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Empresas suspendem ou limitam negócios com Rússia
O Kremlin refletido na vitrine de uma loja fechada da Chanel em Moscou. A marca de luxo é uma das empresas que anunciou suspensão ou limitação de negócios com a Rússia após a invasão da Ucrânia.| Foto: Yuri Kochetkov/EFE/EPA

Após quase duas semanas de conflito armado na Ucrânia, a Rússia acumula sanções por parte do Ocidente e vê uma debandada de empresas. A invasão do país vizinho promovida pelo presidente russo, Vladmir Putin, motivou dezenas de companhias a anunciar sua saída da Rússia, com retirada de investimentos em casos mais severos, ou pelo menos a suspensão ou limitação das operações.

A lista de companhias que de alguma forma cortaram negócios na Rússia ultrapassa oitenta empresas de diversos setores e inclui gigantes como Shell, Google, Apple e Volkswagen.

O advogado Marcelo Godke, especialista em direito empresarial, professor do Insper e da FAAP, pontua que nem todas as decisões podem ser encaradas como sanções privadas à Rússia. Existem, sim, pressões internas, de consumidores e investidores que empurram companhias para esse tipo de movimentação, mas há ainda outros fatores, como o cumprimento das sanções econômicas anunciadas, a quebra das cadeias de suprimentos, insegurança ou inviabilidade operacional e risco de punições em decorrência das atividades exercidas.

"Empresas terão dificuldades em fazer o dinheiro circular para dentro e para fora da Rússia, mesmo as que não sejam do setor financeiro. Por exemplo, podem não ter como fazer pagamentos a colaboradores que estejam na Rússia e vão ter que abandonar a operação lá", avalia Godke.

"Outras empresas simplesmente querem desassociar a sua imagem da imagem da Rússia ou evitar punições", afirma, ao indicar ainda mais um motivador para interrupções de atividades: normativo recente aprovado na Rússia com a previsão de penalidades pela veiculação de fake news e que poderia ser utilizado contra atores como Facebook, Twitter, TikTok e seus usuários.

"Empresas que de alguma maneira trabalham com veiculação de notícias, posts, empresas de mídia vão parar as atividades também por conta da tentativa de censura", completa o especialista. A lei levou também à suspensão do trabalho de jornalistas de emissoras, entre as quais BBC, CNN e Bloomberg.

Principais anúncios desde a invasão russa

Chamam especial atenção anúncios feitos por gigantes petroleiras, uma vez que a Rússia é um dos maiores produtores e tem uma das maiores reservas mundiais de petróleo e gás natural.

O grupo de energia BP (British Petroleum) anunciou que vai se desfazer de sua participação de quase 20% na estatal russa do petróleo Rosneft, pondo fim a uma atuação de mais de 30 anos. A companhia britânica afirmou ainda que deve abrir mão de outros negócios no país. A Shell também anunciou que encerrará atividades na Rússia, deixando sua participação de 27,5% em um negócio de gás junto à Gazprom. A norte-americana ExxonMobil e a norueguesa Equinor anunciaram o início da retirada de seus investimentos.

Godke avalia que desinvestimentos e o fim de parcerias podem ter sido motivadas pelo risco de que a Rússia se torne um pária no mercado internacional. "Há uma chance de a própria indústria de petróleo sofrer um baque bastante grande. Isso pode acontecer em qualquer lugar, mesmo tendo as maiores reservas do mundo", avalia.

Outro destaque feito pelo especialista vai para as restrições no trânsito de computadores, equipamentos e tecnologia para o país. Grandes companhias como Samsung, Accenture e Apple anunciaram a interrupção da venda de todos os seus produtos para a Rússia. A Microsoft estendeu a interrupção também aos serviços.

"Quando isso ocorre a gente vê um sucateamento muito rápido, ainda mais hoje, que a tecnologia está em tudo. Se a tecnologia não chegar, mais vamos ver um sucateamento de base industrial, da base de serviços, que pode ocorrer muito rapidamente na Rússia, com prejuízos inclusive para a população", frisa.

Negócios também sofreram limitações em companhias como o Google, que parou a venda de anúncios no país além de ter limitado atualizações de tráfego no Google Maps para evitar riscos à segurança de civis na Ucrânia. Outras plataformas, como Twitter e Youtube, aplicaram restrições para a divulgação dos canais oficiais da autoridade russa. As empresas de entretenimento Disney e Warner não vão exibir seus lançamentos nos cinemas russos; a Netflix suspendeu o serviço de streaming e anunciou a interrupção de produções locais.

