Em um dia de forte tensão, nem mesmo a atuação dos bancos centrais europeu e americano para garantir maior liquidez aos bancos foi capaz de segurar a derrocada das bolsas mundiais. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em queda de 3,28%, aos 53.431 pontos, com volume financeiro de R$ 4,387 bilhões. Já o dólar subiu 2,23%, a R$ 1,9270, enquanto o risco-país tinha alta de 8,14%, aos 186 pontos básicos. Nos Estados Unidos, O S&P recuou 2,96%, aos 1.453,09 pontos. O Dow Jones teve queda de 2,83%, aos 13.270,7 pontos, enquanto o Nasdaq recuou 2,16%, aos 2.556 pontos.

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As bolsas européias também fecharam em queda.

Os problemas de liquidez das instituições financeiras, provocados pela crise dos empréstimos subprime (de alto risco) dos Estados Unidos, foram evidenciados nesta quinta-feira pela suspensão de operações de depósitos e resgates em três fundos do banco francês BNP Paribas , no valor de US$ 2,2 bilhões. O BNP é o maior banco da França e o segundo maior da Zona do Euro.

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O BCE injetou 94,8 bilhões de euros em empréstimos para os bancos na zona do euro, a uma taxa de 4%. Este montante é o maior já oferecido pela instituição monetária desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Já o Fed elevou em US$ 12 bilhões as reservas temporárias do sistema bancário.

Embora as quantias não tenham apaziguado o ânimo dos investidores, analistas têm dificuldades de prever o que teria acontecido caso as medidas não tivessem sido realizadas.

- A decisão é positiva mas, por outro lado, se os bancos centrais estão precisando injetar dinheiro é porque a situação não deve estar muito boa - diz Fábio Cardoso, gestor da Máxima Asset.

Ele ressalta que o BNP não é um banco qualquer e que a tendência, ao menos no curto prazo, é de que os investidores continuem reduzindo seus riscos.

- O mercado só vai parar de cair quando não houver mais notícias deste tipo. 'No news is good news'. Ou seja, a falta de notícias é que representa uma boa notícia.

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O diretor-presidente do BNP Paribas no Brasil, Marcelo Giufrida, negou qualquer risco de contágio dos fundos brasileiros. Segundo ele, que administra um patrimônio de R$ 27 bilhões no país, os fundos brasileiros não têm investimentos no mercado de crédito subprime americano.

Bush fala dos EUA

A crise fez até o presidente americano, George W. Bush, se pronunciar sobre a economia do país. Ele afirmou que os fundamentos econômicos dos Estados Unidos são fortes - apesar da turbulência no mercado imobiliário do país - graças à baixa inflação, sólido mercado de trabalho e uma economia global saudável.

- Os fundamentos de nossa economia são fortes - disse Bush a jornalistas. - Fui informado de que há liquidez suficiente no sistema para permitir aos mercados que se corrijam.

Sem alarde

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Para o analista internacional da Mercatto, Gabriel Goulart, a oferta de mais recursos para o setor bancário sinalizou que as entidades monetárias estão atentas e que poderão "abrir a torneira" do crédito se necessário.

- Aparentemente, a medida surtiu algum efeito na acomodação de uma tensão bem grande que ocorreu no overnight e depois que começou a circular a notícia de que não havia dinheiro no mercado europeu e que os bancos estavam começando a tomar dinheiro a 4,70%, bem acima da taxa básica de juros de 4% - diz.

Para ele, não há motivo para alarde com a crise do mercado de crédito americano.

- O subprime representa de 8% a 9% do total de crédito imobiliário dos EUA, que é de US$ 10 trilhões. Esses US$ 10 trilhões, por sua vez, estão dentro de um mercado total de crédito de US$ 50 trilhões. Então, o peso dos empréstimos subprime são menos de 2% do total de crédito americano. Uma contaminação de toda a matriz é muito difícil de acontecer - avalia.

Goulart, no entanto, acha que as volatilidades podem continuar nos próximos 20 dias:

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- A incerteza e a falta de transparência sobre investimentos de fundos e bancos é que fazem o mercado ficar mais encolhido, desalocando recursos e pedindo prêmios mais altos. Existe uma diferença grande entre incertezas e fundamentos. Para investimentos no logo prazo, o momento continua atrativo. O que ninguém sabe é se continuará havendo perdas das bolsas no curto prazo.