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Elatia Abate, especialista em mercado de trabalho
Elatia Abate, instrutora da Universidade de Stanford e especialista em futuro do trabalho| Foto: Divulgação/Bret Josephs

Curiosidade, resiliência e empreendedorismo são características fundamentais para um mercado de trabalho que está em constante modificação. É o que aponta Elatia Abate, instrutora da Universidade de Stanford (EUA) e especialista em futuro do trabalho.

Com experiência na liderança de gestão de pessoas do Wall Street Journal, AB Inbev e Dow Jones, ela destaca que as pessoas precisam ser protagonistas de sua carreira - ser o capitão -, buscar oportunidades continuas de mudar e agregar valor ao que faz e saber integrar vida e trabalho.

A ideia de que a gente tem uma vida feliz, se não estamos felizes no trabalho, é totalmente louca. Passamos mais de 50% do nosso tempo fazendo atividades relacionadas ao trabalho. Então, a busca é por trabalho que está alinhado com aquilo que a gente valoriza.

Elatia Abate, instrutora da Universidade de Stanford

Leia mais na entrevista concedida à Gazeta do Povo:

O profissional que pretende ter uma graduação, trabalhar em uma única empresa e com endereço fixo está com os dias contados. Como sobreviver em um mercado cada vez mais complexo?

Quando saí na minha jornada sobre o futuro do trabalho, que comecei em janeiro de 2017, eu coloquei tudo o que tenho, exceto o que cabe em uma bagagem de mão, em um armazém. O objetivo foi o de buscar respostas à pergunta: como você vai emponderar as pessoas?

Existe uma distinção do que é absolutamente fundamental para ajudar as pessoas não apenas a sobreviver - porque sobreviver é apenas algo muito limitado -, mas sim em prosperar. É a distinção entre capitão e cativo.

A gente pode se deixar ser cativo frente às circunstâncias de mercado, de nossa empresa, da sociedade. Enfim, simplesmente ficar esperando o que vai acontecer. Ou a gente pode assumir o papel de capitão, fazendo uma pergunta mais crítica: dado tudo isto onde a gente está, o que queremos criar? O que eu quero fazer com esta situação atual? Esta aqui é a pergunta chave, a distinção entre capitão e cativo.

Quais exigências a globalização está impondo aos profissionais atuais? E aos do futuro?

A palavra exigência me parece uma coisa dura, que está demandando da gente. Eu enxergo isso como um convite: quais os convites que a globalização e a tecnologia está nos trazendo para melhorarmos enquanto pessoas, para criarmos coisas de valor no mercado? Ao invés de exigências impostas, convites colocados. O mais importante de tudo é a resiliência.

Sim, a gente pode aprender inglês ou outra língua! Sim, a gente pode aprender codificação! Mas, mais do que isto, a gente tem de ficar cada vez mais curioso no sentido de entender o que está acontecendo aqui, no mundo, no mercado e como está impactando meu mundo. Existe algum problema aqui na sociedade que poderia ajudar a resolver? E, daí, como colocar isso em ação?

Este mundo que parece estar ali na frente, já está aqui hoje. Não estamos falando de um momento futuro, que temos de esperar 5, 10, 20 anos para acontecer. O convite é para ficarmos mais curisosos, buscando a oportunidade da gente melhorar e criar mais valor por meio desses conhecimentos.

Podemos esperar mais diversidade nos ambientes de trabalho? As empresas irão selecionar o candidato mais atrativo para a vaga em questão, sem se importarem com gênero, idade ou com o lugar onde este profissional vive, mesmo que seja a quilômetros do escritório?

Acho que além de esperar, a gente tem que demandar mais diversidade nos ambientes de trabalho. Por quê? Porque cada vez mais, as empresas que existem hoje são de tecnologia. Querendo ou não, mesmo o Domino's, que vende pizza, é uma empresa de tecnologia que, por acaso, entrega pizza. Então, quem está fazendo as programações? Quem as criando os algoritmos? Se a gente não começa a criar esses algoritmos com mais diversidade, a gente cai em resultado que vai ser menos diverso.

Os modelos que eu ensino às empresas, que eu divido com as empresas, principalmente sobre recrutamento e seleção é que a gente está mudando de um modelo onde se buscava pessoas apenas nas melhores escolas para o modelo que se buscam as melhores pessoas mesmo.

Isto a gente já vê isso no mercado. Google, Apple, EY muitas outras empresas já jogaram fora o critério de você já ter se formado para poder tentar uma vaga. Um diploma não é um bom indicador se você vai ser bem sucedido no mercado de trabalho. Agora, então, elas estão em busca sempre melhores profissionais independendo do caso, ao invés de se concentrar nas escolas.

A tecnologia vai abrir a possibilidade de times no mundo inteiro nos cantos mais longínquos possíveis juntarem as melhores pessoas para exercerem as funções requeridas.

Sobre flexibilidade: trabalhar de qualquer lugar fora do escritório será permitido com mais frequência? Será uma ação encorajada pelas empresas?

Acho que a gente tem de falar da integração entre trabalho e vida. As estatísticas, desde 1986, quando o Gallup e outras empresas começaram a medir o engajamento nas empresas, são horríveis. Mundialmente, mais ou menos 87% das pessoas estão desengajadas no trabalho.

A ideia de que a gente tem uma vida feliz, se não estamos felizes no trabalho, é totalmente louca. Passamos mais de 50% do nosso tempo fazendo atividades relacionadas ao trabalho. Então, a busca é por trabalho que está alinhado com aquilo que a gente valoriza.

A gente não precisa mais separar o que é trabalho da vida, porque trabalho é uma extensão da  gente como ser humano e a realização do ser humano. É preciso integrar as duas coisas.

E quanto aos horários?

Quanto aos horários, a grande maioria perde muito tempo, muita eficiência com reuniões. Esta semana vi em algum canto, não sei se foi em Harvard, falando da ineficiência das reuniões.

Acho que, quanto a horários, esse negócio de a gente entender essa integração (entre vida e trabalho) vai ser cada vez mais importante. A criação de acordos de quando o trabalho acontece ou é esperado vai ser mais importante também.

Frequentemente se fala que 70% a 80% das crianças de hoje trabalharão em funções que não existem: O que se deve fazer? Como se preparar?

Esta é uma das perguntas que mais me fazem: o que devo fazer com meu filho? A resposta curta é que quase não importa! Vai ter tanta mudança! Quase ninguém exerce aquilo que estudou na faculdade. Eu mesmo me formei em ciências políticas e nunca exerci a profissão. Uma coisa é fundamental: praticar a resiliência! Colocar os seus filhos em lugares onde tenham a oportunidade de lidar, sobreviver e prosperar frente ao desconhecido. Isto é mais fundamental do que qualquer outra coisa

O passado do trabalho era assalariado. O futuro, empreendedor: seja dentro de uma empresa que demanda que as pessoas tenham esse perfil, seja por necessidade ou desejo. As pessoas criarão empresas escaláveis, e também irão em direção ao trabalho freelancer. Então, é preciso entender o que é empreender, como que funciona, quais são os conceitos básicos como fluxo de caixa, nicho de mercado, etc, etc. Para preparar as crianças e nos preparar vai ser preciso: resiliência, resiliência e resiliência. E, em segundo plano, esse conceito empreendedor.

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