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Loja do Pão de Açúcar em Curitiba: os franceses do Casino, sócios de Abilio Diniz na rede, prometem vetar fusão com Carrefour | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Loja do Pão de Açúcar em Curitiba: os franceses do Casino, sócios de Abilio Diniz na rede, prometem vetar fusão com Carrefour| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Aprovação

CVM pode ser chamada a se manifestar

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pode ser chamada a se manifestar sobre um possível conflito de interesse na fusão, envolvendo a francesa Casino e Abílio Diniz, hoje sócios no Pão de Açúcar. A CVM pode ter de avaliar se a troca das ações proposta no início da operação é justa e se há direito de voto, já que há um regime diferenciado para as ações ordinárias nas mãos de Diniz e do Casino em relação ao resto do mercado.

A operação estabelece que as ações preferenciais da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), empresa que controla o Pão de Açúcar, sejam trocadas por ações ordinárias à razão de 0,95. Esses papéis estão no mercado. Já para as ações de Diniz e Casino a relação seria de 1 para 1. Com a possível vantagem, tanto Diniz quanto Casino poderiam ser impedidos de votar sobre a operação por estar em possível conflito de interesse, o que jogaria para o mercado a decisão. A estratégia interessaria a Diniz, já que o Casino já avisou ser contrário ao negócio. Embora, assim como o Casino, ele também não pudesse votar, Diniz estaria apostando que a operação seria aprovada pelo mercado, com isso atingindo seu objetivo final.

Agência Estado

Governo

Gleisi alega que "não há dinheiro público" na negociação

A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) afirmou ontem que "não há recurso público" do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour. Segundo a ministra, esta é uma ação de mercado do BNDESPar, braço de participações do banco em empresas privadas, e não passa pelo crivo do governo.

Gleisi disse que não haverá verba do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), nem do Tesouro Nacional. "Essa é uma operação enquadrada pelo BNDES. Não é operação de crédito do BNDES, não tem recurso público envolvido, nem FGTS nem Tesouro. É o BNDESPar que vai fazer isso. É ação de mercado, portanto não tem nada a ver com decisão de governo", argumentou.

Um dia após o anúncio da fusão, o empresário Abilio Diniz, da rede Pão de Açúcar, participou, no Palácio do Planalto, de reunião da Câmara de Políticas de Gestão, uma espécie de consultoria do Planalto para melhorar a gestão dos serviços públicos. Segundo participantes do encontro, ele não falou sobre a fusão.

O coordenador da Câmara, o empresário Jorge Gerdau, evitou comentar o assunto, mas afirmou que as fusões são uma "tendência mundial". Ele disse ainda que cabe ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) avaliar a concentração de mercado. "É uma operação de mercado, e não de financiamento público. É uma operação de mercados de capitais", afirmou.

Pimentel

Diante das reações negatvas quanto à participação do BNDES na fusão, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, decidiu atacar os bancos brasileiros. "Tudo seria resolvido se o setor financeiro privado do Brasil fizesse o papel dele, que é financiar o capital brasileiro", reclamou. "Como ele não faz isso, o BNDES tem de atuar", acrescentou. O BNDES informou que poderá participar com até R$ 4,5 bilhões na transação. No entanto, o ministro afirmou, por diversas vezes, que ainda não é certo que o banco estatal entrará no negócio. "Ela está sendo avaliada pela diretoria", disse.

Para Pimentel, essa operação irá aumentar a pauta de exportações das indústrias brasileiras. "Isso abriria uma porta importantíssima para a colocação de produtos brasileiros no mercado estrangeiro. Se isso vier a acontecer, nós vamos ter, pela primeira vez, produtos industrializados brasileiros lá fora. Esse é o objetivo que leva o nosso banco de desenvolvimento a estudar [a entrada nessa operação]", declarou o ministro.

Folhapress e Agência Estado

Setores agroindustriais estão preocupados com a possível fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e a operação brasileira do Carrefour. Representantes de fornecedores de leite longa vida, trigo, carne bovina e café torrado e moído consideram que a alta concentração do varejo é negativa em termos de negociação, por causa da perda do poder de barganha. Também pode ser ruim para o consumidor final, na avaliação desses setores, pois a concentração nem sempre representa preços mais baixos nas prateleiras dos supermercados.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Super­mercados (Abras), a mercearia seca (cereais, farináceos, grãos etc.) representa a principal seção em termos de faturamento, com 23,4% do total em 2010. Os perecíveis (frios, laticínios, congelados) estão na sequência, com 13,8% de importância. Com análise separada dos demais perecíveis, o açougue teve 7,6% de participação e a seção de frutas, legumes e verduras ficou com 6,1% de representatividade. Outra área de peso para o setor foi a mercearia líquida, com participação de 12,2%.

