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| Foto: Marcelo Brammer/Folhapress

O próximo ano será marcado por "uma crise brava", com novas interrupções na produção industrial e desemprego elevado, avalia o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch. Para o empresário, o assunto estará na pauta dos candidatos à Presidência no segundo turno. A entidade estima que, apenas neste ano, 100 mil trabalhadores deverão ser dispensados na indústria paulista. Até agosto, 31,5 mil vagas já tinham sido cortadas no estado de São Paulo, no pior resultado dos últimos cinco anos.

Que cenário esperar em 2015 para a indústria, que já está patinando este ano?

Acredito que 2015 não será um ano fácil. Vamos viver uma crise brava. Já estamos prestes a ver demissões em massa e mais paradas na produção, que já começaram. Não só na indústria, mas em todos os setores. É um período dos mais difíceis que vivi em termos profissionais. Mas acredito que 2015 também será uma oportunidade de ajustar o país para voltar à normalidade. O que mais prejudica a indústria?

Precisamos de uma condição compatível com a que existe no mundo. O câmbio, por exemplo, tem que flutuar. Hoje, o real ainda está muito valorizado. Precisamos de um dólar a R$ 2,50 ou R$ 2,52 para que haja uma perspectiva de exportação e, ao mesmo tempo, se dificulte um pouco a importação. Se você começa a alterar artificialmente esses quesitos (o câmbio), você impede o desempenho normal da indústria e dos outros setores produtivos. Além disso, os juros altos asfixiaram a economia. Mas o governo elevou os juros e vinha tentando manter o o câmbio em torno de R$ 2,25 para evitar mais inflação, cenário que também prejudica a indústria, não?

A preocupação do governo sempre foi a inflação, mas por causa da reeleição. Agora, essa preocupação é legítima. Mas acho que o desemprego é um risco maior ainda. Hoje, apesar de o governo estar segurando a inflação, o risco de demissões já está presente em todas as empresas. Além disso, os juros absurdos para o consumidor também trouxeram falta de confiança das pessoas para consumir, aliado ao medo do desemprego. Houve um desmonte do mercado interno, que sustentou o país nos últimos 12 anos. O modelo de crescimento da economia via consumo se esgotou?

Eu acho que não. Acho que se tivéssemos uma gestão forte e o governo tivesse gastado menos poderia manter esse modelo de crescimento pelo consumo. O que é necessário para retomar o investimento privado?

Se as reformas forem feitas, no ano que vem, acredito que será preciso pelo menos dois anos para resgatar a confiança dos empresários e os investimentos voltarem. Há uma crise de confiança do capital privado com a falta de previsibilidade. O intervencionismo do governo na economia atrapalhou a indústria?

Isso causou um mal-estar geral. Na nossa visão o governo não tem que ser gestor. Tem que legislar e cobrar. A indústria, o sistema financeiro e o setor de serviços são maduros o suficiente para tocar as coisas. Como analisar o uso do Fundo Soberano para fechar as contas?

Acho que isso é direito do governo. Mas mostra que a gente continua usando de artifícios para atingir os números desejados. Era melhor partir para uma redução do déficit e do gasto para buscar o equilíbrio. Se a gente arrecada menos tem que gastar menos. As coisas têm que ser bem administradas e de forma transparente, o que não está ocorrendo hoje.

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