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Incertezas em torno da autonomia na Petrobras fazem  mercado ler participação de 30% da estatal nas áreas leiloadas pela ANP com maus olhos. | EDSON PASSARINHO/AFP
Incertezas em torno da autonomia na Petrobras fazem mercado ler participação de 30% da estatal nas áreas leiloadas pela ANP com maus olhos.| Foto: EDSON PASSARINHO/AFP

Nesta quinta-feira (7), a Bolsa e o dólar voltaram a assustar investidores e também quem está de malas prontas para as férias de julho. O Ibovespa, índice que reúne os principais papeis da Bolsa brasileira, caiu 2,98%, depois de um pico de mais 6%. O patamar dos 73 mil pontos foi mantido com esforço. Já a moeda norte-americana chegou perto dos R$ 3,95, mas recuou para R$ 3,925 ao fim do dia, com alta de 2,24%. Nas casas de câmbio, no entanto, o dólar turismo era negociado a até R$ 4,30.

A receita para essa tensão no mercado financeiro não mudou muito em relação aos últimos dias, afinal as encrencas comerciais geradas pelos Estados Unidos lá fora e o cenário político conturbado no Brasil, que coloca em risco a agenda de ajuste fiscal, continuam à vista, mas novos ingredientes surgiram: uma alta dose de más expectativas em relação à Petrobras e à participação da estatal nos consórcios que venceram o leilão de áreas do pré-sal realizado Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nesta quinta-feira (7).

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No leilão, três dos quatro blocos oferecidos pela ANP foram arrematados, o que rendeu uma arrecadação de R$ 3,15 bilhões ao governo federal, mas representou também a derrota da estatal em duas áreas, que teve as ofertas superadas por estrangeiras. Ainda assim, a Petrobras resolveu entrar com participação de 30% nos consórcios vencedores, algo que lhe é garantido por lei, mas que, num momento como esse, não é muito bem visto pelo mercado. As ações da Petrobras que fazem parte do Ibovespa (PETR4) caíram 3,49%, tendo chegado a mais de 6% de queda ao longo do dia.

Analistas dizem que investidores estão testando limites do BC

Entre o fim da manhã e o início da tarde desta quinta-feira (7), diante da turbulência, Banco Central e Tesouro Nacional agiram conjuntamente. O BC vendeu integralmente oferta adicional de até 40 mil novos swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares. Mais cedo, já havia vendido todo o lote que vem ofertando de até 15 mil novos swaps (US$ 750 milhões). Vendeu integralmente também os 8.800 swaps para rolagem do vencimento de julho, somando US$ 2,2 bilhões do total de US$ 8,762 bilhões que vencem no próximo mês.

Já o Tesouro vendeu títulos públicos com vencimentos entre 2019 e 2055, com compromisso de recompra. “O Tesouro tem uma posição muito confortável, um colchão de liquidez que permite que não agregue risco e contribua para reduzir o risco do mercado. O Tesouro tem feito isso por meio de leilões de recompra”, comentou na tarde desta quinta-feira (7), o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.

Para ele, a situação atual do Brasil é distinta do que ocorria no passado. “O BC tem monitorado o movimento do câmbio, temos feito algumas intervenções, o câmbio é flutuante. Hoje o Brasil é credor líquido em dólar, o que é diferente do passado. Antes quando o dólar desvalorizava piorava a situação fiscal, isso não acontece hoje.”

Analistas apontam que investidores estão testando o Banco Central para avaliar até onde ele consegue segurar com os swaps tradicionais e, assim, pressionar por intervenções ainda mais fortes, como leilões de linha quando o Banco Central vende dólar à vista, mas com compromisso de recompra.

Na prática, a compra de um contrato de swap pelo BC funciona como uma injeção de dólares no mercado futuro.

"O Banco Central poderia entrar hoje no mercado comprando e vendendo dólares. Pensando em oferta e demanda, ele daria um choque de oferta e, assim, o valor diminuiria. Mas essa não é uma política que o BC tem demonstrado que gostaria de usar", diz Joelson Sampaio, professor da FGV EESP (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).

A situação cambial do Brasil se deteriora conforme as eleições de outubro se aproximam e pesquisas de intenção de voto não comprovam o avanço de candidatos considerados pelo mercado como comprometidos com o ajuste fiscal.

Assim, incertezas no front político nacional afastam investidores, ao mesmo tempo em que expectativas de alta de juros nos Estados Unidos atraem fluxo de capital até então alocado em países emergentes para a economia americana, mais sólida e menos arriscada. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fará nova decisão sobre juros na próxima semana, e a projeção dos especialistas é de alta.

Entenda o que é swap

O swap ("troca", em inglês) é uma operação para liquidação em data futura que promove a troca de taxas ou rentabilidade de ativos financeiros entre agentes econômicos.

Um swap tem sempre duas pontas, uma que aposta na variação dos juros (compradora) e outra que aposta na variação do dólar (vendedora).

Normalmente, o Banco Central assume a ponta compradora e os investidores assumem a ponta vendedora.

No fim do prazo do contrato, o BC recebe a variação de juros (taxa Selic) durante o período em que vigorou o contrato e paga ao investidor a variação do dólar ocorrida no mesmo período, além de uma taxa de remuneração com base anual ("cupom cambial").

Ou seja, quem vende esse contrato fica protegido caso a cotação do dólar aumente, mas tem de pagar a taxa Selic para o comprador, no caso o BC.

"É como se o Banco Central dissesse que vai fazer uma operação e, no futuro, o investidor poderá comprar dólar a R$ 3,50. Se no futuro o dólar estiver mais baixo, o BC ganha, porque continua recebendo os R$ 3,50. Se o dólar sobe, no entanto, o banco perde", explica Sampaio.

O objetivo dessas operações é oferecer hedge cambial —proteção contra variações excessivas da moeda americana em relação ao real— e liquidez ao mercado de câmbio.

"Geralmente, quando o Banco Central faz essas operações, ele não está buscando ganhar, por isso, no final, ele costuma perder. O que ele quer mais é trazer equilíbrio para o mercado", acrescenta Sampaio.

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