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Gasoduto recém-inaugurado  em Paulínia (SP):  custo afeta competitividade | Luciano Piva
Gasoduto recém-inaugurado em Paulínia (SP): custo afeta competitividade| Foto: Luciano Piva

"Não tem sido fácil produzir no Brasil"

A combinação do real valorizado com a escalada do preço do gás natural tem castigado a empresa Cristal Global, única produtora de dióxido de titânio da América do Sul – material usado na produção de tintas, plásticos e papéis especiais. "Não tem sido fácil produzir no Brasil", diz Ronaldo Alcantara, diretor industrial da empresa, que tem fábricas na Austrália, França, Inglaterra e Rússia. Alcantara diz que no Brasil o gás natural representa 23% do custo total de produção da empresa. Lá fora esse número não passa de 12%, mesmo na Rússia, onde há um grande entrave por causa da passagem do gasoduto pela Ucrânia. "Seguramente estamos pagando o gás natural mais caro de todos os lugares onde atuamos", diz o executivo. O resultado disso é que a empresa tem tido prejuízo nos últimos quatro anos. Com a valorização do real, o faturamento da companhia caiu 28% no período, enquanto o preço do gás subiu em torno de 80%.

São Paulo - O reajuste autorizado pela Petrobras no início do mês foi a gota d’água que os grandes consumidores de gás natural precisavam para se rebelar contra a estatal. Representa­dos por nove associações, incluindo as Federações da Indústria de São Paulo (Fiesp) e o Fórum Nacional dos Secretários de Energia, eles iniciaram uma peregrinação por ministérios, Congresso Nacional, agência reguladora e órgãos de defesa da concorrência para tentar reverter a crise do setor e mudar os cálculos da tarifa cobrada pela petroleira.

Com uma pilha de dados sobre o assunto, as associações querem mostrar como o elevado custo do gás tem reduzido a competitividade da indústria nacional. A maior reclamação refere-se ao preço do gás nacional, cujo reajuste é trimestral (o gás boliviano tem reajustes quadrimestral) e custa 35% mais que o gás importado da Bolívia.

Em 2008, com a escalada do preço do petróleo, que atingiu quase US$ 150 o barril, o custo do gás atingiu o pico de US$ 11,54 o milhão de BTU (unidade térmica britânica), segundo a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace). A partir do primeiro trimestre do ano passado, os custos recuaram, mas o do gás caiu menos que o do petróleo.

Para acirrar os ânimos, a tarifa do insumo iniciou no terceiro trimestre de 2009 uma nova sequência de altas, apesar da forte queda de 16% no consumo por causa da crise mundial. De lá pra cá, já foram promovidas mais duas altas, para US$ 9,87 (sem impostos).

"O setor vive um momento perverso, com alta dos preços, queda no consumo e falta de planejamento (e perspectiva) para desenvolver o mercado nacional", destaca o sócio-diretor da Gás Energy, Marco Aurélio Tavares.

Num material entregue à Secretaria de Defesa Econômica (SDE), as associações destacam que o Brasil detém a segunda maior tarifa do mundo. Além disso, elas questionam a nova metodologia que a Petrobras adotou a partir de 2008 para correção dos preços. A chamada parcela variável é aquela que acompanha a cesta de óleos no mercado internacional. Já a parcela fixa tem o objetivo de cobrir o transporte do gás e a expansão da malha no país.

"O problema é que ninguém sabe como é calculada essa parcela fixa, que tem tirado a competitividade do gás", destaca o presidente da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Armando Laudório.

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