queda da confiança em todos esses setores, cautela dos consumidores", avaliam Rodolpho Tobler e Viviane Seda Bittencourt, pesquisadores do Ibre/FGV, que assinam o estudo.

O setor de serviços, que representa 63% do PIB, é o que apresenta menor preocupação atualmente, de acordo com o estudo da FGV. Apesar disso, cresce a inquietação para os próximos meses, principalmente nos segmentos de transportes, serviços auxiliares e atividades imobiliárias.

A recuperação do setor de serviços será diferente da indústria, responsável por 21% do PIB. Após a crise, o setor industrial poderá aumentar as horas trabalhadas para incrementar a produção e tentar compensar os meses perdidos. O mesmo não ocorrerá com os serviços.

“Quando deixa de consumir serviços, é difícil compensar a perda. A indústria pode recuperar o que foi perdido”, afirmou no final de março o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele citou como exemplo a pessoa que não foi ao cabeleireiro durante o isolamento: os cortes não realizados e a receita perdida pelos salões de beleza não será recuperada. Ninguém cortará o cabelo três vezes porque passou meses sem ir ao salão.

Indústria parada

Na indústria, os segmentos que se mostram mais afetados pela pandemia em março foram petróleo e biocombustíveis (88,3%) e química (61,4%), de acordo com o Ibre/FGV. Para os próximos meses, mais de 50% das empresas de 15 dos 19 segmentos pesquisados esperam ser impactadas pela crise.

Entre eles estão máquinas e materiais elétricos, limpeza e perfumaria, informática e eletrônicos, couros e calçados, veículos automotores e metalurgia. A principal preocupação das empresas é com o fornecimento de insumos importados. O segmento do vestuário registrou o menor impacto em suas atividades porque parte da produção foi convertida na confecção de equipamento de proteção individual (EPIs), como máscaras e aventais.

Risco de demissões em massa

Com a economia mundial sob pressão, o risco é de demissões em massa em todos os setores. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 1,25 bilhão de trabalhadores no mundo estão sujeitos a risco "drástico e devastador" de demissões em larga escala, redução de salários e horas trabalhadas.

Um estudo do órgão das Nações Unidas, divulgado no dia 7 de abril, calcula que a crise vai reduzir em 6,7% o número de horas trabalhadas no mundo no segundo semestre de 2020, equivalente a 195 milhões de trabalhadores em tempo integral. Os setores mais afetados são hospedagem, alimentação fora do lar, produção manufatureira, varejo e atividades financeiras.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]