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Na última semana, por duas vezes, o brasileiro chegou muito perto de trocar real por dólar em uma proporção de dois para um. Na sexta-feira, a moeda fechou o dia cotada a R$ 2,022, menor patamar dos últimos seis anos. Três dias antes, havia encerrado a R$ 2,025. A pressão é forte para que a trajetória de queda na cotação continue: as commodities produzidas no Brasil estão valorizadas no mercado internacional, o risco-país nunca esteve tão baixo e as taxas de juros brasileiras atraem cada vez mais capital estrangeiro. A previsão dos especialistas é que, por mais que o Banco Central continue aumentando suas reservas internacionais para frear a desvalorização, a cotação da moeda norte-americana logo rompa a barreira dos R$ 2.

O dólar está ficando desvalorizado em relação ao real por conta de uma regra básica da economia: quando há mais oferta que procura, os preços caem. Grande parte das nossas exportações, apesar de afetadas pela moeda local valorizada, estão com toda força graças ao crescimento da demanda mundial e a conseqüente valorização das commodities, como soja, aço e minério de ferro. Quanto mais quem produz estes itens vende, mas dólar entra no mercado brasileiro. "Essa é a origem positiva do problema. A doentia é o diferencial dos juros brasileiros versus juros internacionais", explica o coordenador do curso de Economia da FAE Business School, Gilmar Mendes Lourenço.

A Selic, taxa referencial de juros brasileira, é a rainha das críticas em relação a atual situação do câmbio no país. É alta demais para quem produz aqui se animar a ampliar a produção e super atraente para o investidor externo, que aplica no mercado financeiro brasileiro com taxas bem superiores ao resto do mundo. Enquanto a taxa básica brasileira é de 12,75% ao ano, a média mundial é de 3% ao ano. Se a taxa baixasse, avaliam os analistas, haveria uma redução do capital especulativo no Brasil. "Essas condições de câmbio ajudam a manter a inflação baixa. Há espaço para taxa de juros mais adequadas, que permitiriam um maior controle de entrada do investimento especulativo. Quem vai querer deixar dólar nas contas exteriores se o juro aqui é muito maior?", questiona o diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues.

Com juros altos somados a uma maior confiança externa no Brasil, traduzida pela queda do risco-país, é difícil que o Banco Central mantenha a moeda norte-americana acima dos R$ 2 com suas intervenções. As reservas internacionais brasileiras já estão em US$ 110 bilhões devido a compra de dólares para manter o câmbio. "O dólar sem a intervenção estaria em torno de R$ 1,80. O BC está perdendo o fôlego, essas compras representam uma despesa para ele, porque o dinheiro é aplicado lá fora a um rendimento de 6%, mas ele paga 12% nos títulos públicos emitidos como pagamento", avalia o professor de Teoria e Prática Cambial do UnicenP, Luiz Ramos da Silva.

O economista da MB Associados, Sérgio Vale, prevê um dólar a R$ 1,90 até o meio do ano. "No fim do ano voltaremos aos R$ 2. Não são as compras de dólares que vão resolver, a solução é de governo, está na questão fiscal", diz. Para Rodrigues, do Banco Paulista, enquanto não houver uma queda considerável nos juros ou uma reforma tributária que permita redução de preço dos produtos brasileiros, o dólar vai continuar em queda. "Não vejo nesse cenário perspectiva de que não chegue a R$ 1,90 ou R$ 1,95 pelo menos", calcula.

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