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Mantega: resultado “ficou aquém das nossas expectativas” | Levi Bianco/Brazil Photo Press
Mantega: resultado “ficou aquém das nossas expectativas”| Foto: Levi Bianco/Brazil Photo Press

Resultado

Economia do PR cresceu 1,7% no primeiro semestre

O Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná cresceu 1,7% nos primeiros seis meses de 2014, informou ontem o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). A média foi obtida com a comparação do desempenho econômico do estado do primeiro semestre de 2014 com período equivalente de 2013. A economia nacional, no mesmo período, cresceu 0,5% no mesmo período e na mesma comparação.

O resultado do setor de serviços cresceu 4% e foi o que segurou a média positiva do PIB do Paraná no primeiro semestre. A indústria e a agricultura, por outro lado, fecharam o período em queda de 1,9% e 4,5%, respectivamente.

Os serviços representam 64% de toda a renda no Paraná e foram puxados, especialmente, pelos serviços prestados às famílias, segmento que teve alta de 11,3%. A receita nominal do setor também apresentou resultado positivo, com crescimento de 8% – aumento parecido com a média nacional, que ficou em 7,4%.

No caminho contrário, agricultura e indústria tiveram um início de ano preocupante. "A combinação entre estiagem, estabilização dos preços internacionais e o câmbio defasado retiraram a capacidade de geração de renda do setor", explica o economista do Ipardes Francisco José Gouveia de Castro.

Indústria

A crise generalizada da indústria brasileira foi ainda pior no estado. O setor manufatureiro, por exemplo, apresentou queda de 4,3% no estado, frente à redução de 2,6% no país, no acumulado de janeiro a junho. A fabricação de automóveis foi o grande destaque negativo, com queda de 15,7%.

Previsão

Com o resultado do segundo trimestre, a economia brasileira acumula alta de 0,5% nos seis primeiros meses deste ano e caminha, segundo analistas, para fechar o ano com um crescimento de só 0,7% – se confirmada a projeção, será o pior desempenho desde 2009, quando a queda foi de 0,3%, verificada no auge da crise global.

É ou não é?

A avaliação do governo federal sobre os resultados do PIB difere da maioria do mercado. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, as duas quedas consecutivas não configuram um estado de recessão. Para ele, isso só acontece quando o país fica um longo período registrando quedas no PIB. "Aqui estamos falando de um trimestre, no máximo dois", explica Mantega. O IBGE também não considera que o país esteja em recessão.

Opinião

País tem sinais de recessão típica

Guido Orgis, editor executivo de Economia

"Recessão técnica" é como os especialistas definem dois trimestres seguidos de encolhimento da economia, sempre na comparação com o trimestre anterior. É possível uma economia entrar em recessão técnica e não entrar em recessão? Ou dizer que é "técnica" é só uma forma de maquiar a realidade? Em tese, é possível que uma economia sofra um choque que a deixe em recessão técnica sem que ela enfrente todos os problemas de uma recessão típica. Uma seca muito rigorosa, um tufão que pare a indústria: coisas assim podem parar a atividade sem que os fundamentos sejam necessariamente ruins. Não é o caso do Brasil.

A recessão do primeiro semestre tem os sintomas típicos. Foi ampla, atingiu quase todos os setores, embora nem todos tenham entrado no vermelho. Está acompanhada de fundamentos ruins, como a inflação perto da meta e o congelamento de preços. Atingiu em cheio os investimentos, o que significa que foi percebida pelos agentes econômicos ao longo dos meses. E, mais importante, o período de baixa não será seguido por um salto na produção, como vemos pelos primeiros sinais de julho/agosto. Muito provavelmente a recuperação será lenta, com melhora já no terceiro trimestre, mas sem o retorno a uma "velocidade de cruzeiro" antes de 2015.

