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O navio plataforma Cidade de São Vicente: política do governo prevê que 65% dos equipamentos do setor sejam nacionais | Agência Petrobras
O navio plataforma Cidade de São Vicente: política do governo prevê que 65% dos equipamentos do setor sejam nacionais| Foto: Agência Petrobras

Competitividade

Estrangeiros disputam mercado

Empresas estrangeiras também estão de olho no setor de petróleo e vêm ao país para disputar contratos. A fabricante de motores de propulsão finlandesa Wartsila, por exemplo, está no aguardo do lançamento da terceira fase do Programa de Renovação e Modernização da Frota da Transpetro para iniciar sua primeira linha de produção no país, instalada em parceria com a Nuclep, em Itaguaí. Hoje, dos 50 petroleiros da Petrobras, a companhia tem contratos para a manutenção de 30 deles. Com o aumento da frota, já está considerando o mesmo aumento potencial no volume de serviços.

Também prospectando novos negócios, a suíça Clariant Oil & Services, líder global em especialidades químicas, vem se preparando já há dois anos para atuar na área do pré-sal. Hoje, a companhia possui 11 dos 21 contratos que a Petrobras mantém no país para manutenção de plataformas offshore. Mas as características das condições de atuação no pré-sal fizeram com que a companhia começasse a desenvolver novos produtos voltados especialmente para este segmento.

Rio de Janeiro - Com perspectivas de abocanhar boa parte dos US$ 400 bilhões que deverão ser investidos pelo setor de petróleo nos próximos dez anos, fornecedores da Petrobras instalados no país ou mesmo lá de fora travam uma guerra para contornar os gargalos que podem impedir o desenvolvimento escalonado das áreas do pré-sal. As perspectivas de crescimento do setor são arrojadas por causa da meta de conteúdo nacional, que deve ser ampliada para os próximos anos, período em que apenas a Petrobras pretende elevar sua produção de petróleo atual de 2,3 milhões de barris para 3,9 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe) em 2014, e 5,4 milhões de boe em 2020.

O objetivo da indústria, se­­gundo a Associação Brasileira da In­­dústria de Máquinas e Equipa­­mentos (Abimaq), é fazer valer a política de conteúdo nacional de no mínimo 65% dos equipamentos destinados ao setor de petróleo, como plataformas, sondas e navios petroleiros. Hoje, o porcentual exclui uma série de componentes que não são fabricados no Brasil. Se considerado o conteúdo total do equipamento, segundo Abi­­maq, a indústria local participa com menos de 30%.

"São excluídos aço, turbinas e mais uma série de equipamentos que pesam no total da encomenda. Hoje, na prática, fornecemos mais serviços de montagem do que propriamente equipamentos", disse Alberto Ma­­chado, presidente do segmento de óleo e gás da Abimaq. As principais ações programadas pela Abimaq vão desde a mobilização com o novo governo para fazer valer as regras até o incentivo à modernização e expansão da indústria local.

Para o presidente da Asso­­ciação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, a Petrobras prioriza fornecedores externos na fabricação de navios-plataforma. "Na área de petróleo e gás, a Petrobras anunciou investimentos de US$ 40 bilhões entre 2010-2014, uma oportunidade única na história. Mas, no caso do nosso setor, perdemos muito, porque o fornecimento dos equipamentos eletroeletrônicos se faz através de pacotes fechados, priorizando fornecedores externos."

Compras

Dados da Abinee apontam que, dos US$ 12 bilhões comprados pela Petrobras em 2010, apenas US$ 3 bilhões foram no Brasil. Para os próximos anos, a estatal estima que sua demanda será de, pelo menos, seis plataformas por ano, ante as três atuais. A empresa também está contratando sondas de perfuração, navios petroleiros, barcos de apoio, além de equipamentos para as refinarias.

Há ainda demanda crescente por parte das outras petroleiras que começam a atuar no Brasil, como Statoil, Shell, Chevron, BG e OGX, para citar apenas algumas. Mas, apesar disso, especialistas do setor defendem que a indústria só será mesmo competitiva quando puder tratar de igual para igual com um concorrente internacional em disputas de fora do país.

"Um dos aspectos que a No­­ruega fez de mais forte em sua indústria do petróleo foi montar indústria local, montar massa crítica que conseguiu passar da primeira fase de criar capacidade, para orçar competitividade. Não é difícil criar, o problema é torná-la competitiva. Quando elas se tornam competitivas, percebemos que a coisa andou", comentou Jorge Camargo, presidente do conselho da norueguesa Statoil.

Doença holandesa

Um dos maiores temores da concentração de renda em um determinado setor, a chamada doença holandesa, no entanto, não as­­susta tanto a economistas. "Pre­­firo falar na saúde brasileira do que na doença holandesa. A descoberta do pré-sal foi fundamental para alavancar o crescimento, aconteceu numa economia pron­­ta e acabada pronta para crescer. Com o agribusiness avan­­çando, tecnologia bastante avançada em alguns casos. Como isso poderia levar a uma desindustrialização ou como teríamos que tomar medidas de emergência? Me parece descabido", disse o economista Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, hoje na Projeta Consultoria.

As principais dificuldades para serem um aumento da competitividade da indústria nacional, segundo os fornecedores, são os tributos e o câmbio, que impedem um maior desenvolvimento desta indústria para chegar à excelência competitiva nos moldes internacionais. Mas Langoni descarta que este seja o fator primordial para o baixo nível de competição.

"Chamo a atenção para o fato de não existir economia forte com moeda fraca. Temos que aceitar a realidade de que o câmbio brasileiro de equilíbrio hoje é muito diferente de dez anos atrás, quando tínhamos economia mais frágil. Como enfrentar isso? Com mais eficiência, mais competitividade", disse, destacando que há um consenso hoje que a carga tributária é regressiva, e prejudica investimento.

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