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A decadência de Detroit começou bem antes da crise atual. A derrocada começou na década de 70. Naquela época, as montadoras enfrentavam ameaças de greve do UAW, o sindicato dos trabalhadores da indústria automotiva, que exigia aposentadoria aos 55 anos e benefícios vitalícios. Os fabricantes cederam e o custo das pensões tornou-se pesado demais.

Hoje, a GM tem dez aposentados para cada funcionário na ativa. E, num cálculo que se tornou famoso por mostrar a situação insustentável, cerca de US$ 2 mil da venda de cada carro são usados para pagar despesas com saúde dos funcionários.

Outro fator que contribuiu para o agravamento da crise das montadoras americanas é que elas apostaram demais num único tipo de produto, os utilitários esportivos (SUVs). Os carrões, notórios beberrões, tornaram-se febre nos anos 90. Eram tempos de petróleo barato. E, diferentemente das concorrentes japonesas, GM, Chrysler e Ford não investiram na produção de carros econômicos. A euforia durou até o preço do petróleo disparar, entre 2006 e 2008, empurrando os consumidores para opções mais modestas.

Atrasadas em relação à concorrência, as montadoras norte-americanas agora apostam nos carros elétricos e híbridos para superar a crise. No caso da GM, a redenção seria o modelo Volt. O presidente mundial da empresa, Rick Wagoner, confirmou na semana passada que o modelo será lançado no fim de 2010.

Apesar da liberação no fim do ano passado de um pacote governamental de US$ 17 bilhões para os fabricantes norte-americanos, o cenário para os próximos anos é desanimador. O fundo emergencial é visto mais como um respiro de curtíssimo prazo do que como uma salvação. "As coisas estão muito difíceis e elas vão continuar assim em 2009. E a prolongada recessão nacional poderá causar mais dor para Michigan", reconheceu a governadora do estado, Jennifer Mulhern Granholm, que esteve no Salão de Detroit para mostrar apoio à indústria.

Evaristo Garcia, presidente da Jato Dynamics nos Estados Unidos, empresa especializada em análise do mercado automotivo, confirma que houve erros estratégicos dos fabricantes norte-americanos, que deixaram os custos aumentarem demais. Mas a Ford e a GM, na avaliação dele, darão a volta por cima.

O consultor explica que a Ford está na melhor situação, pois seu atual presidente, Alan Mulally, negociou uma linha de financiamento de US$ 50 bilhões em 2006 que garante recursos para investir em novos produtos e para financiar os consumidores. A GM, por sua vez, deve sair do vermelho com o pacote do governo e com a oferta de produtos novos.

A situação mais dramática, avalia, é a da Chrysler, que depende mais do mercado americano. Garcia prefere não arriscar qual será o futuro da companhia, mas salienta que a empresa está numa situação muito difícil, pois não tem modelos pequenos em seu portfólio, nem linhas de financiamento para o consumidor. (RC)

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