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Joaquim Levy falou a 185 investidores em palestra nos EUA | Moritz Hager/WEF/Fotos Públicas
Joaquim Levy falou a 185 investidores em palestra nos EUA| Foto: Moritz Hager/WEF/Fotos Públicas

Análise

Chegamos à pior crise desde 1999 e não sabemos quando acaba

Guido Orgis, editor executivo de Economia

O Brasil terá em 2014/2015 o pior biênio desde o período da desvalorização do real, em 1998/1999. A diferença é que, há 15 anos, a crise veio de fora, após uma devastadora corrida cambial nos países emergentes da Ásia, em 1997, seguida pela queda da Rússia no ano seguinte. Desta vez, a recessão veio do esgotamento do modelo de crescimento apoiado no consumo do governo e das famílias, seguido do primeiro déficit público desde que o Brasil arrumou a casa justamente no pós-1999.

Neste momento, o Brasil precisa superar dois problemas principais: a falta de confiança e a falta de competitividade da economia. O ajuste fiscal tem como alvo o primeiro problema. Na teoria, empresários, investidores e consumidores ficam mais confortáveis em um ambiente de inflação baixa, contas públicas saudáveis e regularidade jurídica. Se acreditarem que podem tocar seus negócios sem sustos, muitas empresas terão disposição de investir. A competitividade é um atributo mais complexo. Melhora com a volta dos investimentos, mas também depende de outras reformas.

Devemos esperar uma piora no mercado de trabalho neste primeiro semestre, mas gradual e localizada em setores mais afetados pela crise, como o automotivo. Os juros vão continuar altos enquanto a inflação não ceder, o que vai demorar justamente por causa do ajuste em preços controlados. Para muita gente, o primeiro semestre do ano é um caso perdido. E o retorno do crescimento está ficando para 2016.

Pela primeira vez o mercado financeiro passa a projetar recessão para o ano. A expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) encolha 0,42% puxado pelo desempenho negativo da indústria e pelo setor de serviços em desaceleração, segundo previsão do boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central.

INFOGRÁFICO: Veja a situação da economia brasileira em 2015

Simultaneamente à divulgação dos dados, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admitiu, em Nova York, que o crescimento da economia brasileira em 2014 "pode ser negativo" e que 2015 será um ano de desafios. A previsão do mercado e a fala do ministro se somam a um quadro já complexo de inflação elevada, juros em alta e dólar em escalada frente o real.

O PIB de serviços, segundo a Focus, deve crescer 0,40% em 2015, taxa que se confirmada será a menor da história; o da indústria, por sua vez, deve amargar o segundo ano seguido de retração: a projeção é de queda de 0,55%. A pesquisa divulgada ontem mostra ainda que a agricultura deve apresentar o melhor desempenho, um crescimento de 1,80%.

"Esse quadro recessivo de 2015 é relacionado a todos os setores e não só a indústria. É um recuo generalizado", ponderou Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra. "A surpresa de 2015 talvez seja um desempenho medíocre para o setor de serviços", frisou.

Na avaliação dele, a queda do PIB do país se explica, em parte, pelo nível de confiança dos empresários, que está baixo. Oliveira observou também que há uma contração dos investimentos, assim como ocorreu em 2014, agravada pelo risco de racionamento de energia e de água.

Até a semana passada, o mercado esperava que a alta dos juros deixaria a Selic em 12,50% ao ano em 2015, agora, acredita-se que a autoridade monetária pode ampliar o ciclo de aperto da taxa básica, elevando-a para 12,75% até o fim deste ano. O pico do aperto ocorreria em abril, quando o BC colocaria a Selic em 13% ao ano.

Mesmo com uma projeção de mais juros, o mercado não acredita que o BC será capaz de colocar a inflação dentro do limite de tolerância, com teto de 6,5%. A expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), este ano, subiu de 7,15% para 7,27%.

Câmbio

O dólar completa o quadro de complexidade para o ano. Até ontem, quando fechou a R$ 2,844 na venda, a divisa acumulava alta de 7,12% em 2015. Segundo a Focus, a moeda subirá até R$ 2,90 ao fim do ano. Em 2016, chegará a R$ 2,93. Com esse movimento de elevação, há um reflexo direto no custo de vida, o que dificulta ainda mais o trabalho do BC.

Palestra

Nos EUA, ministro diz que Brasil vai cumprir meta fiscal de 1,2%

Diante de um plateia de 185 investidores e analistas, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ontem de manhã que o Brasil vai conseguir cumprir a meta de superávit primário de 1,2% este ano e que o crescimento econômico está desacelerando, podendo ser negativo em 2014 por causa do declínio no investimento. "A consolidação vai continuar", disse, destacando que a administração de Dilma Roussef está comprometida em entregar a meta fiscal neste ano. O ministro prometeu ter em sua gestão o maior diálogo possível com o mercado, além de transparência na política fiscal. Levy afirmou que o objetivo é criar um ambiente de confiança e que favoreça decisões de investimento.

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