Restou uma incógnita na pequena recessão de 2014: o emprego. Os dados do Caged claramente mostram uma piora no mercado de trabalho, com uma geração menor de vagas, mas ainda não se fala em crescimento do desemprego. Há dois fatores aqui que não vão continuar muito tempo no ar. Muita gente está saindo, mesmo que temporariamente, do mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, a pesquisa do IBGE parece precisar de mais tempo para captar o aumento do desemprego, que já aparece nos dados do Dieese. Não foi catastrófico, mas o país caiu na armadilha de deixar a inflação deteriorar as expectativas sobre o futuro.

Conforme já era esperado pelo mercado, a economia brasileira está em recessão. A soma de tudo que é produzido no país apresentou uma retração de 0,6% no segundo trimestre de 2014 e, aliada à revisão do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que caiu 0,2%, o país se encontra no cenário conhecido como recessão técnica, quando a economia do país encolhe por dois períodos seguidos. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

INFOGRÁFICO: Veja a situação econômica do Brasil nos dois primeiros trimestres de 2014

A queda não ficou restrita a um setor. Os serviços caíram 0,5%, puxados para baixo especialmente pela atividade comercial, que encolheu 2,2% de abril a junho. A agropecuária se manteve praticamente estável, com ligeira alta de 0,2%.

Por fim, os piores resultados se concentram na indústria, que registra a quarta queda consecutiva. De uma maneira geral, o setor recuou 1,5%, mas algumas atividades fecharam o período com uma queda ainda mais preocupante: a construção civil encolheu quase 3% e a indústria de transformação caiu 2,4%. "É curioso, pois a indústria concentra a grande maioria dos pacotes de incentivo e recuperação que o governo federal lançou nos últimos meses", afirma o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília Roberto Ellery.

A última vez que o Brasil passou por um cenário de encolhimento consecutivo foi em 2009, no auge da crise econômica mundial. "Naquele momento, o mundo inteiro sofria as consequências da crise. Hoje, isso é bem questionável. O governo atribui ao cenário externo, mas os Estados Unidos e Europa passam por um período de recuperação muito diferente do mercado interno", afirma o professor de macroeconomia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Sérgio Antunes Valle.

Consumo

O principal motor da economia nos últimos anos, o consumo das famílias, ainda que em alta, confirmou sua desaceleração. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o consumo subiu 0,2% e em relação ao ano anterior o índice aumentou 1,2%. "É pouco e, mesmo assim, o resultado só cresce menos que o consumo do governo. Algo está errado", conclui Ellery. Nos últimos três trimestres, o consumo tinha registrado altas de 2,2%, 2,5% e 2,4%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, culpou o cenário internacional fraco, a seca e a Copa pelo resultado negativo da economia. Ele disse que o resultado "ficou aquém das nossas expectativas" e que a previsão de crescimento de 1,8% para este ano terá de ser revista.

Queda nos investimentos foi a pior parte do PIB

Agência O Globo

Os dados do PIB do segundo trimestre incluem muitos recordes negativos, como indústria, taxa de poupança e construção civil. Mas um dos números chamou a atenção dos analistas, principalmente por também indicar o que pode vir por aí: o nível de investimento, apontado sobretudo pela taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que são os investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil.

O índice teve queda em todas as comparações feitas pelo IBGE. Frente ao trimestre anterior, recuou 5,3%, pior taxa desde o primeiro trimestre de 2009, completando uma sequência de quatro resultados negativos consecutivos. Em relação ao mesmo período de 2013, a contração chegou a 11,2%, também a pior em cinco anos. Com isso, o acumulado em 12 meses, que estava em terreno positivo há quatro trimestres, voltou a ficar negativo, em 0,7%.

Sem otimismo

Para Silvia Matos, professora da Fundação Getulio Vargas, o dado indica que os próximos meses podem continuar fracos daqui para frente, mesmo depois da contração de 0,6% no segundo trimestre. "Há quatro trimestres o investimento está desabando. Uma parte é explicada pela queda da indústria, que não tem motivos para investir. Por outro lado, esse ciclo de compras de ônibus e caminhões foi temporário. Não há sinal de recuperação rápida", afirma Silvia, que esperava alta de 0,6% do PIB em 2014, e agora revisou a projeção para 0,4%.

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