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Crítica

"Estatal no trem-bala atende a interesse político"

O ponto em discordância dos analistas em relação à MP é quanto à participação dos Correios no trem-bala, que pode servir apenas ao interesse político do governo – que tenta a todo custo implantar o projeto. "Uma pergunta que a sociedade precisa fazer é: qual é o benefício que os Correios vão ter participando do trem-bala? Seria um bom negócio para a estatal viabilizar o funcionamento deste modal? Infelizmente, as estatais acabam servindo como empresas que dão garantia para que os projetos do interesse do governo saiam", diz Sérgio Lazzarini, professor associado do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, explicou, porém, que a empresa não entrará no leilão, mas vai se associar, posteriormente, ao consórcio vencedor. Ele acredita, no entanto, que as empresas interessadas em disputar o TAV já devem estar negociando com os Correios.

O Diário Oficial publicou ontem uma medida provisória (MP) que autoriza os Correios a montarem uma empresa de telefonia celular, a terem aviões próprios para o transporte de carga e a investirem na construção do trem-bala. A diversidade de áreas em que a estatal pode atuar chama a atenção de especialistas, que observam a utilidade, por exemplo, de os Correios terem seu próprio serviço de transporte aéreo, mas analisam com ressalvas a sua entrada na construção do trem-bala.

A questão da frota de aviões é importante, na opinião de economistas, tendo em vista os escândalos políticos em que o setor já esteve envolvido. Auditorias de órgãos públicos em licitações e contratos de transportes já arranharam a imagem do órgão e ainda prejudicaram suas entregas. Por essa razão, "internalizar" as atividades pode trazer benefícios à estatal. "Os aviões são importantes ferramentas logísticas e a terceirização deste serviço pode prejudicar a operação dos Correios. Trazer o transporte para dentro da empresa diminui a fragilidade, porque não seriam necessários mais licitações e contratos. A estatal fica independente e mais ágil", analisa o economista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) José Guilherme Vieira.

Para Sérgio Lazzarini, professor associado do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, manter o transporte aéreo em poder dos Correios pode aumentar a garantia das entregas de encomendas. "Isso dá mais vantagens, porque a estatal fica com mais controle sobre suas operações, não fica na dependência de uma empresa terceirizada que possa estar com altas demandas e tendo problemas com as entregas", salienta Lazzarini.

Celular

Entrar no mercado de telefonia móvel também é positivo na opinião do economista, já que, devido à sua alta capilaridade, a companhia pode cumprir uma função social no setor. "É um movimento de acompanhar as novas tecnologias. Com isso, a estatal poderia levar o serviço de celular a lugares que hoje não são rentáveis para as empresas da área", afirma. A companhia seria uma espécie de operadora de celular e isso permitiria que os Correios "alugassem" a rede das operadoras tradicionais, mas usando a marca própria.

A MP autoriza ainda os Correios a operarem no exterior e a serem sócios minoritários de banco postal. Há dez anos o serviço é oferecido pelo Bradesco, mas o contrato expira no fim de 2011. Ontem, foi divulgado o edital para selecionar o novo administrador, que prevê que os Correios também poderão oferecer cartão de crédito e pequenos empréstimos.

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