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“A preocupação com a competitividade tem de entrar na pauta das empresas do estado. O país não foi afetado pela crise de uma maneira mais profunda, mas se não tivermos as empresas preparadas, vamos ter concorrência de fora.” | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
“A preocupação com a competitividade tem de entrar na pauta das empresas do estado. O país não foi afetado pela crise de uma maneira mais profunda, mas se não tivermos as empresas preparadas, vamos ter concorrência de fora.”| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

O governo federal optou pela estratégia do corpo a corpo para fazer com que sua política industrial decole. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) tem organizado nos estados os Núcleos da Rede Nacional de Política Industrial (Renapi) para que industriais e governos estaduais formulem uma agenda local que possa ser atendida por instituições federais. No fim de dezembro, o diretor da ABDI, Clayton Campa­nhola, veio a Curitiba para assinar um convênio com a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e a Secretaria de Indústria e Comércio para a instalação do Núcleo no Paraná. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele explica que o objetivo da ABDI é fazer com que os instrumentos criados em Brasília cheguem na ponta, em especial nas empresas que ele classifica como "emergentes", aquelas com potencial inovador e de exportação.

Qual o objetivo do Núcleo?

Este é o 11º Núcleo que estamos ins­­talando nos estados e a ideia é permitir que haja uma articulação maior da Política de Desen­vol­vimento Produtivo (PDP) do governo federal, que é relativamente re­­cente, foi lançada em maio de 2008. Nós identificamos uma discrepância entre o que o governo tem feito e o que os empresários efe­tivamente estão utilizando, o quanto e como eles têm se apropriado das medidas da PDP. Estava faltando a ponte com os estados, pa­­ra que a gente tenha maior capilaridade, compreenda melhor as de­­mandas e trabalhe mais próximo de onde a atividade produtiva acontece.

Os instrumentos criados pela PDP não estão sendo utilizados?

Ainda não da forma esperada. Um exemplo é o Cartão BNDES. É como um cartão de crédito, com limite de R$ 500 mil e é operado pela Caixa, Banco do Brasil e Bradesco. Ele agora pode até ser usado para o pagamento de ensaios tecnológicos e inovação, mas é pouco conhecido. Outro exemplo são as linhas da Finep para projetos de inovação e para empresas incubadas, todas amigáveis em termos de juros e prazos.

Como funciona o Núcleo?

Cada núcleo forma uma agenda de trabalho, que reflete o que o estado precisa, com as prioridades, as de­­mandas dos empresários, focando principalmente pequenas e mé­­dias empresas, que têm grande po­­tencial para crescer. Há também várias pesquisas que a ABDI tem fei­­to sobre algumas cadeias produtivas e que ficam à disposição do estado.

O foco está nas pequenas empresas?

Há pouco tempo a ABDI contratou um trabalho do Ipea e do Cedeplar para saber como estava a inovação nas cadeias produtivas. Eles fizeram uma tipologia de empresas, divididas em quatro grupo. O primeiro é o de empresas líderes, que investem em pesquisa e desenvolvimento e que exportam, estão no mercado globalizado. O segundo grupo é o de empresas seguidoras, que exportam, mas não inovam tanto quanto as líderes. O quarto é o das frágeis, composto pelo grande universo das pequenas empresas, que não exportam, não inovam. Estão fora do jogo e se não entrarem, fatalmente muitas delas vão desaparecer. No terceiro grupo estão as chamadas emergentes, e é nessas que queremos focar. São empresas médias, que não exportam e fazem alguma inovação, geralmente com recursos próprios. A ideia é que os Núcleos identifiquem empresas com esse perfil para serem visitadas.

Como transformar uma empresa emergente em líder?

Estamos preocupados em fazer com que as empresas emergentes cheguem a um novo patamar. Para acompanhar o processo, vamos usar três das quatro macrometas do PDP. Uma delas é aumentar o investimento para 21% do PIB. Estávamos em 20,4% antes da crise e agora estamos pouco acima de 17%. Outra meta do PDP é a alocação de recursos privados em pesquisa e desenvolvimento, que representava 0,51% do PIB em 2007, e a meta é chegar a 0,65%. Para emergir, a empresa tem de captar recursos e investir em pesquisa. A terceira meta é que a participação do Brasil no comércio internacional passe de 1,11% para 1,25%, o que foi atingido por causa da crise. Para uma empresa emergir, ela tem de passar a exportar.

A política industrial pode evitar a concentração excessiva de recursos para inovação em poucos setores, como o de petróleo e gás?

Por incrível que pareça, dinheiro não é problema. Quando há algum estrangulamento no BNDES, o Ministério da Fazenda pode completar. É óbvio que a Petrobras empresta muito, e vai emprestar mais, mas a estabilidade da economia permite um fluxo financeiro adequado para a demanda. As dificuldades são mais a falta de conhecimento e a inadimplência de tributos. Empresa que deve para o INSS, por exemplo, não tem como emprestar. Tem outros problemas, como a carga tributária? Sim. Mas estão sendo resolvidos em casos mais críticos. Não dá para o governo desonerar tudo. Se a gente tivesse tido uma reforma tributária mais profunda facilitaria a legalização de empresas e sua inserção no mercado.

Que setores que podem aparecer na agenda do Paraná?

O Paraná é forte em papel e celulose, na cadeia alimentar, tem crescido a parte de eletroeletrônica, então são áreas que podem apresentar mais demandas. Capacitação é um problema geral no país e que deve aparecer aqui. Falta capacitação em gestão. Como o empresário vai fazer uma proposta para captar recursos se ele não tem um plano de negócios bem feito, se não tem uma visão adequada de sua empresa? A preocupação com a competitividade tem de entrar na pauta das empresas do estado. O país não foi afetado pela crise de uma maneira mais profunda, mas se não tivermos as empresas preparadas, vamos ter concorrência de fora, da China e de outros países que vão querer colocar produtos aqui. A saída é competitividade via inovação.

É uma mensagem para quem reclama do câmbio?

O dólar é uma moeda fraca hoje no mundo, não só no Brasil. A não ser em países que administram o câmbio de maneira artificial. É difícil mexer nos fundamentos econômicos do Brasil, ninguém quer grandes turbulências, então temos de buscar competitividade de outra forma, com a internacionalização dos negócios. Há pouco tempo ainda se falava que internacionalizar empresas é exportar empregos, o que não é verdade. A empresa pode ter bases produtivas lá fora, mas a inteligência fica aqui. Quando você sai do país, a empresa é obrigada a crescer, a melhorar a transferência de tecnologia. E há uma oportunidade agora, já que muitas empresas saíram do mercado por causa da crise.

As empresas do Paraná têm tido dificuldade de se inserirem no fornecimento de produtos e serviços para a exploração de petróleo e gás. Há solução para isso?Essa é uma questão recorrente em vários estados. Há todo um trabalho que a Petrobras faz para fortalecer a cadeia do petróleo e gás, e há muito ainda a ser feito. Mas há outras formas de melhorar a participação. Um exemplo é um catálogo de empresas fornecedoras do setor naval preparado em parceria com a Organização Nacional da Indústria do Petróleo. O Brasil tinha uma indústria naval muito forte até a década de 80, e agora ela está sendo retomada por causa de encomendas da Transpetro. A gente não sabe o que é produzido no país, porque muitas empresas redirecionaram suas atividades para outros setores. Com o panorama gerado pelo catálogo vamos saber o que precisa ser fortalecido.

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