• Carregando...
Fábrica da Norske Skog, em Jaguariaíva: multinacional norueguesa vai cortar em 15% a produção, passando para 156 mil toneladas. | Arquivo
Fábrica da Norske Skog, em Jaguariaíva: multinacional norueguesa vai cortar em 15% a produção, passando para 156 mil toneladas.| Foto: Arquivo

Alíquota maior deve elevar gastos em 10%

As empresas alegam que o aumento da alíquota de ICMS prevista na minirreforma tributária estadual, de 27% para 29%, vai provocar uma alta de 10% nos gastos com energia, que representam entre 30% e 40% dos custos. A principal esperança das empresas para melhorar a situação no curto prazo é que o governo estadual aceite compensar os créditos de ICMS, assim como foi feito no passado, na gestão de Jaime Lerner. Até agora as empresas não conseguiram avanços. O secretário da Fazenda, Heron Arzua, informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que o assunto já foi discutido na secretaria e agora está nas mãos do governador. Para Marco Tuoto, analista da STCP Engenharia de Projetos, consultoria especializada no setor, o mercado internacional vai continuar desaquecido pelo menos até o fim de 2009. "A expectativa é que a demanda continue retraída, forçando cortes de produção ao redor do mundo para evitar uma redução ainda maior dos preços. Provavelmente esse cenário vai forçar mais paradas na produção." As empresas não falam em fechamento de fábricas, mas admitem que à medida que o tempo passa esta ameaça se torna mais real. "Antes, estávamos com a água batendo na boca, agora ele está batendo no nariz", resume Glauco Affonso, da Stora Enso.

A crise econômica e a legislação tributária que impede a compensação créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) acumulados em cerca de R$ 150 milhões estão inviabilizando a operação das duas multinacionais do setor de papel que têm fábricas no Norte Pioneiro do Paraná. A norueguesa Norske Skog, única produtora de papel jornal do país, instalada em Jaguariaíva, resolveu parar a produção por 39 dias. A sueco-finlandesa Stora Enso, que faz papel para revistas, demitiu ontem 12 dos 380 funcionários na unidade de Arapoti – e já interrompeu a produção por 24 dias desde janeiro.

A redução da operação das duas multinacionais, no entanto, deve afetar 2,2 mil empregos diretos na cadeia da produção região, fortemente vinculada à fabricação de papel. Segundo os sindicatos dos trabalhadores, esse número inclui o pessoal que trabalha nas fábricas, na colheita da madeira, no transporte de insumos e na distribuição.

Pressionadas pelos elevados custos de produção, pela redução da demanda e pela perda de competitividade frente às importações, as duas empresas resolveram diminuir suas operações em 2009. A Norske Skog prevê cortar em 15% a produção – para 156 mil toneladas – e a Stora Enso projeta redução de 11%, para 160 mil toneladas.

"A nossa situação é muito complicada. De um lado, temos a queda da demanda e dos preços internacionais, que caíram em média US$ 40 por tonelada. De outro, uma legislação tributária que pune o produtor de papel no país. Hoje temos um custo de produção no Brasil que é incompatível com os preços internacionais", diz Alex Pomilio, diretor de vendas e relações externas da Norske Skog. A empresa vai parar de produzir uma semana em março e todo mês de maio. "Depois vamos reavaliar o mercado e a demanda", diz.

A principal reclamação da Norske Skog e da Stora Enso reside na legislação tributária para o papel imprensa, que impede a transferência de créditos de ICMS. Como a venda do papel tem imunidade tributária, o imposto pago pelas empresas ao longo da cadeia na compra de insumos, como produtos químicos e energia, por exemplo, gera um crédito que não é compensado.

Embora o problema dos créditos de ICMS não seja novidade – as fabricantes do setor tentam há anos convencer o governo estadual a aceitar a compensação – as duas multinacionais dizem que a situação piorou consideravelmente com a crise econômica e deve se agravar ainda mais com a entrada em vigor da minirreforma do ICMS do governo estadual, que, dentre outras medidas, vai elevar a alíquota de energia de 27% para 29%.

Uma das principais preocupações é com a perda da competitividade em relação ao papel importado, que vem batendo recordes de volumes, principalmente da Rússia, dos Estados Unidos e do Canadá – com estoques elevados, eles têm buscado mercados em que possam desovar sua produção.

Em 2008, as importações de papel jornal cresceram 28,4% na comparação com o ano anterior, para 511 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). O Brasil também elevou a importação de papel para revistas e folhetos (LWC) em 34,5%, para 132 mil toneladas.

"Hoje temos um custo de produção 15% superior a fábricas similares do grupo em outras partes do mundo. A operação brasileira, embora seja a mais eficiente, é hoje a mais cara e fica cada vez mais difícil competir com os importados", afirma Glauco Affonso, vice-presidente de operações, marketing e vendas da Stora Enso.

Segundo ele, a fábrica parou 12 dias em janeiro e mais 12 em fevereiro e se prepara para interromper a produção por mais 14 dias em abril. A empresa alega que teve um aumento de custos de produção de 12% – entre energia e insumos atrelados ao dólar –, o que contribui para reduzir a competitividade não apenas no mercado nacional, mas também nas exportações. "As vendas externas, que em 2006 respondiam por 40% da nossa produção, hoje representam 10%", afirma.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]