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O premiê espanhol, Mariano Rajoy (à direita), com seu colega italiano, Mario Monti: déficit não vai cair como planejado | François Lenoir/Reuters
O premiê espanhol, Mariano Rajoy (à direita), com seu colega italiano, Mario Monti: déficit não vai cair como planejado| Foto: François Lenoir/Reuters

No dia em que 25 países da União Europeia assinaram um pacto com medidas mais duras de disciplina orçamentária para a zona do euro, a Espanha anunciou que não irá atingir as metas de deficit fiscal para 2012, minando a credibilidade do acordo. O premiê espanhol, Mariano Rajoy, disse que a nova projeção de que o déficit fiscal público fique na casa dos 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) é mais realista que os 4,4% antes acordados com a Comissão Europeia.

Rajoy insistiu que, mesmo com a revisão, o país ainda opera dentro das regras da UE, uma vez que a meta de déficit de 3% do PIB para 2013 está mantida. "Estou apoiando a austeridade e pretendo reduzir o déficit de 8,5% [em 2011] para 5,8%; isso é austeridade suficiente", afirmou Rajoy ao fim da cúpula em Bruxelas.

Madri já adotou reformas econômicas e cortes de gastos para evitar um aprofundamento da crise. O governo anunciou ontem que fará mais 15 bilhões de euros (R$ 34,2 bilhões) em ajustes neste ano e que a economia do país irá encolher 1,7% em 2012 – mais que o 1% previsto recentemente pela UE. O desemprego, hoje na casa dos 22,9%, atingirá uma média de 24,3% neste ano, disse ainda o governo.

O anúncio força a UE a decidir se punirá ou não a Espanha dentro das novas regras de austeridade. Os países que aderirem ao chamado "pacto fiscal" e descumprirem a "regra de ouro" – dívida pública de até 60% do PIB e déficit orçamentário de até 0,5% – estarão sujeitos a multas de até 0,1% de seu PIB, aplicada pela corte de Justiça europeia. "É um jogo perigoso, porque coloca em risco a legitimidade do processo", disse Antonio Barroso, analista do Eurasia Group. "Ou ele [Rajoy] sabe que no fim das contas eles terão de tornar as metas mais flexíveis, ou é corajoso e prefere encarar uma sanção", avaliou.

Autoridades europeias também se preocupam com um possível golpe vindo da França, onde o candidato presidencial da oposição socialista, François Hollande, prometeu renegociar o tratado para incluir medidas que promovam o crescimento. As eleições serão em maio.

Dinheiro emprestado "descansa" no BCE

Um dia depois de receber empréstimos de 530 bilhões de euros, as instituições financeiras decidiram deixar o dinheiro depositado no Banco Central Europeu (BCE). Os bancos alocaram 777 bilhões de euros na linha overnight (de um dia para o outro), superando o recorde anterior, de 528 bilhões de euros, em 17 de janeiro. Na quarta-feira, o montante ficou em 475 bilhões de euros.

O depósito recorde é mais um sinal de como os bancos estão preferindo ficar com o dinheiro guardado a emprestar para empresas e consumidores europeus ou para outras instituições financeiras. Não era esperado que os bancos emprestassem o dinheiro imediatamente, mas eles têm deixado montantes cada vez maiores no BCE (que paga juros de 0,25%), o que é preocupante no médio prazo, e já se nota desaceleração no crédito na região. Antes de o BCE ter começado a operação, os depósitos na linha overnight ficaram muitas vezes abaixo de 200 bilhões de euros em 2011.

Os 530 bilhões de euros emprestados pelos BCE na quarta-feira foram a segunda parte de uma linha de crédito de três anos a juros baixos (1%). Na primeira, em dezembro, foram emprestados 489 bilhões de euros aos bancos da região.

Crítica de Dilma

Esse crédito trilionário foi alvo de críticas da presidente Dilma Rousseff, pelo fato de os bancos investirem em mercados como o Brasil, que pagam altas taxas de juros. O real, em consequência, tem se valorizado, prejudicando setores exportadores. Os bancos também têm investido na compra de títulos de países como Itália e Espanha.

Essa estratégia, que era uma aposta do BCE ao adotar o financiamento de três anos, tem derrubado os juros desses países, o que torna menos caro o refinanciamento de suas dívidas e, portanto, tem um impacto menor sobre o déficit, em um momento em que os governos europeus tentam ajustar suas contas.

Essa operação, no entanto, não é sem risco, segundo analistas. Ao aumentar seus investimentos em títulos de Itália e Espanha, os bancos estão elevando a sua exposição a esses países. Em caso de uma reedição do que está ocorrendo com a Grécia, com ameaça de calote e reestruturação da dívida, os bancos estarão com papéis que ninguém vai querer e que vão valer cada vez menos. Nesse cenário, cresce o risco de novas quebras de bancos e de crise ainda mais aguda.

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