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"Quando falei em guerra cambial, o que talvez chocou um pouco as pessoas, na verdade estava falando de algo que está ocorrendo mas que não estava sendo reconhecido. Hoje todo mundo reconhece que há uma guerra cambial não declarada que vem à tona." Guido Mantega, ministro da Fazenda | Yuri Gripas/Reuters
"Quando falei em guerra cambial, o que talvez chocou um pouco as pessoas, na verdade estava falando de algo que está ocorrendo mas que não estava sendo reconhecido. Hoje todo mundo reconhece que há uma guerra cambial não declarada que vem à tona." Guido Mantega, ministro da Fazenda| Foto: Yuri Gripas/Reuters

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, acusou a China – sem mencionar o nome do país – de pôr em risco a recuperação global. Os avanços conseguidos até agora poderão ser solapados, segundo ele, se os países superavitários impedirem a valorização de suas moedas e não basearem seu crescimento mais amplamente no mercado interno. A descrição ajusta-se perfeitamente ao caso chinês. Geithner discursou na abertura da assembleia do Fundo Monetário Internacional (FMI). Seu pronunciamento foi o mais duro e o mais direto. Conseguir um crescimento mundial mais equilibrado é o desafio central deste momento, disse o secretário, "e nenhum país poderá superá-lo sozinho".

Para o ministro Guido Mantega, o problema cambial é subproduto da "lenta retomada do crescimento nos países avançados". Os governos desses países tomaram medidas para reativar suas economias, mas não tiveram sucesso. Diante disso, aumentaram os estímulos monetários, emitindo mais dinheiro. As emissões têm resultado em maior desvalorização de suas moedas. O Fed (banco central dos EUA) já anunciou a intenção de lançar mais dólares no mercado, lembrou Mantega numa entrevista no fim da tarde de ontem. A emissão será feita por meio da compra de títulos públicos em circulação.

Há meses o ministro brasileiro vem atribuindo às autoridades americanas a responsabilidade pela desordem cambial, por ele descrita como guerra. O governo chinês, segundo sua interpretação, somente reagiu à desvalorização do dólar, nos últimos dois anos. Sua análise não menciona a velha política chinesa, anterior à crise, de manutenção do iuan depreciado.

"Guerra"

Mantega usou a expressão "guerra cambial" pela primeira vez há pouco mais de uma semana. Há de fato uma guerra, insistiu ele, embora seja um conflito não declarado. Só se pode resolver o problema de forma coletiva, acrescentou, e para isso os foros adequados são o Grupo dos 20 (G-20) e o FMI. Outros ministros têm evitado a palavra usada por Mantega. "Não estou com estado de espírito para uma guerra", disse a ministra da Economia da França, Christine Lagarde. Essa abordagem, segundo ela, é inteiramente inadequada. "Estamos num processo de discussão e de acordo", acrescentou.

O ministro das Finanças do Canadá, James Flaherty, também falou sobre a responsabilidade da China, lembrando o compromisso chinês, em reunião do G-20, de tornar seu câmbio mais flexível. "É necessário", concluiu, "evitar o protecionismo comercial". A desvalorização cambial, argumentou, pode ser uma ação protecionista.

Meirelles

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que o governo está atento ao excesso de liquidez da economia e pronto para agir sempre que necessário para evitar excesso de alavancagem na economia e a formação de bolhas. "O Brasil está fazendo sua parte e cada um deveria fazer a sua parte. Não se pode depender apenas de exportar para os outros", afirmou.

"O Brasil não pode pagar um preço excessivo por estar indo bem enquanto outros estão indo mal", acrescentou Meirelles, em entrevista após participar da Conferência Econômica 2010 – Brasil, Um Player Global, promovida pela Câmara de Comércio Brasil-EUA e Brazil-US Business Council, em Washington. Meirelles também está na cidade para participar das reuniões anuais do FMI e do Banco Mun­dial (Bird).

Segundo Meirelles, o governo tem buscado "esterilizar" a liquidez em moeda local, buscando proteger a economia de desequilíbrios. "Estamos tomando medidas para proteger o país do efeito do excesso de liquidez. Não temos uma meta específica para a taxa de câmbio", afirmou. Ontem, o dólar caiu 1,13% no Brasil e fechou a R$ 1,66, a menor cotação em dois anos. O câmbio deve ser um dos assuntos mais quentes na reunião do Comitê Monetário e Financeiro do FMI.

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