As operadoras de pagamento Visa e Mastercard inicialmente bloquearam operações para instituições financeiras russas, mas avançaram nas restrições e suspenderam transações com cartões emitidos por bancos russos. A American Express também suspendeu operações.

As remessas para o país também foram ao menos parcialmente interrompidas. Todo o transporte de conteineres para a Rússia por parte da Maersk está parado e a MSC também suspendeu envios. Companhias como Fedex e UPS não estão fazendo entregas na Rússia nem na Ucrânia como medida de segurança para minimizar riscos a seus funcionários.

Houve diversas decisões por parte de montadoras de veículos que anunciaram o fechamento temporário de suas fábricas russas (caso, por exemplo, de Renault, Ford e Toyota) ou da interrupção dos embarques para o país (como GM e Scania). Grifes de luxo como Louis Vuitton, Chanel, Prada e Gucci baixaram as portas temporariamente alegando dificuldades para atender o mercado russo em meio ao conflito.

Empresas de aviação como a Airbus e a brasileira Embraer suspenderam sus atividades de suporte técnico e manutenção nas aeronaves. A Boeing suspendeu esses serviços e fechou seu escritório em Moscou. Também suspenderam suas atividades comerciais três símbolos norte-americanos: McDonald's, Starbucks e Coca-Cola.

Há ainda empresas multinacionais que tem anunciado a suspensão de investimentos na Rússia, mas que se comprometeram a manter a venda de itens essenciais aos consumidores do país. É o caso de Nestlé, Unilever, Pepsi e P&G, que defenderam a necessidade de garantir o abastecimento de itens como leite, água e produtos de higiene e limpeza à população local.

Quais empresas cortaram negócios com a Rússia

A relação de companhias que decidiram abandonar negócios na Rússia, suspender temporariamente as atividades ou restringir operações e serviços prestados no país é crescente e atinge diversos segmentos econômicos, deste o setor de energia até bigtechs, varejistas e alimentação. Confira:

Petróleo, gás e energia

  • BP (British Petroleum)
  • Shell
  • Galp
  • ExxonMobil
  • Equinor
  • TotalEnergies
  • Orsted

Tecnologia

  • Apple
  • Samsung
  • Acenture
  • Microsoft
  • Dell
  • HP
  • Google
  • Meta (detentora do Facebook, Instagram e WhatsApp)
  • Twitter
  • Youtube
  • Ericson
  • Nokia

Indústria automotiva

  • Volkswagen
  • Ford
  • General Motors
  • Renault
  • Scania
  • Toyota
  • BMW
  • Jaguar Land Rover
  • Daimler Truck
  • Nokian Tyres
  • Aston Martin
  • Rolls-Royce
  • Volvo Cars
  • Volvo Caminhões
  • Harley-Davidson
  • Ferrari

Aviação

  • Boeing
  • Airbus
  • Bombardier
  • Embraer
  • AerCap Holdings
  • BOC Aviation

Logística

  • Maersk
  • MSC
  • ONE (Ocean Network Express)
  • Hapag Lloyd
  • UPS
  • FedEx
  • DHL

Varejo e vestuário

  • Zara
  • H&M
  • Ikea
  • Hermès
  • Burberry
  • Chanel
  • Prada
  • Cartier (por meio da detentora, Richemont)
  • Gucci (por meio da detentora, Kering)
  • Louis Vuitton (por meio da detentora, LVMH)
  • Nike
  • Adidas
  • Puma

Sistema financeiro e pagamentos

  • Visa
  • Mastercard
  • Paypal
  • American Express
  • HSBC

Alimentação

  • McDonald's
  • Starbucks
  • Coca-Cola
  • Pepsi
  • Danone
  • Nestlé
  • Heineken

Entretenimento e games

  • Disney
  • Netflix
  • WarnerMedia
  • Sony
  • Spotify
  • Activision Blizzard
  • Epic Games
  • EA Games
  • CD Projekt Red

Outros

  • Airbnb
  • Sandvik
  • McKinsey
  • Uefa (União das Associações Europeias de Futebol)
  • WEG
  • P&G
  • Unilever
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