• Carregando...
Guilherme Vialle, da VCG: agora só interessados em um apartamento deixam o carro na área que já abrigou um estacionamento | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Guilherme Vialle, da VCG: agora só interessados em um apartamento deixam o carro na área que já abrigou um estacionamento| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Negociação

Pagamento pode incluir posse de novo estacionamento

As aquisições de terrenos de estacionamentos podem ser pagas de diversas maneiras. Quando o proprietário recebe o valor correspondente em apartamentos, a transação é chamada de "permuta total". Uma das formas mais comuns, porém, é o dono do estacionamento receber uma parte em dinheiro e outra em área construída, mas há ainda a possibilidade de os proprietários ficarem com o estacionamento dos futuros prédios comerciais, para serem explorados comercialmente.

"Os estacionamentos de Curitiba cobram um valor muito baixo pela hora e pelas taxas mensais. Por essa razão, a rentabilidade do estabelecimento muitas vezes não faz frente às propostas das construtoras e é mais vantajoso vender o terreno ou participar da incorporação. Mas, depois de um período, quando houver menos estacionamentos, o valor deve se estabilizar em um patamar mais alto. Aí haverá um balanço entre a rentabilidade e as propostas das incorporadoras, que podem deixar de valer a pena", explica Guilherme Vialle, diretor de incorporações da VCG.

A valorização dos terrenos acompanha o ganho de preço do metro quadrado construído no Centro de Curitiba. De acordo com a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR), o preço do metro quadrado total de um apartamento de dois quartos no Centro da capital passou de R$ 2.371 em 2010 para R$ 2.864 neste ano – uma alta de 20%. O preço da área privativa do mesmo apartamento teve aumento de 10%, passando de R$ 4.375 para R$ 4.854. Mas foi o apartamento de um quarto que teve a maior valorização no Centro da cidade: o metro quadrado da área privativa passou de R$ 3.711 para R$ 4.552, alta de 23%.

Devido aos valores cobrados pelo metro quadrado da área construída, o presidente da Ademi-PR, Gustavo Selig, acredita que o preço pago aos estacionamentos da região central está sofrendo uma valorização especulativa. "A compra de estacionamentos é uma tendência nas grandes cidades, por causa da facilidade do fechamento do negócio, já que o terreno está livre e não há necessidade de demolir construções mais antigas para dar espaço. Porém, este preço exercido pelas construtoras apresenta uma falsa valorização, que é prejudicial ao mercado. Não há como pagar tão caro pelo terreno, porque não vale a pena", ressalva Selig.

Luiz Valdir Nardelli, vice-presidente de Administração de Imóveis do Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), avalia que apenas os estacionamentos com grandes áreas devem continuar a receber ofertas. "As incorporadoras têm um orçamento bastante justo e só vão comprar áreas que realmente apresentam interesse. Além disso, as construtoras só irão pagar o valor de mercado, nada mais do que isso", ressalta. (JPS)

Os estacionamentos privados são uma das últimas fronteiras imobiliárias na região central de Curitiba e as ofertas das construtoras pelos terrenos não param de subir. O valor oferecido hoje é pelo menos quatro vezes maior que há três anos: enquanto em 2008 o preço do metro quadrado da área de um estacionamento não chegava a R$ 1 mil, atualmente a proposta pode ultrapassar facilmente os R$ 4 mil por metro quadrado.

Para convencer os proprietários a fechar o negócio, as incorporadoras oferecem verdadeiras fortunas para realizar seus empreendimentos. Em um estacionamento na região da Praça Carlos Gomes, no Centro de Curitiba, por exemplo, o terreno de 1,5 mil metros quadrados foi vendido, segundo funcionários, por R$ 5,5 milhões – cerca de R$ 3,7 mil o metro quadrado. A área ao lado, onde funciona outro estacionamento, foi comprada por R$ 2,5 milhões. No local deve ser er­­guida uma torre de 30 andares, com cerca de 400 apartamentos residenciais.

A forte valorização dos terrenos de estacionamentos ocorreu nos últimos três anos. Em 2008, uma reportagem da Gazeta do Povo mostrou que um estabelecimento de 2 mil metros quadrados na Avenida Marechal Floriano Peixoto, também no Centro da capital, havia recebido uma proposta de R$ 1,7 milhão – na época, o metro quadrado estava na faixa de R$ 850, quase 25% do valor pago na negociação fechada recentemente na mesma região.

