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A ideia de um ciclo de alta nos juros anda assustando alguns economistas. A ação, que começou a ser colocada em prática no mês passado, tem como objetivo dar uma "esfriada" na economia e, com isso, impedir o aumento da inflação nos próximos meses. A dúvida é se o remédio não irá fazer mal ao doente, introduzindo inadimplência e elevando o desemprego.

O aumento dos juros não vem sozinho. O governo vem tomando também medidas para limitar o acesso ao crédito, com a mesma intenção – são as chamadas medidas macroprudenciais, ou seja, ações macroeconômicas preventivas. E elas já surtem efeito: o BC informou no fim de janeiro que financiamentos de veículos e operações de crédito pessoal estavam 18% abaixo dos níveis de novembro.

Para o economista-chefe do Itaú-Unibanco, Ilan Goldfajn, a desaceleração da economia vai afetar o bolso dos assalariados. "Quando o crescimento diminui, o ganho de renda é menor e, às vezes, o desemprego, que estava bem baixinho, aumenta um pouco. Gente que tem emprego não vai ter, pessoas que esperavam ganhar mais de repente não vão ganhar tanto", disse. Goldfajn – que já foi diretor de Política Econômica do Banco Central – acha que a autoridade monetária entrou em um terreno difícil ao adotar as medidas macroprudenciais. "As duas políticas [econômica, que prevê intervenção nos juros, e macroprudencial] desaceleram a economia, mas temos mais experiência sobre o efeito da Selic do que das medidas macroprudenciais, o que cria um risco de a economia esfriar demais ou de menos’’, observa Goldfajn.

Apesar disso, o economista não acredita numa alta forte do desemprego e da inadimplência, a não ser que o controle da inflação seja negligenciado agora, exigindo medidas mais duras depois. A expectativa do Itaú-Unibanco é de que o ritmo de crescimento da economia brasileira caia para 4% em 2011 (ante mais de 7% em 2010).

Cid Cordeiro, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeco­nômicos do Paraná (Dieese), também não vê risco de inadimplência. No caso da inadimplência, Cordeiro acredita que as medidas macroprudenciais contribuem para a queda da taxa – afinal, a ideia central é impedir que as famílias tomem financiamentos, e quem não deve não pode tornar-se inadimplente. Para ele, o Banco Central perdeu no passado a oportunidade de baixar ainda mais os juros. Nesse caso, poderiam agora elevar as taxas, mas partindo de um patamar inferior.

Cordeiro observa que o conjunto todo de ações deve puxar a taxa de crescimento para patamares mais próximos do histórico da década passada, entre 4% e 5% ao ano. "O crescimento do ano passado, de 7,5%, é que foi incomum", diz. "Uma redução do crescimento terá um impacto conjuntural, mas não vai desaquecer o mercado de trabalho."

O vice-presidente da As­­sociação dos Executivos de Fi­­nanças, Administração e Con­tabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, entretanto, prega cautela. "O custo do crédito está maior e, eventualmente, podemos ter desemprego’’, observa. A principal recomendação de Oliveira é evitar se endividar no longo prazo. Ele também sugere que os consumidores busquem linhas de crédito mais baratas, como o penhor de joias da Caixa ou o empréstimo consignado (com desconto em holerite), em vez de linhas pré-aprovadas, como cheque especial, cartão de crédito, e o saque em caixa eletrônico. "Os empréstimos mais fáceis são os mais caros. A facilidade tem um preço’’, disse.

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