A entrada de dólares na economia brasileira permaneceu alta na última semana, apesar do terremoto seguido de tsunami registrados no Japão, segundo números divulgados nesta quarta-feira (23) pelo Banco Central.

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De acordo com a autoridade monetária, US$ 4,29 bilhões ingressaram na economia brasileira na semana passada, período que já captou os efeitos no mercado financeiro da crise no Japão, o que representa uma média de US$ 860 milhões por dia útil.

Apesar de ter sido registrada uma pequena queda frente ao volume de ingresso na parcial de março até o dia 11, que estava em US$ 1,06 bilhão, a média diária de ingresso de recursos no Brasil ainda permanece elevada.

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Em janeiro deste ano, segundo informações do Banco Central, a média, por dia útil, de ingresso de recursos no Brasil somou US$ 738 milhões e, em fevereiro de 2010, totalizou US$ 205 milhões.

Geralmente, quando os mercados registram tensão, há uma busca maior por ativos de países desenvolvidos, considerados mais seguros, como dos Estados Unidos.

Parciais de março e do anoDe acordo com dados da autoridade monetária, o ingresso de dólares no país, na parcial de março, até a última sexta-feira (18), somou US$ 11,72 bilhões. Trata-se do maior valor desde janeiro deste ano, quando foi contabilizada a entrada de US$ 15,5 bilhões na economia brasileira.

Em todo este ano, até 18 de março, o BC informou que US$ 34,66 bilhões já entraram no país. O volume representa um crescimento de 42,6% frente ao ingresso registrado em todo ano passado (US$ 24,3 bilhões).

Acompanhamento do Banco Central

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A forte entrada de dólares no país, que tende a pressionar para baixo a cotação da moeda norte-americana, tornando as importações mais baratas e as vendas ao exterior de empresas brasileiras mais caras, vem sendo acompanhada de perto pelo Banco Central

Durante audiência pública realizada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal nesta terça-feira (22), o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, observou que o Brasil vem registrado "contínuo influxo de capitais estrangeiros".

"Esses recursos têm um componente estrutural, ou seja, são fruto da melhoria da economia. Mas tem também componente conjuntural [cenário atual da economia]. Mais recentemente, em um contexto de elevada liquidez no cenário internacional, o componente conjuntural aumentou de maneira excessiva", declarou Tombini na ocasião.

Segundo ele, o ingresso de dólares tem influenciado o crescimento do crédito no Brasil, o que pode contribuir para pressões inflacionárias. Tombini também afirmou, na CAE, que continuará monitorando a oferta de crédito pelos bancos, e ameaçou tomar novas "medidas macroprudenciais" caso o crédito avance em ritmo forte. De acordo com sua visão, um crescimento do crédito bancário acima de 15% parece ser "acima do recomendado".

Medidas já anunciadas

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O forte fluxo de dólares para o Brasil acontece em um momento no qual o Ministério da Fazenda sinaliza com a possibilidade de adotar novas medidas para tentar conter a queda do dólar. Quando o mercado espera que novas medidas de contenção do ingresso de divisas no país possam ser adotadas, como aumento do IOF, tradicionalmente há antecipação no ingresso de divisas no país.

O governo já adotou, no passado, várias medidas para tentar conter a entrada de recursos no Brasil, e, com isso, evitar uma queda maior do dólar, fator que diminui a competitividade das empresas brasileiras. Em outubro do ano passado, o governo aumentou o IOF para aplicações de estrangeiros em renda fixa de 2% para 6%, além da elevação do tributo sobre a margem de operações no mercado futuro.

Mais recentemente, o BC tomou medidas para baixar a posição vendida dos bancos e voltou a ofertar, depois de um ano e meio, contratos de "swap cambial reverso" - que funcionam como uma compra de dólares no mercado futuro. Além disso, a instituição também anunciou recentemente que vai realizar leilões de dólar no mercado a termo.

Guerra cambial

O ingresso de recursos no Brasil também ocorre em meio à chamada "guerra cambial", que é o esforço de alguns países para desvalorizar suas moedas e gerar melhores condições de competitividade para suas empresas. A entrada de dólares no Brasil, porém, gera efeito contrário, valorizando o real e tornando as exportações mais caras.

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Ao mesmo tempo em que a China mantém a sua moeda (yuan) artificialmente desvalorizada, o Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) anunciou, no início de novembro, a intenção de adquirir títulos públicos no mercado, no chamado "quantitative easing". O governo brasileiro avalia que esta medida tende a pressionar o dólar para baixo no Brasil.

Isso significa que estes valores estão retornando para o mercado financeiro. Há o temor de que os detentores destes recursos possam buscar remunerações mais atrativas para seu investimento, e o Brasil, que passa por um momento de forte expansão econômica combinada com juros reais em torno de 5,9% ao ano - os mais elevados do planeta - poderia ser um dos principais destinos destes valores.