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Empresária se muda para quitinete e fatura com aluguel

Mesmo com a chegada diária de trabalhadores em Telêmaco, é fácil encontrar casa espaçosa – inclusive imobiliada – para morar na região central da cidade. Não falta quem esteja disposto a deixar sua residência por um gordo aluguel. As imobiliárias têm centenas de moradias cadastradas. Vazias ou decoradas, cercadas de grama ou fechadas, com ou sem garagem, luxuosas ou simples. O problema são os preços, que dobraram de uma hora para outra.

A empresária Zélia Ianck, 49 anos, não se deixou levar pelo apego ao lar. Mudou com o marido para uma quitinete anexa à residência. Esta foi alugada por R$ 4 mil, um dos maiores valores alcançados na temporada. "Sinto falta do banheiro amplo, do espaço, mas é uma situação provisória", diz. A casa tem 210 metros quadrados, e a quitinete, 50.

Quando seus dois filhos – que moram em Curitiba – passam o fim de semana em Telêmaco, Zélia acomoda um no sofá e outro num colchão. Como normalmente recebe a visita de um filho por vez, a situação não é incômoda, relata.

Pelos cálculos de Zélia, vão sobrar cerca de R$ 36 mil ao final de um ano de contrato de aluguel. Outros R$ 12 mil vão para o pagamento de impostos. "O Lula fica com boa parte do dinheiro", reclama. Quando alugava a quitinete, recebia R$ 350 por mês.

Zélia comemora também as filas de fregueses à porta de sua pizzaria. O movimento na Torre Pizzaria, que vende cerca de 70 pizzas por noite, "cresceu 70% e chega ao limite no fim de semana". O número de funcionários foi ampliado de cinco para nove. No entanto, ela não pretende ampliar o estabelecimento, com medo de que, ao fim das obras na Klabin, só os clientes antigos compareçam. Pretende investir o rendimento extra no setor imobiliário, que "é mais seguro".

Como sempre teve procura de trabalhadores temporários ligados à indústria papeleira por imóveis, Telêmaco Borba é tradicionalmente um lugar caro para se morar, conta o empresário Arioldo Vieira da Rosa, que atua no setor há 15 anos. Ele era funcionário da Klabin, mas aproveitou um programa de demissão voluntária para dedicar-se exclusivamente à intermediação de aluguel e venda de imóveis.

Um lote de 420 metros quadrados chega a custar R$ 300 mil em Telêmaco, o dobro de ofertas em bairros residenciais de Curitiba. O aluguel de um apartamento simples de 50 metros quadrados, em condomínio fechado, está em R$ 450,00, sem contar os R$ 140 de condomínio. Em Curitiba, encontra-se imóvel no mesmo padrão por R$ 280 de aluguel e R$ 120 de condomínio.

"O bonde perdeu o rumo em Telêmaco", diz Vieira. Ele diz que a população se ilude e quer alugar casas simples por preços exorbitantes. "Botamos um freio nisso e resolvemos suspender o cadastramento de imóveis. Virou uma alucinação coletiva", relata. Em sua avaliação, a procura por imóveis – que atingiu o auge da temporada há cerca de um mês – voltará a crescer no ano que vem, mas de forma mais organizada.

Além da falta de imóveis a preços acessíveis, as vagas nos hotéis são escassas. Um novo estabelecimento acaba de ser inaugurado, mas ficará lotado praticamente todo dia.

Os planos de expansão da Klabin vão muito além da fábrica de papel de Telêmaco Borba. Toda a cadeia da produção de matéria-prima para embalagens vem sendo redimensionada. A própria extensão das florestas, hoje em 192 mil hectares, deve passar de 200 mil hectares até o final do ano.

Com isso, a empresa continuará produzindo mais madeira do que o necessário para obter a celulose usada em suas fábricas. Hoje, a cada três árvores que seguem para a produção de papel, uma é vendida para terceiros – fábricas de móveis, lâminas, serrarias. Mesmo assim, segundo o diretor florestal da Klabin, Reinoldo Poernbacher, será necessário reforçar as atividades nos viveiros de mudas e nas áreas plantadas para manter a postura de cautela diante da crescente demanda internacional.

São justamente as florestas que vão gerar a maior parte dos novos empregos permanentes em Telêmaco Borba: cerca de 700, contra 250 dentro da indústria. O primeiro corte de eucalipto e o desbaste inicial do pinus são realizados seis anos após o plantio, prazo que reserva bom número de vagas ao setor.

Mas, por enquanto, a ampliação da atividade florestal é a menos visível. Os operários se concentram em volta da própria fábrica de papel, separada da cidade de Telêmaco pelo Rio Tibagi. Nos dias de mais atividade, 2,5 mil pessoas entram e saem do parque industrial da Klabin, por uma ponte estreita ou pelo bonde aéreo, que facilita a travessia do rio.

Para que a circulação de pessoas não saia do controle, os operários passam o dia no local de trabalho. Uma das primeiras obras necessárias foi a construção de um novo refeitório, já em funcionamento.

Para ampliar a atividade industrial, um novo descascador de toras vem sendo instalado. A idéia é abrir uma terceira linha de preparação de madeira, daqui a oito meses. Os dois descascadores em atividade têm 5 metros de diâmetro por 20 de comprimento, e o novo, 6 de diâmetro por 35 de comprimento. Na outra ponta do processo de fabricação de papel, segue adiantada a instalação de uma segunda caldeira de recuperação dos produtos químicos. A construção terá 50 metros de altura, como a atual.

Resíduos

A Klabin sustenta que a expansão de suas atividades não vai aumentar o lançamento de efluentes no Rio Tibagi. Além de ampliar a recuperação de substâncias químicas como a soda, a empresa deve instalar mais dois clarificadores de resíduos (hoje são dois), e uma segunda lagoa de aeração. Antes de chegar ao Tibagi, os resíduos deverão passar por uma filtração final, que hoje não existe.

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) já concedeu licença prévia e licença de instalação à Klabin. Nos próximos meses, deverá avaliar as condições de operação da indústria, que pretende colocar as novas instalações em funcionamento no segundo semestre de 2007.

Galpão central

O coração das novas instalações – galpão onde ficará a nova máquina de fazer papel – já pode ser visto da cidade de Telêmaco. Separada da zona urbana pelo Rio Tibagi, a construção terá 300 metros de comprimento por 40 de largura e 25 de altura.

Uma ponte rolante de 40 metros de largura, no alto da construção, começa a ser usada para a instalação da máquina de fazer papel. A construção do galpão andou a passos largos, com produção de pré-moldados no próprio pátio da indústria.

A última máquina de fazer papel que a Klabin instalou em Telêmaco é de 1978. Na década seguinte, a empresa iria instalar outra matriz no município, com peças usadas importadas por preços atrativos. Esses equipamentos, no entanto, acabaram sendo usados em manutenção e modernização das máquinas em operação.

Com a atual expansão da indústria, a Klabin vai produzir cerca de 400 toneladas a mais de celulose em Telêmaco Borba. Para ampliar a exportação, se obriga a reforçar ainda sua estrutura de transporte. Novos vagões de trem já estão em operação para que o embarque férreo continue representando pelo menos 20% do transporte da produção. Foi necessário aumentar também o depósito, que manterá a capacidade de armazenar a produção de 20 dias de trabalho.

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