Disputa

Apesar do alto valor pago, analistas do mercado imobiliário informam que as propostas podem ser muito maiores, variando de acordo com o potencial do terreno. "Como a oferta de terrenos está bastante reduzida, estes terrenos têm se valorizado cada vez mais. Por isso a disputa entre as construtoras está muito grande. Em terrenos mais nobres, já chegamos a pagar R$ 7,5 mil pelo metro quadrado", revela Guilherme Vialle, diretor de incorporações da VCG, que já adquiriu dois estacionamentos para construir edifícios comerciais e residenciais.

Um dos empreendimentos da incorporadora, no bairro Batel, será um prédio residencial de dez andares com 18 apartamentos de 120 m2. O terreno, onde funcionava um antigo estacionamento, foi comprado há um ano e o preço do metro quadrado foi de R$ 2,5 mil. O outro prédio, no bairro Água Verde, terá 14 andares com salas comerciais que variam de 50 a 500 m2. A VCG comprou o terreno há dois anos e o preço do metro quadrado também foi de R$ 2,5 mil. "Neste período a valorização média dos terrenos ficou entre 40% e 50%", ressalta Vialle.

Prédios comerciais

Atualmente o Centro de Curi­tiba tem 433 estacionamentos privados e a maioria deles apresenta alguma vantagem às incorporadoras. "Esses estabelecimentos têm um potencial muito bom de terreno disponível e geralmente estão muito bem localizados, próximos de áreas com grande fluxo de pessoas. Esses fatores são muito requisitados pelas construtoras", avalia Marcos Kahtalian, consultor do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná (Sinduscon-PR).

Uma das principais razões para o avanço das construtoras sobre os estacionamentos é a baixa oferta de prédios comerciais em Curitiba. "Na cidade as salas comerciais estão em imóveis mais velhos, há poucos prédios novos para as salas comerciais. Hoje é possível ver conjuntos comerciais vazios, mas isso acontece porque são velhos. Os novos têm uma procura muito grande. Mesmo assim, o Centro ainda demanda novos lançamentos comerciais", analisa Luiz Valdir Nardelli, vice-presidente de Administração de Imóveis do Sindicato da Ha­­bi­tação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR).

Essa baixa oferta de empreendimentos, porém, tem hora para acabar, segundo Kahta­lian. "No momento atual há poucos imóveis comerciais, mas as construções realizadas agora devem estabilizar o mercado em dois anos", salienta o consultor do Sinduscon-PR.

Deixar o carro no Centro já está mais caro

A diminuição de vagas em estacionamentos privados começa a dar sinais de que os motoristas que vão ao Centro de Curitiba devem encontrar preços cada vez mais salgados para deixar os seus carros. Na mesma quadra do estacionamento vendido por R$ 5,5 milhões, há outros três estabelecimentos que hoje cobram pela hora entre R$ 5 e R$ 7 – o dobro do cobrado há três anos, quando a média da primeira hora era de R$ 3, segundo o Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado do Paraná (Sindepark-PR). O reajuste supera de longe a inflação oficial – segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta dos preços no mesmo período foi de 19,4%.

Apesar da alta nos últimos anos, os motoristas podem esperar preços ainda maiores no futuro. No caso do estacionamento vendido na região central, os concorrentes já sugerem um aumento do valor cobrado pela hora assim que a obra começar. "Quando [o estacionamento vendido] parar de funcionar, o preço [dos demais] vai subir com certeza", garante um funcionário.

Alternativas

Como a quantidade de vagas tende a diminuir e o valor deve aumentar, uma alternativa para o motorista que não quer se estressar procurando um estacionamento será deixar o carro em casa e procurar soluções alternativas. O movimento viria ao encontro das ações da Prefeitura de Curitiba, que planeja dar mais espaço para os pedestres na região central. A exemplo do Calçadão da XV de Novembro, há o projeto de transformação da Avenida Cândido de Abreu em um espaço destinado para os pedestres. "Esta é uma tendência em grandes cidades: o centro se torna um lugar para o pedestre, porque as construções tendem a se concentrar na região central. Os espaços para deixar os carros vão diminuindo e, com isso, as pessoas podem cada vez mais caminhar pelo centro", analisa Luciano Tomazini, um dos diretores da Rede Imóveis, associação que reúne 12 das principais imobiliárias de Curitiba.

Em contrapartida, a quantidade de vagas do EstaR, sistema rotativo de estacionamento nas ruas da capital, tem aumentado ano a ano. Segundo a Urbanização de Curitiba S.A. (Urbs), em 2006 eram 6,8 mil vagas, enquanto neste ano são 10,4 mil. Há ainda outras 3,5 mil vagas para veículos não pagantes, como motos, táxis e ambulâncias.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]