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Ameaças

Juíza é alvo de intimidação

A juíza federal argentina María José Sarmiento denunciou que está sendo vítima de pressões e intimidações por parte do governo da presidente Cristina Kirchner. Na sexta-feira, a juíza foi colocada definitivamente na lista negra de inimigos do governo ao determinar a anulação do decreto presidencial que destituía o presidente do Banco Central, Martín Redrado. O ex-presidente e atual deputado Néstor Kirchner, marido da presidente Cristina, acusou a juíza de integrar uma "conspiração" liderada pelo vice-presidente Julio Cobos, o Grupo Clarín e o presidente do BC.

"Essa juíza é uma vergonha", esbravejou Kirchner. "Quando nossa presidente assina um decreto de necessidade e urgência está assinando algo que possui o respaldo das leis e da Constituição", argumentou Kirchner, para defender o decreto que removia Redrado, além de outro, que ordenava a liberação de US$ 6,5 bilhões das reservas do BC para pagamento da dívida pública, também anulado pela juíza Sarmiento.

A juíza alertou sobre a presença de uma viatura policial na frente de sua casa que a segue para todos os lados. Além disso, a juíza foi alvo de vários telefonemas anônimos durante as madrugadas.

No meio do conflito entre o autodenominado governo "progressista" e "popular" da presidente Cris­tina Kirchner e o "neoliberal ortodoxo" presidente do Banco Cen­tral, Martín Redrado (respaldado pelos partidos políticos de centro e centro-direita), surgiu um terceiro setor, representado pelos grupos da esquerda tradicional. Enquanto o governo Kirchner pretende usar US$ 6,5 bilhões do Banco Central para pagar a dívida pública deste ano com os credores privados – atitude criticada pelo presidente da entidade financeira e os partidos de oposição – a esquerda prega o não pagamento absoluto da dívida.

Hoje à tarde, o Movimento Socialista dos Trabalhadores, a Corrente Classista e Combativa (CCC), entre outros grupos, protestarão na frente do edifício do Congresso Nacional contra o pagamento da dívida, que consideram "ilegítima". Segundo Juan Carlos Alderete, do movimento CCC, "esse dinheiro" (as reservas) deveria ser usado para resolver os problemas de pobreza e desemprego".

Os manifestantes estão em sintonia com o deputado Fernando "Pino" Solanas, cineasta e diretor de filmes como "Tangos, o exílio de Gardel", líder do Projeto Sul, partido de esquerda, o segundo mais votado na capital argentina nas eleições parlamentares do ano passado. Na sexta-feira Solanas fez um pedido formal à Justiça para que a presidente Cristina seja processada por fraude no tratamento da dívida externa.

Os analistas destacam que será muito difícil para o governo organizar uma de suas costumeiras manifestações populares para respaldar o pagamento da dívida externa para credores privados. Caso as reservas do BC continuem bloqueadas, o governo terá de apelar aos mercados para conseguir fundos novos para pagar a dívida deste ano.

Teoria conspiratória

"Conspiração para derrubar o governo" da presidente Cristina Kirchner. Essa tornou-se a ex­­pressão mais pronunciada no último fim de semana por líderes do governo para indicar que a denominada "restauração conservadora" pretende provocar a queda da presidente. O principal protagonista dos alertas foi o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), atual deputado, considerado o verdadeiro poder no governo de sua esposa.

Durante um encontro com aliados, Kirchner mostrou-se furioso com a crise institucional que assola o país desde a quarta-feira passada, dia em que sua esposa, a presidente Cristina, exigiu a renúncia do presidente do BC, por não concordar com o plano do governo de pagar parte da dívida pública deste ano com as reservas da entidade financeira.

Na quinta-feira Cristina removeu Redrado por decreto. Mas, menos de 24 horas depois, na sexta, ele foi restituído no posto por ordem da Justiça. Kirchner referiu-se ao kirchnerismo como se fosse uma religião e como se o presidente restituído do BC personificasse uma espécie de Judas: "Não percamos tempo com Redrado. Alguns se convertem, outros nos enganam!"

No meio desse cenário caótico, desembarcará hoje em Buenos Aires o economista Mario Blejer, o homem que foi anunciado pelo governo como o novo presidente do BC. Blejer, ex-integrante do FMI, do Banco da Inglaterra, e ex-presidente do BC argentino (2002), não aceitou o posto por enquanto, embora o go­­verno insista em falar sobre ele como o novo presidente da entidade financeira.

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