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Com dinheiro farto e fácil, bancos ajudaram a inflar dívidas

O baixo rigor na análise de crédito por parte dos bancos e a oferta abundante de dinheiro ajudaram a inflar o endividamento e a inadimplência, segundo Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. "O consumidor, principalmente aquele da classe C emergente, se perdeu nas contas porque não teve acesso a educação financeira. Mas a culpa não foi apenas dele. Os bancos, em meio à euforia e ao aumento da concorrência, afrouxaram as suas exigências e acabaram dando crédito para quem não teria condições de pagar", lembra.

O movimento mais evidente foi no mercado automotivo, que viu explodir o calote nos últimos meses. Mas os mecanismos de avaliação foram relaxados também em outras modalidades. Segundo Rabi, o rigor foi mantido apenas no financiamento imobiliário.

Para os economistas, a redução da inadimplência será gradual. "Podemos dizer que a inadimplência sobe de elevador e desce de escada", afirma Rabi.

Mais do mesmo

Por isso, as medidas de incentivo ao consumo e a queda de juros implantadas pelo governo terão efeito mais limitado, segundo o economista Marcelo Curado, da UFPR. "O governo está usando o mesmo remédio [incentivar consumo para reanimar a economia] que usou na crise de 2008. O problema é que agora o estado do paciente é mais grave."

O consumo é resultado da combinação, principalmente, de taxas de juros, prazos e renda. "Embora a taxa de juros esteja caindo, a renda vai crescer menos que nos últimos anos. Os prazos de financiamento, com exceção da área de habitação, também não estão aumentando", diz.

O Brasil ainda tem uma participação relativamente baixa do crédito sobre o Produto Interno Bruto (PIB), de 47%, quando comparado a economias como a dos Estados Unidos, em que o volume supera 100% do PIB. A diferença é que, além de ter uma renda média maior, o americano paga juros menores e tem prazos mais longos para pagar. Assim as famílias dos EUA não comprometem, em média, mais que 16% da sua renda com dívidas; no Brasil, a taxa é de 22%.

Para Lucas Dezordi, economista-chefe da Inva Capital, o volume de crédito vai crescer menos, mas mesmo assim tem potencial para avançar 15% ao ano no país.

O brasileiro nunca deveu tanto como agora. Segundo o dado mais recente do Banco Central, relativo a março, o endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro atingiu 42,95% da renda acumulada em 12 meses – o maior nível da série histórica, iniciada em 2005. Além disso, todo mês, pelo menos 25% da renda das famílias está comprometida com o pagamento de prestações – há sete anos, o porcentual era de 15,6%.

O crédito farto, o emprego em alta e a confiança na economia fizeram com que as famílias fossem às compras com apetite, mas esse movimento já dá sinais de saturação – a procura por crédito vem perdendo fôlego. Segundo a Serasa Experian, no acumulado dos primeiros cinco meses de 2012 a demanda do consumidor por crédito foi 7,6% menor que a verificada no mesmo período de 2011.

As famílias, em geral, estão esperando quitar alguns financiamentos para só então passar a contrair novos compromissos. E os bancos, preocupados com a inadimplência, também estão mais seletivos na concessão de financiamentos.

Casa em ordem

"A procura por crédito vem caindo desde novembro do ano passado. O consumidor se empolgou com o crédito, se endividou em 2010 e ficou inadimplente em 2011. A reorganização financeira ainda vai levar algum tempo", diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

Parte das famílias brasileiras já está superendividada. Cerca de 23% delas – aproximadamente 14 milhões de famílias – já comprometem mais de um terço da renda mensal para pagar dívidas, segundo estudo da consultoria MB Associados. O limite "saudável", segundo analistas, é de 30%, já que em média 70% dos gastos das famílias servem para despesas fixas – alimentação, habitação, transporte, higiene, saúde e educação.

De acordo com a projeção, que usou como base os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, a situação mais complicada está nas classes C, D e E, em que 12,4 milhões de famílias gastam mais de um terço da renda com prestações. De acordo com a MB, nessas classes as despesas fixas têm peso maior – de 65% na classe C e de 88% nas classes D e E –, o que ajuda a complicar as contas no fim do mês.

Inadimplência

O orçamento apertado ajudou a inflar a inadimplência, que ficou em 7,6% entre as pessoas físicas em abril. São cerca de R$ 39 bilhões em contas com atrasos acima de 90 dias. O calote no setor automotivo atingiu a marca recorde de 5,9% em abril.

"A nova classe C tomou crédito com voracidade, mas não tem ativos financeiros e nem poupança para fazer frente a situações de emergência", lembra Marcelo Curado, professor de Economia da Universidade Federal do Para­ná (UFPR).

Pelo menos dois fatores ajudam a explicar o aumento do calote. No ano passado, o orçamento familiar foi pressionado pela inflação alta, que comprometeu principalmente preços de serviços, como alimentação fora de casa, colégios, aluguel. Além disso, a população se endividou com empréstimos mais caros, como o do cartão de crédito e do cheque especial.

"Isso mostra que o consumidor ainda não tem uma percepção clara das taxas de juros praticadas nas diversas modalidades. Usar esse recurso com frequência pode deixar a dívida impagável", diz Curado.

Uma pesquisa da Serasa Experian realizada com inadimplentes em março mostrou que 60% deles tinham prestações em atraso cujo valor era superior à renda mensal deles.

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