• Carregando...
Em meio à crise, o PIB dos EUA teve, no ano passado, o maior recuo desde 1946 |
Em meio à crise, o PIB dos EUA teve, no ano passado, o maior recuo desde 1946| Foto:

Análise

Guido Orgis, editor assistente de Economia

Não foi a depressão. E daí?

A economia dos Estados Unidos saiu da recessão, provando que alguma coisa se aprendeu com a Grande Depressão dos anos 30. É cedo, porém, para dizer que o pior já passou. Afinal, o preço final da crise veio na forma de milhões de empregos perdidos e que ainda não estão longe de voltar. Os EUA precisarão de anos para retornar aos bons tempos de crescimento constante, recessões leves e emprego farto – isso com uma pequena dose de otimismo.

Após a prova de que não estamos nos anos 30, há três riscos principais para os EUA – e, também para a economia global, já que esse país representa 30% do PIB mundial. O primeiro é de curto prazo e está ligado à retirada dos estímulos do Fed (o banco central norte-americano) e do governo. Em algum momento neste ano, o Fed vai reverter sua política de juro zero e de compra de ativos no mercado, enquanto o governo não terá mais um centavo do pacote de estímulo para passar adiante. Será como tirar a morfina de um paciente que foi tratado por um longo período e pode sentir dor, ou a falta do remédio. Se essa estratégia de saída vier cedo demais (e os números do emprego mostram que ainda não é a hora), há o risco de uma segunda recessão, como ocorreu no fim da década de 30.

Os EUA também terão de provar que não são o Japão, país que simplesmente estagnou após o estouro de uma bolha imobiliária nos anos 90. Os bancos deixaram de emprestar durante anos, e o governo até hoje tenta tirar a apatia do mercado. Esse segundo risco parece ser o menor de todos, dada a maior flexibilidade da economia dos EUA.

No longo prazo, os EUA terão de lidar com sua crescente dívida pública, que disparou com os pacotes de ajuda pública ao mercado. O país, assim como outras nações ricas, tem gastos crescentes com pensões e saúde, e a conta da dívida será cobrada na forma de juros maiores ou de inflação. Não é algo que pesará nos próximos dois ou três anos, mas assim que a economia voltar a andar sozinha, o governo americano terá de mostrar como pagará a conta.

A economia americana cresceu a uma taxa anualizada de 5,7% no quarto trimestre. O resultado superou as expectativas dos analistas, que previam, em média, uma expansão de 4,8% e representou a maior taxa de crescimento em seis anos. Por outro lado, os resultados divulgados pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos mostram que em 2009 a economia americana encolheu 2,4%, o pior desempenho desde 1946.O fator principal para o resultado no período de outubro a dezembro do ano passado foi um corte menor dos estoques, que estão em queda há sete trimestres. Com isso, analistas avaliam que o pior já passou, mas esperam um crescimento mais suave nos próximos trimestres.

Após a explosão da crise econômica, em setembro de 2008, o país só voltou a apresentar taxas positivas no terceiro trimestre do ano passado, quando a economia cresceu 2,2%. De modo geral, a receita do resultado negativo da economia americana em 2009 foi baseada em menores investimentos, exportações em baixa e fortes quedas nos estoques.

O governo comemorou os resultados do quarto trimestre, mas reforçou o papel da geração de empregos como item número um da agenda econômica. Crhristina Romer, que preside o conselho de economistas da Casa Branca, classificou os resultados como uma notícia encorajadora. "Enquanto o resultado positivo do PIB é um primeiro passo necessário para a criação de empregos, nosso foco deve ser colocar os americanos de volta ao mercado de trabalho", disse.

Obama

Já o presidente Barack Obama, que viu sua popularidade cair com o avanço da taxa de desemprego, aproveitou para detalhar medidas de apoio à criação de vagas.

Segundo avaliação do Fed (o BC dos EUA) divulgada nesta semana, o desemprego em alta, na faixa de 10%, ainda limita uma recuperação mais sólida do consumo – que representa cerca de dois terços da economia do país. Na passagem do terceiro para o quarto trimestre, a dúvida era se o consumidor teria fôlego para gastar após o encerramento de programas de auxílio do governo, como o que incentivava a compra de carros mais eficientes. De outubro a dezembro, o consumo cresceu 2%, ante 2,8% no terceiro trimestre.

Os gastos do governo aumentaram 0,1% no quarto trimestre, após uma alta de 8% de julho a setembro. Os gastos dos governos estaduais e locais caíram 0,3%. Os investimentos em compras de equipamentos e softwares tiveram efeito positivo sobre o resultado, com uma alta de 2,9%. "A recuperação do investimento é seguramente um sinal positivo para os próximos trimestres", diz Greg Thomas, da PNC Financial Service.

"Um crescimento sustentável depende de emprego. Para ter um avanço superior a 2% em gastos dos consumidores, será necessária uma recuperação sólida do mercado de trabalho. O que se viu no último trimestre foi um fator transitório: firmas que cortaram fortemente os estoques reduziram o ritmo ou pararam de fazer isso", disse Cary Leahey, da Decison Economics. Em crises anteriores, a recuperação da economia foi focada em consumo e mercado imobiliário.

Confiança em alta

Mesmo com o mercado de trabalho fraco, o consumidor está mais confiante. Pesquisa divulgada ontem mostra que o sentimento do consumidor atingiu o maior patamar desde janeiro de 2008 e ficou em 74,4 pontos. Segundo relatório da Universidade de Michigan, responsável pelo indicador, os consumidores estão convencidos de que o pior da crise já passou, mas apesar de tudo esperam estagnação na renda e no emprego.

US$ 33 bilhões

O presidente dos EUA, Barack Obama, detalhou ontem uma proposta de créditos de impostos no valor de US$ 33 bilhões para estimular a criação de postos de trabalho. A proposta prevê que a cada funcionário contratado a empresa tenha direito a um crédito de impostos de US$ 5 mil. O montante por empresa foi limitado a US$ 500 mil para assegurar que a medida seja focada em pequenas empresas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]