
Os principais índices do mercado de ações no mundo fecharam em alta ontem, recebendo suporte de dados que mostraram uma contração menor do que a esperada na economia do Japão durante o segundo trimestre e também por acordos corporativos anunciados nos EUA, sendo o principal deles a aquisição da Motorola Mobility pelo Google por US$ 12,5 bilhões. Mas, hoje, os problemas orçamentários da Europa voltam ao foco do mercado o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, discutirão a crise no continente durante uma reunião em Paris.
No fim de semana, o ministro de Economia e Finanças da Itália, Giulio Tremonti, defendeu uma consolidação fiscal mais rigorosa na Europa e a possibilidade de emissões de eurobonds (títulos da dívida europeia, em vez de títulos de países específicos) para dividir o ônus dos pacotes de resgate por toda a zona do euro. "Na verdade todos sabemos que há apenas duas escolhas. Ou a Alemanha decide ser a credora de última instância para toda a zona do euro, concordando em emitir os bonds, ou ela opta por não se sacrificar no altar da união política e despeja todo o problema nas costas dos estados soberanos", diz Simon Denham, executivo-chefe da Capital Spreads.
Agenda
No entanto, pelo menos oficialmente, a questão dos eurobonds não está na pauta do encontro em Paris. Segundo o porta-voz de Angela Merkel, Steffen Seibert, os dois líderes não vão conversar sobre eurobonds. A chanceler alemã e o presidente francês vão discutir como fortalecer a cooperação entre as políticas econômicas na zona do euro, incluindo a criação de um Conselho de Estabilidade Europeu. As informações vão além da agenda oficial da reunião, que menciona apenas acordos para a Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês).
Ontem, o jornal alemão Die Welt afirmou, citando fontes do governo, que membros do governo da Alemanha estão prontos para aceitar transferências de pagamentos para outros países da União Europeia e até mesmo os eurobonds. No entanto, a introdução dos títulos europeus não teria aprovação da maioria dos parlamentares da Alemanha, afirmou Norbert Barthle, porta-voz para orçamento do Parlamento alemão e membro da União Democrata Cristã, o mesmo partido de Angela Merkel. Segundo Barthle, criar eurobonds significará institucionalizar uma comunidade de obrigações de dívida na zona do euro. "Nós não queremos isso", afirmou.
O diretor da Futura Corretora, André Ferreira, diz que a volatilidade nas bolsas deve continuar forte. "Os mercados caíram demais com a notícia do rebaixamento dos EUA, agora houve um ajuste. Mas a Europa continua sendo uma grande preocupação", considera. Ele e Raffi Dokuzian, superintendente da Banif Corretora, acreditam que, caso não haja o anúncio de novas medidas para lidar com o endividamento da Europa hoje, após a reunião de Sarkozy e Merkel, os mercados podem voltar a cair em todo o mundo. "Tem de sair alguma coisa, porque os dois [França e Alemanha] são os países com mais influência na União Europeia", diz Dokuzian.



