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Efeito

Paralisia causada pela desconfiança pode atrasar o crescimento do país

A falta de um sinal claro de mudança por parte do poder público e a insegurança da iniciativa privada são suficientes para derrubar o crescimento de um país em até metade do seu potencial esperado, afirmam especialistas. Para o economista Tiago Berriel, da Escola de Pós Graduação em Economia da FGV, a paralisia causada pelo pessimismo tem um efeito muito pior do que o atraso de investimentos. "O setor produtivo, como um todo, está parado. Se isso durar o ano inteiro, podemos alcançar apenas metade do nosso crescimento potencial", afirma.

Prova disso, segundo Berriel, é o baixo investimento privado nos setores que mais receberam desonerações nos últimos 18 meses. Segundo o especialista, o setor não reagiu com as contrapartidas que se esperavam. "Isso foi fundamental para que a economia brasileira esteja nos decepcionando."

Para o especialista em política econômica da UnB, Sandro De Colo, a insegurança generalizada é predatória, mas não o suficiente para reverter os quadros econômicos de um cenário sólido. "A menos que isso se reflita em menos empregos, o que não parece que vá acontecer, o pessimismo apenas adia a reação da economia", explica.

Expectativa

Copa do Mundo e eleições deixam investimentos em espera

Além da confiança baixa, a realização da Copa do Mundo e as eleições presidenciais devem impactar no adiamento dos investimentos previstos no país ao longo do ano. O primeiro ponto é a diminuição de dias trabalhados por causa dos feriados nos dias de jogos do torneio. Com menor produção industrial e atividades comerciais, a atividade econômica ficará debilitada no período. Além disso, muitos empresários estão esperando como o país vai se sair na organização da competição para, então, efetuar investimentos e expansão nos negócios. "Existe toda uma expectativa com a Copa do Mundo, mas diante de todo o histórico do Brasil na preparação para o torneio, os negócios ficam em espera até que se tenha uma verdadeira noção de qual será a imagem que o país vai passar para o mundo depois da competição", avalia o professor de Economia da Universidade Positivo Lucas Dezordi.

O mesmo acontece por conta da disputa presidencial. "As eleições fazem o governo, sobretudo o federal, contingenciar os gastos e investimentos no primeiro semestre, tendo em vista a disputa entre os candidatos", afirma o professor da UTFPR Marcos Rambalducci.

Os índices de confiança dos principais setores da economia brasileira atingiram as menores marcas dos últimos cinco anos. Sondagens que medem o humor de consumidores e empresários da indústria, comércio e serviços chegaram aos patamares mais baixos desde o segundo semestre de 2009, quando a economia global tentava se recuperar da última grande crise financeira. Os dados são do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Confira os números do levantamento

Segundo especialistas e empresários, isso acontece porque não há perspectiva de melhora no cenário para 2014 – mesmo diante de bons resultados em alguns indicadores nos primeiros meses do ano, como emprego em alta, renda com crescimento real e os setores do comércio, serviços e indústria mais movimentados do que no ano passado.

O pessimismo vai mais além: parte da falta de políticas consistentes que mudem os rumos da economia brasileira diante do baixo crescimento e da inflação em alta.

Descrença

Na análise do coordenador do Departamento Eco­nômico da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Maurílio Schmitt, a inexistência de uma política generalizada de corte tributário é o principal motivo da descrença.

"Os indicadores retratam um resultado passado, mas a falta de projetos e as oscilações nas políticas econômicas são muito mais determinantes para o pessimismo geral se instalar", afirma.

Segundo o economista da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Marcelo Azevedo, existiram medidas de desonerações pontuais, mas não se vê um programa universal de corte tributário, o que é suficiente para que as expectativas ruins predominem. "Sem contar que alguns índices são mais determinantes para a desconfiança geral, como a taxa de juros em alta e o aumento do custo da energia", afirma.

Causa e efeito

Se as perspectivas de mudanças são baixas, o pessimismo não colabora para o processo de retomada. "Investimento baixo, adiamento de projetos e produção apenas estável só colaboram para um cenário ainda pior", explica Azevedo.

De acordo com especialistas, a atitude do setor privado poderia ser outra se o discurso oficial vindo do planalto fosse mais convincente. No Japão, por exemplo, a retomada econômica partiu, antes de qualquer coisa, de uma mudança de postura do governo central.

"A economia japonesa andou de lado por muitos anos, mas uma proposta de reforma econômica, com mudanças nas legislações agrícola e tributária foi comprada pelo setor produtivo local", afirma o especialista em Política Econômica da Universidade de Brasília, Sandro De Colo.

No Brasil, a situação é bastante diferente. "Há algum tempo ouvimos o [ministro da Fazenda] Guido Mantega fazer previsões irreais sobre crescimento, por exemplo. A credibilidade é zero", completa.

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