O dia a dia da estatal Eletrobrás não tem sido fácil desde a renovação das concessões elétricas, em 2012. Para se adequar à nova realidade, com queda de receita e piora nos indicadores financeiros, o grupo já demitiu mais de 4.400 funcionários, reduziu em média 16% os gastos gerais e ainda deve trocar sua sede, no centro do Rio, por um anexo no prédio de Furnas, no bairro de Botafogo, para economizar o aluguel. Tudo isso, porém, não foi suficiente para melhorar os indicadores.

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Desde o início do processo de renovação - que foi estabelecido pelo governo como uma forma de baratear o custo da geração de energia e, assim, conseguir chegar ao desconto de 20% prometido na conta de luz -, a estatal perdeu R$ 19,2 bilhões em valor de mercado e praticamente enterrou o sonho de se tornar a Petrobrás do setor elétrico.

As condições para antecipar a renovação das concessões de geração e transmissão de energia que venceriam em 2015 e 2017 foram lançadas em 2012. A proposta previa indenização pelos ativos ainda não amortizados em troca da queda drástica no valor da energia vendida. O problema é que o valor da indenização ficou abaixo dos cálculos do mercado e dos números das próprias empresas.

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A Eletrobrás esperava receber cerca de R$ 30 bilhões, mas foi obrigada a aceitar os R$ 14,4 bilhões propostos pelo governo - seu principal acionista. Além de causar uma bagunça no setor, deixando as distribuidoras sem contrato de fornecimento garantido de energia, o plano federal fez as receitas da estatal despencaram. Resultado: em 2012, a Eletrobrás teve o maior prejuízo da história das empresas de capital aberto, de R$ 6,8 bilhões. De lá pra cá, os indicadores seguiram o ritmo do setor elétrico e só pioraram.

Segundo levantamento da consultoria Economática, com base no último balanço, a rentabilidade da empresa - em 12 meses até setembro - estava negativa em 15,59%. A margem Ebitda (geração de caixa) também está no vermelho: -38,46% - esse indicador mede a lucratividade da empresa.

Por enquanto, os investimentos não foram afetados por causa da indenização do governo. Até setembro de 2013, ela havia recebido R$ 8,8 bilhões dos R$ 14,4 bilhões. Cerca de 70% dos projetos são financiados pelo BNDES. Só 30% saem do caixa da estatal, que tem sido minoritária nos empreendimentos.

O problema é que uma hora a indenização vai acabar, destaca o analista da J. Safra Corretora, Sérgio Tamashiro. Ele diz que o início de operação de alguns projetos pode aliviar um pouco o caixa da estatal. Mas o retorno dos projetos é baixo. Relatório do JP Morgan mostra que hidrelétricas - com participação da Eletrobrás - estão com rentabilidade reduzida: em Jirau, a taxa é de 3,2%; Santo Antônio, 5,9%; e Belo Monte, 7,2%.