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Aceita trocar um violão por dois canários-da-terra? A pergunta, que soa estranha, é corriqueira na Avenida Forte do Leme. Todos os domingos funciona ali, no coração de São Mateus, na zona leste, a 'Feira do Rolo', onde centenas de vendedores oferecem todo o tipo de mercadoria. E milhares de consumidores compram.

Na São Paulo dos shoppings-centers, o escambo tem endereços fixos nos fins de semana. Só na zona leste há mais duas feiras do tipo (em São Miguel Paulista e perto da estação de trem Guaianazes). A de São Mateus, na avenida vizinha ao 49 Distrito Policial, é a maior delas.

O comércio é tradicional na região. Basta perguntar a qualquer morador que logo ouvirá: 'Fica logo ali, próximo ao final da Aricanduva com a Ragueb Chohfi'. O movimento começa desde 7h e se intensifica mais ainda no término das vendas e dos rolos, por volta das 14h, quando começam as ofertas mais tentadoras para os que têm intuito de gastar menos.

Na 'Feira do Rolo' tudo é negociado e negociável, desde lingerie até lava-louças (R$ 100, usado) e carrinhos de supermercado (R$ 65, também com uso). Os produtos mais baratos custam R$ 1, dinheiro que compra 20 balas ou então um DVD pirata de filme ou de show, que não é testado na hora.

- Cada DVD é só um real. Só não testa na hora, mas o produto é de boa qualidade - garante o vendedor.

Na barraca de balas, não há só montes com 20 unidades por R$ 1. Há também galinhas vivas e bonecas usadas, que custam mais caro a unidade, R$ 5. No mesmo comércio, o vendedor pode ampliar o 'leque de produtos' se o freguês, de repente, aparecer com uma fita de videogame e quiser trocar por uma galinha, por exemplo.

Na 'Feira do Rolo' de São Mateus, não há distinção de qualidade. Até mercadorias em péssimo estado são comercializadas. Pás e picaretas enferrujadas (R$ 2 cada), roupas totalmente desbotadas e peças de carros antigos - que nem lojas de autopeças vendem mais - estão entre esses 'achados'.

Mas alguns produtos custam caro e é preciso, além de dinheiro, ter como levar a mercadoria recém-adquirida. No final da Avenida Forte do Leme, onde seis galinhas vivas são vendidas por R$ 10, um homem vende a bugiganga mais cara do local; um motor de barco usado que pesa mais de uma tonelada. Ele anuncia por R$ 3.500, mas aceita R$ 3 mil.

- Se tiver o dinheiro vivo (R$ 3 mil) ou outros motores para trocar por esse, leva na hora - intima, ligando o motor para provar que funciona.

A maioria dos produtos é de procedência duvidosa. Na barraca que vende celulares, aparelhos que custam R$ 1.500 no shopping sai por R$ 300. O sofisticado aparelho e as ligações são testadas na hora. Um outro negociante vende um celular, encontrado por R$ 150 nas lojas de operadoras de telefonia, por R$ 25. No display do aparelho, o nome 'Shirley', provavelmente o da antiga dona do celular. Logo, um homem, que fica encucado com o nome 'Shirley' no aparelho, aparece para fechar negócio. Propõe trocar o celular por uma roda de Fusca já com o pneu 'meia-vida' envolto. O vendedor aceita e logo já oferece o novo produto para os que passam no local.

- Aqui, fazemos qualquer negócio - diz.

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