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Protesto contra medidas de austeridade no ano passado: credores ainda temem calote grego | Dimitar Dilkoff/AFP
Protesto contra medidas de austeridade no ano passado: credores ainda temem calote grego| Foto: Dimitar Dilkoff/AFP

Analistas afirmavam na quarta-feira passada que fazer a Grécia recomprar seus próprios títulos desvalorizados poderia ser um passo importante para resolver a crise da dívida soberana europeia. Um porta-voz do governo alemão negou relatos de que tal plano estivesse em curso. Mas, se a Grécia comprasse de volta esses títulos com a ajuda de outros países da zona do euro, não precisaria reembolsar o montante total da dívida no vencimento. "É a primeira vez que temos um sinal de que a Europa começa a pensar de forma menos ortodoxa", diz Jacques Cailloux, economista-chefe para o continente do Royal Bank of Scotland. "Em última análise, é o retorno a algum tipo de trajetória estável para a dívida, que irá proporcionar uma significativa reversão de confiança", afirma.

Falar desse tipo de reestruturação tem sido um tabu entre os líderes europeus, que temem que um calote por parte de algum país da zona do euro possa minar permanentemente a credibilidade da moeda comum. As últimas especulações sobre tal movimento na Grécia foram motivadas por uma reportagem do semanário Die Zeit, na quarta-feira passada, bem como por declarações de dois ministros do governo grego que haviam dito, um dia antes, que a rolagem dos débitos seria uma boa ideia.

Negativas

O governo grego negou estar em negociações com os credores privados para reestruturar sua dívida, segundo a Bloomberg News. Os títulos gregos já são negociados nos mercados a preços bem abaixo de seu valor de face. E um porta-voz de Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças, disse que a reportagem do Die Zeit era totalmente improcedente. "Não estamos trabalhando numa reestruturação da dívida grega", falou o porta-voz, que não tinha autorização para revelar o próprio nome.

Ainda assim, analistas continuam convencidos de que as autoridades europeias de fato discutem formas de reduzir a dívida total da Grécia. Os economistas há muito tempo duvidam que o país, em algum momento, será capaz de reembolsar todo o dinheiro que tomou emprestado, especialmente quando sua economia está encolhendo e a taxa de juros paga pelo governo local para rolar a dívida antiga disparou. Se feita adequadamente, a recompra da dívida grega poderia trazê-la a níveis administráveis, evitando o estigma do calote. Ao contrário do calote ou de uma reestruturação compulsória, a recompra seria facultativa. Os investidores ainda poderiam optar por aguardar o vencimento dos títulos.

A reação inicial do mercado foi negativa, porém. O rendimento, ou taxa de juro real, para os títulos gregos de 10 anos subiu sete pontos-base, para 11,36%, segundo dados da Bloomberg. Um ponto-base é igual a um centésimo de ponto porcentual.

Fundo de ajuda

Os líderes europeus estão sob intensa pressão para pôr fim a um ano de turbulência nos mercados, causadas por incertezas dos investidores sobre a solvência de países como Grécia, Irlanda e Portugal. As autoridades do bloco têm discutido formas de reforçar o European Financial Stability Facility (EFSF), mecanismo de estabilização financeira da União Europeia que é peça central para um pacote de resgate de 750 bilhões de euros destinado aos países da UE em dificuldades. Até agora, o fundo não foi suficiente para impressionar os investidores a ponto de acalmar os mercados de títulos.

Erik Nielsen, economista-chefe para a Europa do Goldman Sachs, especulou que o fundo poderia comprar os títulos gregos com desconto no mercado para depois revendê-los à Grécia. Para isso, imporia condições ao país, para que prosseguisse com as reformas de sua economia e a redução dos gastos do governo. "A possibilidade de que o EFSF inicie a compra da dívida no mercado secundário está, de fato, no horizonte", afirmou Nielsen, em nota, na quarta-feira. "Há muitas questões pendentes e importantes a serem resolvidas, mas será uma surpresa, para mim, se essa medida não tiver sido incluída quando o pacote completo for revelado, provavelmente em março", acrescenta.

Há desvantagens potenciais num plano desse tipo. Seria como transferir as dívidas da Grécia de investidores privados para outros países da zona do euro – que teriam, então, de garantir que os gregos continuassem as reformas para tornar sua economia mais competitiva.

Cailloux, do Royal Bank of Scotland, opina que um plano assim não seria solução para a Irlanda ou outros países altamente endividados, porque seus títulos ainda não atingiram, nos mercados, valor de face tão baixo quanto o dos títulos gregos. O plano pode não funcionar nem mesmo para a Grécia, tanto no caso de os preços de seus títulos subirem, quanto se não houver suficiente número de investidores dispostos a vendê-los. Ainda assim, Cailloux afirma que esta é uma proposta "das mais atraentes". Para ele, a ideia mostra que "temos uma Europa de cabeça mais aberta para enfrentar a crise".

Tradução: Christian Schwartz

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