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Sobrecarga do porto faz com que alguns navios passem mais de um mês esperando para atracar | Felipe Rosa / Gazeta do Povo
Sobrecarga do porto faz com que alguns navios passem mais de um mês esperando para atracar| Foto: Felipe Rosa / Gazeta do Povo

Avicultura

Produção de frango é suficiente para abarrotar terminal de contêineres

Com demanda ainda abaixo da capacidade instalada, o embarque de contêineres pelo Porto de Paranaguá pode crescer 8%, de acordo com o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento, o PDZPO. Segundo o documento, o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) usa 83% de sua capacidade. Mas essa "folga" é pequena, demonstram os principais clientes do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP): os frigoríficos de frango.

Se usasse apenas do Porto de Paranaguá, a avicultura paranaense ocuparia sozinha 100% da estrutura do TCP. O desempenho do terminal de contêineres deve melhorar neste ano, em razão de mudanças internas e investimentos em carregadores. Em maio, por exemplo, o número de movimentos por hora (mph) chegou a 70, o dobro do registrado um ano antes.

Na avaliação do superintendente da Appa, Luiz Henrique Dividino, a tendência de crescimento na produção de carne de frango tende a evitar uma piora na sobrecarga do embarque de grãos. Isso porque, na teoria, uma parte maior da produção de soja e milho seria consumida no próprio estado, usada na ração dos animais, em vez de ser exportada. "Os projetos de expansão de abatedouros existentes e de novas indústrias, em regime de integração, deverão cada vez mais absorver a produção [de grãos] do Paraná", afirma Dividino.

Ele pondera, no entanto, que o alívio para o corredor de exportação de grãos será pequeno se considerada a tendência de aumento no cultivo e nos embarques de milho. O cereal ganha espaço no inverno e no verão, quando rende o dobro do volume de soja por hectare. As exportações eram rasas até dez anos atrás, mas hoje representam quase metade do volume da soja, o principal produto de exportação do estado. A tendência é de que o Paraná remeta ao exterior 3 milhões de toneladas de milho ao ano, conforme as estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

"Paranaguá vai continuar recebendo soja de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso [apesar da estruturação de outros portos] porque continua oferecendo a melhor condição de frente de retorno, para o navio carregar soja e retornar com insumos."

Luiz Henrique Dividino, superintendente do Porto de Paranaguá.

  • O Terminal de Contêineres de Paranaguá, que hoje usa 83% de sua capacidade máxima, deve ter impulso da indústria de carne

A importação e a exportação de granéis fizeram o Porto de Paranaguá ultrapassar seus limites neste ano e prometem continuar crescendo. Apesar de outros portos do país estarem ampliando a recepção de fertilizantes e o embarque de grãos, a demanda regional tem fôlego extra e pode agravar a sobrecarga, conforme avaliação Associação dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) e da área de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura.

Soja, milho, açúcar e fertilizantes são os produtos que mais exigem investimentos para elevar a movimentação de cargas, mostra o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto Organizado de Paranaguá (PDZPO), estudo realizado pelo Laboratório de Transportes e Logística da Universidade Federal de Santa Catarina (LabTrans/UFSC) que deve orientar a execução de projetos orçados em R$ 2 bilhões. São essas commodities que têm provocado filas de mais de 100 navios, com espera de até 40 dias para atracação.

Na soma desses quatro produtos, a demanda atual, de 21,2 milhões de toneladas por ano, é 4,7 milhões de toneladas superior à capacidade do porto – ou seja, há um déficit de capacidade de cerca de 28%. Considerando-se todo o movimento do porto, que chega a 41 milhões de toneladas ao ano, a sobrecarga é de 11%. Trata-se da evidência mais concreta de que a demanda deve dobrar em 20 anos, conforme a Gazeta do Povo mostrou nas duas primeiras reportagens da série "O futuro do porto".

Mesmo perdendo participação nos embarques nacionais, Paranaguá vai enfrentar demanda regional crescente, sustenta o superintendente da Appa, Luiz Henrique Dividino. Sem área significativa para ampliar suas lavouras, o estado ainda pode crescer em produtividade e ampliar particularmente a produção de milho e a de açúcar, avalia.

As duas regiões brasileiras que mais crescem na produção agrícola – o circuito de Mato Grosso, no Centro-Oeste, e a zona que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o MaToPiBa, no Centro-Norte – estão estruturando os portos em Itacoatiara, na região de Manaus, Suape, próximo a Recife, e Itaqui, em São Luís. Há forte investimento também nos corredores rodoferroviários que facilitam o escoamento da safra do Centro-Oeste pelo Porto de Santos.

Mesmo assim, o superintendente do porto paranaense aponta que as elevadas cotações internacionais e a desvalorização do real face ao dólar estimulam investimentos no campo e "aumentos substanciais" nos embarques.

"O grande salto de exportação deverá ocorrer por conta dos ganhos em produtividade que ainda estão por vir", aposta. Para produzir mais grãos nas áreas atuais e ampliar as exportações, o agronegócio precisa também importar mais fertilizantes.

Apesar da estruturação de terminais exportadores em outras regiões do país, Paranaguá tende a atender nas próximas décadas uma zona produtiva maior que a atual, conforme o coordenador de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, José Garcia Gasques. "À medida que melhorarem as condições de infraestrutura, deve haver sem dúvida uma expansão da área de abrangência." Por outro lado, Gasques considera que o desempenho local é que vai determinar a sobrecarga. "O aumento da produtividade no estado será um fator decisivo."

O crescimento da demanda estadual e a expansão da área de abrangência podem fazer com que a área disponível para ampliação do porto – equivalente a 50 campos de futebol – ganhe destino rapidamente.

Para driblar dificuldades, empresas investem por conta própria

Carlos Guimarães Filho

As empresas e cooperativas que operam no Porto de Paranaguá têm optado pelos investimentos próprios em estrutura para minimizar os problemas gerados pela sobrecarga no terminal. Essa tem sido a solução, mesmo que paliativa, diante das dificuldades de investimentos do setor público para aumentar a movimentação de cargas, principalmente granéis.

A Coamo, de Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), investiu na construção de um armazém de 100 mil toneladas e na instalação de duas correias que fazem o transporte de carga da indústria aos armazéns. A cooperativa opera no litoral paranaense desde 1994. "Quando compramos, eram dois armazéns de 42 mil toneladas e duas correias que ligavam os armazéns aos navios. Tivemos muitas dificuldades e foi preciso modernizar", relata José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo.

No momento, a cooperativa não tem planos de novos investimentos. Porém, Gallassini sabe que, em breve, terá que ampliar a capacidade de operação, até porque a cooperativa continua crescendo: está construindo oito unidades armazenadoras – cinco no Paraná e três em Mato Grosso do Sul –, um moinho de trigo e um laboratório industrial, entre outras melhorias na sua estrutura. "No momento, não temos em vista [novos investimentos no porto]. Mas como hoje estamos operando no limite, sabemos que será necessário investir", diz.

Oura empresa que cansou de esperar por melhorias e abriu a carteira para ampliar suas operações foi a Rocha Top, que movimenta fertilizantes no terminal. A empresa investiu R$ 80 milhões para implantar uma nova esteira que permitirá dobrar a velocidade de descarga de adubo, de 6 mil para 12 mil toneladas por dia.

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