O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszko­wicz, disse que a concentração no setor varejista é sempre danosa para os fornecedores, de maneira geral, e não deve ser diferente no caso da negociação de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil. "Os varejistas aumentam seu poder de negociação, o que pode significar pressão sobre os preços, contratos comerciais que se tornam difíceis de serem cumpridos pelo fornecedor, entre outros. Pior: esse tipo de movimento não significa que os preços dos produtos vão baixar ao consumidor", disse.

Herszkowicz considera, no entanto, que o movimento é inevitável por causa da forte concorrência no varejo. "O que se teme é o efeito de desigualdade de negociação, fazendo com que pequenas e médias empresas, principalmente, se tornem inviáveis como fornecedoras para as grandes redes", acrescentou. Conforme dados da Abic, os supermercados são o principal canal de distribuição do café, representando cerca de 70% de todo o produto vendido no país.

O diretor-executivo explicou que a negociação com as redes varejistas já é muito complicada hoje. "Os contratos apresentam diversos níveis de exigências, com as quais muitas vezes o fornecedor não tem condições de arcar", garantiu. Ele citou, por exemplo, descontos impositivos, menor preço em comparação com a concorrência e o chamado "enxoval" (mercadorias gratuitas para inauguração de novas lojas). Segundo Nathan, essa situação dificulta a participação de pequenas e médias empresas no grande varejo. "Hoje o número de marcas de café já é muito pequeno, cinco ou seis, nas grandes redes supermercadistas. Tempos atrás havia mais marcas, inclusive regionais, mas ocorreu uma seleção de fornecedores", concluiu.

Lácteos

A concentração também preocupa o segmento de lácteos, uma das cinco categorias mais vendidas nas redes do varejo de alimentos, considera Nilson Muniz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV). "A indústria é penalizada. O processo beneficia mais o lado que está concentrado e gera uma relação desigual", afirmou. Toda a cadeia será pressionada, diz. "O comércio é o elo de ligação entre o produtor e o consumidor. E, no caso do leite, isso atinge mais diretamente o produtor. Não há milagres", afirma.

A entidade também vê com preocupação a possibilidade de ampliação das marcas próprias de leite da rede resultante da fusão. "Isso inibe a inovação e o desenvolvimento de novos produtos", opina. De acordo com dados da entidade, a produção de longa vida deverá alcançar 5,7 bilhões de litros em 2011, com faturamento de R$ 10 bilhões. As redes de supermercados são o principal canal de vendas do segmento.

Trigo

Para um executivo do setor moageiro, se hoje a indústria de farinha de trigo já arca com custos expressivos para colocar seu produto em destaque nos supermercados, ou tê-lo em iguais condições entre as demais marcas, a prática ficará ainda mais onerosa com a junção dos dois grandes varejistas. Nas palavras desse empresário, a economia perde com o que chamou de "ditadura do varejo", pois são os pequenos e médios comerciantes – os que mais contratam mão de obra – os maiores prejudicados pela concentração, já que terão dificuldade para negociar. Além da indústria, também o consumidor será prejudicado, disse a fonte, considerando que em algumas regiões a concorrência entre as duas empresas, que hoje faz diferença no preço, deixará de existir.

No setor de carnes, a apreensão é a mesma. "Estou preocupado há muito tempo com a concentração no varejo. É ruim para o consumidor e para as diversas cadeias do agronegócio", diz o presidente da Associação Brasileira de Frigo­ríficos (Abrafrigo), Péricles Sala­zar. Para ele, as margens do varejo vão ficar ainda maiores do que já estão.

O superintendente da Asso­ciação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, considerou que processos de concentração são irreversíveis, mas ressaltou a importância de haver regras que protejam o consumidor. Uma pesquisa realizada pela Acrimat, junto com o Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), mostrou que, nos últimos cinco anos, enquanto a arroba do boi gordo se valorizou 85%, as peças comercializadas no varejo aumentaram 142%. "Alguém precisa ficar de olho nisso", alertou Vacari.

O executivo de uma grande fabricante de bebidas, que preferiu não se identificar, declara que toda concentração no varejo é ruim para o setor industrial. "Podemos perder nosso poder de negociação", afirma. "Mas vamos esperar o que vai acontecer, porque ainda há a briga entre os acionistas do Pão de Açúcar", completa, referindo-se ao grupo francês Casino, que hoje é sócio de Abilio Diniz no Pão de Açúcar e teria o direito de assumir o controle da rede em 2012. O Casino prometeu vetar a negociação, que na prática anularia a opção de controlar o Pão de Açúcar e ainda por cima reduziria sua participação na rede brasileira.

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