Oferta de emprego com carteira assinada deve ter freio por causa de problemas na vacinação| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
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A confiança dos empresários na economia está caindo. Um levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, em março, ela atingiu o pior nível desde julho do ano passado. E, segundo economistas ouvidos pela Gazeta do Povo, esse desânimo pode desacelerar o ritmo de surgimento de novas oportunidades de emprego com carteira assinada.

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“Além da intensificação da tendência de desaceleração do nível de atividade que já se observava nos meses anteriores, houve um expressivo aumento do pessimismo em relação aos próximos meses, afetando as perspectivas de vendas e de contratações. A confiança do comércio despencou, ficando abaixo da confiança de serviços, que já estava muito baixa em fevereiro”, avalia Aloisio Campelo Jr., superintendente de estatísticas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).

Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens. Serviços e Turismo (CNC), a confiança dos comerciantes caiu, em março, pelo quarto mês seguido, em função da demora na imunização da população e no pagamento de benefícios sociais, e pelo fato de a economia ainda não estar em uma fase de decolagem.

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Primeiro bimestre

Os dois primeiros meses do ano foram ótimos para quem estava à procura de uma oportunidade de trabalho. Foram abertos 659,8 mil postos com carteira assinada, 92,1% a mais do que no mesmo período de 2020, segundo o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

“Naqueles meses, havia uma perspectiva mais otimista em relação à economia. Era o efeito de um 'novo normal'. As empresas constataram a eficácia do home office e, paralelamente, muita gente afrouxou os cuidados com a pandemia”, explica o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

O economista Lucas Assis, da consultoria Tendências, diz que o quadro de veloz retomada do emprego formal está fundamentado tanto na expansão dos admitidos, tendo em vista a gradual reação dos indicadores de atividade econômica, quanto na desaceleração dos demitidos, a julgar pela significativa adesão das empresas ao Benefício Emergencial (Bem), no último ano, e que teve efeitos prolongados até o início de 2021.

A expansão do emprego foi disseminada em todos os setores, mas um dos que mais contribuiu foi o de serviços. As empresas criaram 253,5 mil oportunidades, 26,47% a mais em comparação aos mesmos meses de 2020. “Não tínhamos tantas restrições à circulação de pessoas em janeiro e fevereiro”, complementa Carlos Pedroso, economista-chefe do banco MUFG Brasil.

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Tendências para o ano

As expectativas para os próximos meses, no entanto, não são favoráveis. A Ativa Investimentos projeta que, ao longo do ano todo, 1 milhão de vagas serão preenchidas no mercado formal, o que significa mais 340 mil oportunidades com carteira assinada até dezembro, já descontadas as demissões.

“Para março e abril, o agravamento da pandemia e as consequentes medidas de restrição à atividade econômica, conforme sugerido pelos indicadores de confiança e mobilidade, devem se traduzir em um menor ritmo de geração de vagas”, apontam economistas do Bradesco.

Segundo Assis, para o segundo trimestre de 2021, é esperada desaceleração na abertura de empregos formais no país. “A visão cautelosa da Tendências sobre o mercado de trabalho formal fundamenta-se no cenário de elevadas incertezas dos agentes, fraqueza no desempenho de grandes setores, enxugamento das políticas fiscal e monetária anticíclicas e piora da pandemia, aliada ao lento processo de vacinação”, diz ele.

Um cenário melhor para o mercado de trabalho, segundo Pedroso, vai depender de uma aceleração no ritmo da vacinação. “Só assim teremos um controle mínimo da pandemia.”

Segundo o site Our World in Data, da Universidade de Oxford (Reino Unido), 6,58% da população brasileira tinha recebido pelo menos uma dose da vacina até 30 de março. Nos EUA, esse percentual era de 28,72%.

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Falta de emprego

Mesmo com a recuperação do emprego com carteira assinada, o desemprego continua elevado. Foi de 14,2% na média do trimestre encerrado em janeiro, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um ano antes, era de 11,2%.

A tendência é de que esses números aumentem nos próximos meses. Uma das razões, segundo o economista-chefe do MUFG Brasil, é o menor valor do auxílio emergencial em sua terceira rodada, que começa a ser pago no dia 6.

“O valor não incentiva às pessoas ficarem em casa. Elas vão procurar emprego”, diz Pedroso. A taxa de desocupação é calculada com base na busca por trabalho. Assim, quanto mais gente procurando emprego, maior a taxa.

Outra razão são os novos entrantes no mercado de trabalho. “A taxa de desemprego pode chegar a 16% no segundo trimestre em meio a um cenário de baixa oferta de empregos”, explica Pedroso.

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Segundo ele, um estágio mais avançando de vacinação no segundo semestre deste ano abre espaço para maior flexibilização das medidas de restrição, o que possibilitaria uma recuperação gradual da economia e, por consequência, a queda no desemprego para níveis próximos de 13% no fim do ano.

"Somente no segundo semestre os impactos sobre o faturamento das empresas devem ser mitigados pela flexibilização das medidas de isolamento social e pelo retorno gradual do nível de atividade econômica", prevê Assis, da Tendências.

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