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As negociações sobre um novo acordo de livre comércio fracassaram nesta segunda-feira, depois de cinco anos de árduas deliberações, e poderiam passar anos até serem retomadas, segundo estimativas de diplomatas.

- Diante da persistente estagnação, creio que a única medida que posso recomendar é suspender as negociações da Rodada de Doha - anunciou nesta segunda-feira, formalmente, o diretor-geral da organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy.

Ao reconhecer que a suspensão das negociações poderia resultar no fracasso defonitivo da Rodada de Doha , Lamy disse que dependia dos membros da OMC decidirem quando estariam prontos para retomar as conversações, afirmando que isso poderia não "levar pouco tempo".

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse estar " decepcionado e preocupado "

- É claro que sempre existe o risco de que se percam os progressos obtidos nas negociações até esta data - afirmou.

Como ponto positivo, destacou que "todos os que conversaram continuam comprometidos".

A suspensão da Rodada de Doha ocorreu depois que as principais potências comerciais não conseguiram chegar a um acordo na última tentativa de superar as divergências.O núcleo do problema eram as divisões em torno do tema da reforma do comércio agrícola internacional.

- As negociações da OMC estão suspensas - afirmou logo cedo o ministro de Comércio e Indústria indiano, Kamal Nath, a jornalistas, já antecipando que uma retomada poderia durar meses e até anos.

A rodada, lançada na capital do Qatar em 2001, tropeçou desde o início no tocante a quanto as nações ricas deveriam oferecer para acabar com sua enorme estrutura de subsídios e abrir seus mercados.

As 14 horas de conversas entre os países do G6 - Austrália, Brasil, Índia, Japão, União Européia e Estados Unidos - não chegaram a um avanço sobre o tema no domingo.

A União Européia e a Índia responsabilizaram os Estados Unidos pelo colapso, dizendo que Washington pediu uma compensação alta demais para reduzir em cerca de US$ 20 bilhões seus gastos anuais com subsídios agrícolas.

Acusando os Estados Unidos de dificultar as discussões com discurso demorado para obter tempo, o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson , disse:

- Com certeza o país mais rico e mais forte no mundo, com os melhores níveis de vida, tem condições de dar assim como de receber.

Mas os EUA foram inflexíveis ao dizer que nem a UE nem a Índia estavam preparados para oferecer o tipo de acesso a seus mercados que Washington queria para fazer um acordo que valesse a pena.

- Infelizmente, conforme avançávamos pelas camadas de pontos indefinidos... descobrimos que vários de nossos parceiros comerciais estavam mais interessados nas indefinições do que em discutir acesso a mercados - afirmou a representante de Comércio dos EUA, Susan Schwab.

A crise é semelhante à de 1990, durante a Rodada do Uruguai. Essa série de conversações, lançada em 1986, só foi concluída em 1993.

As negociações de domingo não evoluíram na área dos subsídios agrícolas, conhecida como apoio doméstico, onde os EUA enfrentam pressões para que façam mais concessões.

COMPROMISSO MANTIDO

Apesar do fiasco, todos os membros do G6 disseram que permanecem compromissados com o sistema de comércio multilateral e a concluir a Rodada de Doha, mesmo sem saber dizer como ou quando as negociações poderiam ser retomadas.

Os países do G6 são responsáveis por três quartos do comércio mundial e representam um amplo leque de interesses comerciais.

- É um grande fracasso. Se vai ser definitivo, apenas o tempo vai dizer", afirmou Mariann Fischer Boel, comissária de Agricultura da UE.

A OMC esperava concluir as negociações da Rodada de Doha, que também incluem temas complexos como serviços e regras anti-dumping, até o fim do ano.

Mas o fracasso em Genebra deixou a rodada sem uma data-alvo e uma série de eventos internacionais potencialmente complica o horizonte, incluindo várias eleições e o vencimento, em 2007, de um mecanismo constitucional que dá ao presidente dos EUA poderes especiais para negociar sobre comércio.

Mandelson afirmou que há um custo político para o colapso, assim como econômico.

- Corremos o risco de enfraquecer a OMC e o sistema de comércio multilateral em um momento em que precisamos urgentemente fortalecer a confiança internacional, não prejudicar, e fazer o que podemos para estabilizar o mundo - disse.

Lamy afirmou que os EUA precisam oferecer maiores cortes em seus subsídios agrícolas, e que a UE deve diminuir suas barreiras contra a importação de produtos agrícolas. Também disse que os grandes países em desenvolvimento precisam abrir seus mercados aos produtos industrializados.

Washington sustenta que sua oferta de cortar em 60% o valor máximo de seus subsídios domésticos é significativa, mas seus adversários na negociação argumentam que, na prática, os gastos reais com subsídios a seus produtores continuariam os mesmos.

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